quinta-feira, 10 de maio de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE

Quando na última crónica escrevi que no reino de Valdecacos da maneira como as coisas estão encaminhadas, os jovens têm que ir para fora ganhar a vida, pois quando muito apenas haverá futuro para meia dúzia deles com cartão laranja, esqueci-me de caracterizar esses celebres cartões que no reino de Valdecacos são na maioria das vezes a chave mestra que dá acesso aos subsídios, aos favores, ao emprego, e por vezes ao poder.
Há pois vários tipos de cartões laranja, mas nem todos levam a determinados lugares e alguns primam mesmo pela exclusividade de se contarem pelos dedos, as pessoas que deles são titulares.
O cartão laranja-platina, o mais exclusivo de todos dá entrada nas altas esferas do poder, não só no reino de Valdecacos mas também em todo o Condado Portucalense, e mesmo na Europa e no mundo. Dá acesso a ordenados fabulosos, gordas contas bancárias, mordomias de toda a ordem, carros topo de gama com chofer, dá direito a tratamento por sua excelência, etc, etc, etc.
São titulares destes cartões o Barão do Lila Dom Furão Barroso, a Baronesa do Terreiro Dona Expropriação Esteves e o Presidente da Fundação do Oriente Dom Staneloy Ho.
O cartão laranja-ouro, serviu para alavancar a carreira de muito boa gente, que sem o dito cujo nunca teria passado da cepa torta. Bons ordenados, reformas e mordomias nunca imaginadas ficaram ao alcance dos titulares deste cartão, cuja importância todavia se restringe às fronteiras do reino. É o cartão mais desejado pelos elementos da nomenclatura laranja, e muitos mantiveram-se militantes ao longo dos anos, na vã esperança de lhes tocar algum, mas poucos foram os escolhidos.
São titulares destes cartões o Presidente das Cortes Dom Juanito de La Bisabuela, o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, o Visconde de Celeirós Dom Toninho Castanheiros, o Visconde de Valverde Dom Vitinho Córócócó, o Cobrador Mor do Reino Dom Gigio, o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, entre outros.
A grande maioria dos membros da nomenclatura é titular dos cartões laranja-prata. Têm algumas mordomias de forma escassa e espaçadas no tempo, são convidadas para alguns eventos mais importantes e para defender o partido nas horas difíceis, têm direito a uma ou outra merenda ocasional, sendo-lhes nessas ocasiões incutida a esperança raramente concretizada de virem a obter o cartão laranja-ouro. São titulares do cartão laranja-prata, o Visconde dos Cossacos Dom Pernache da Lousa, o Visconde de Jales Dom Tides Mais Branco não Há, o Marquês de Fonte Mercê Dom Tonho, o Barão de Vila do Pelo Dom Daniel sem Papel, a grande maioria dos alcaides, o Visconde da Régua Dom Farinheira Medes, o Conde de Paradela Dom Sebentino Melkes, o Visconde da Arreigada Dom António Barbarossa, o Conde de Argemil Dom Gualteriano Peixeira, etc, etc, etc.
Vem a seguir o cartão laranja-laranja, por muitos considerado o verdadeiro e puro cartão, cujos titulares são o povo crente e anónimo que ao longo dos anos com o voto tem sustentado esta classe politica e alguns que deram o litro, a saúde e até a própria vida, a troco de coisa nenhuma, com sejam o Dom Quintanilha da Triste Memória, o Duque de Argemil Dom Zé dos Diabos que chegou a ter assento nos órgãos nacionais, o Duque de Montenegro Dom Júlio da Abadia, e o filho do Visconde da Foz, Dom Julinho Pimentel.
Vem a seguir na ordem de importância o cartão laranja-rosa, cujos titulares são aqueles que mudaram de campo e de partido por motivos óbvios, como por exemplo, o irmão de Dom Caím Conde do Cutelo Melhor, o escriva do boletim oficial do reino Dom Quixote de La Silva e outra figuras menores.
No fim da escala está o cartão laranja-ás-riscas, ou como diz o povo “cor de burro a fugir”, cujos titulares são “personas não gratas” dentro do partido, mas que teimam em continuar apesar da grande maioria dos militantes os quererem ver pelas costas. Entre outros são titulares deste cartão o Marquês de Viagreta Dom Geninho Três Ais, e o Visconde de Alfarelos filho de El rei Dom João VI.



PS: O Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, numa das inúmeras entrevistas que tem dado ultimamente, eximindo-se de qualquer responsabilidade na crise que atravessamos e fazendo um balanço da sua longa passagem pelo poder, disse que augura um futuro brilhante para o reino de Valdecacos.
Todos nós gostaríamos de acreditar nisso, mas o problema é que o Dom Xico Mirandum é um personagem por todos nós conhecido há demasiados anos, e todos nós sabemos que em termos de ordem politica a verdade é “coisa que não lhe assiste”.


Até Breve

Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 20 de Abril de 2012