quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Como se a crise financeira que abalou e abala o mundo não bastasse, com o mercado bolsista a perder biliões, empresas em grandes dificuldades com o consequente espectro do desemprego e com este, todos os problemas de ordem social que o acompanham, insegurança, assaltos, fome, miséria, e por aí fora. Como se tudo isto não chegasse, somos todos os dias brindados com escândalos que atingem pessoas e instituições que nós considerávamos acima de qualquer suspeita.
O Marquês de Wall Street Dom Bernardo Madoff, ex-presidente do Nasdaq, a bolsa onde se agrupam as maiores empresas tecnológicas da América e do mundo inteiro, considerado um guru da alta finança mundial, não passava afinal duma dona Branca com o colarinho da mesma cor, conseguiu angariar dinheiro em todo o mundo e deixou um buraco de 50 000 milhões de dólares.
No Condado Portucalense, instituições respeitáveis como o BCP, cujos administradores pagos a peso de ouro (entre 2002 e 2008 a administração recebeu em média entre ordenado e prémios cerca de 160 milhões de euros por ano), como se isso não bastasse e apesar de toda a respeitabilidade que mostram ao povo, quando entram e saem das reuniões com aquele ar majestoso e imperturbável, para se sentarem no banco de trás de um BMW série 7 ou num Mercedes classe S, quando aparecem em chás de caridade normalmente transmitidos pela televisão, acompanhados por anafadas esposas embrulhadas em visons e a tresandar a chanel nº 5, quando ao domingo cumprem a obrigação da missa na primeira fila, quase sempre em catedral e em cerimonia dita por bispo ou cardeal, apesar de tudo isso, digo eu, gravíssimas irregularidades foram detectadas, havendo investigações em curso por parte do banco central, da judiciária e do ministério publico. Tudo isto porquê? O que leva pessoas que já não conseguem gastar aquilo que têm de podres de ricas que são, a comportar-se desta maneira?
O homem forte do BPN está preso! Deixou o banco num estado tal, que teve de ser nacionalizado para evitar males maiores. Ex-secretário de estado de um dos governos do Barão de Boliqueime Dom Regressado Silva, envolveu nos negócios alguns companheiros da política, o mais mediático dos quais é o Visconde de Coimbra Dom Dias Matreiro, cujo enriquecimento exponencial desde que saiu da política, deixou os portugueses com a boca aberta de espanto! A sua proximidade com o actual presidente do condado Portucalense, pelo qual foi convidado para conselheiro de estado, tem provocado imensas especulações e levou mesmo à emissão de alguns comunicados e desmentidos. O “cavaquismo” período histórico do condado Portucalense, que decorreu entre 1985 e 1995, tem vindo à baila ultimamente e nem sempre pelas melhores razões, motivado por comportamentos que alguns dos actores principais da época têm tido.
Salvo as devidas distâncias, não resisto em encontrar um certo paralelismo entre o que escrevi acima e o que se passa no reino de Valdecacos. O povo (depositantes e pequenos accionistas) viu o seu património completamente desvalorizado e está de tanga. Os administradores (governantes) somam e seguem de vento em popa, rumo ao eldorado duma reforma sem sobressaltos.
Há trinta e quatro anos fez-se uma revolução no condado Portucalense, que acabou com uma ditadura obsoleta, que mantinha uma guerra sem solução à vista e nos isolava da comunidade internacional. Muita coisa melhorou desde então, a guerra acabou, a liberdade de expressão é uma realidade (embora por vezes ainda existam tiques censórios nalguns governantes). Quanto a privilégios, alguns acabaram é certo mas outros se foram instalando, então aqui no reino de Valdecacos em que o poder é mono color desde a revolução de 1974, algumas fortunas se fizeram, muitas vidas se arranjaram, muitos cargos se ocuparam, mas todos tinham um denominador comum, a cor laranja. Estes foram os que no reino de Valdecacos verdadeiramente lucraram com o 25 de Abril. Não consta que qualquer deles tivesse no passado desenvolvido qualquer actividade anti-fascista ou oposicionista, por pequena que fosse. Antes pelo contrário…


Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 23 de dezembro de 2008