quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


Esta é a crónica de uma morte anunciada. A notícia chegou dura, fria, breve e seca. O Marquês do Correio Velho Dom Rubio Soutinho faleceu vítima de doença prolongada.
Personagem há uns anos arredado destas crónicas, foi um destacado natural do reino de Valdecacos que correu mundo, vencendo inúmeras batalhas contra um destino que por vezes lhe foi adverso, mostrando sempre uma vontade e uma perspicácia fora do comum.
De Angola à Africa do Sul, do Brasil a Espanha, dos reinos da Maia a Valdecacos, a sua vida daria um filme em que se conjugariam todos os géneros cinematográficos, desde a aventura à guerra, do ódio à paixão, do drama à comédia.
Foi ele o pilar em que assentou a geminação dos reinos da Maia e Valdecacos, quando nos tempos áureos do cavaquismo, se movimentava como peixe na água nos círculos do poder.
Amigo dos amigos (poucos), implacável com os inimigos (alguns), amigo dos prazeres da vida e da mesa, ficaram célebres algumas festas de aniversário em que chegou a juntar algumas centenas de pessoas em lautos almoços e jantares.
Crítico da “abrilada” (25 de Abril), fazia questão de se ausentar todos os anos do condado Portucalense no dia 24 regressando apenas a 26 de Abril. Nas curtas estadias que ao longo dos anos passou no reino de Valdecacos, costumava juntar um grupo de amigos da velha guarda em opíparos lanches que se prolongavam por tardes inteiras e por vezes continuavam noite fora, a que chamava reuniões do “Conselho da Revolução” numa paródia conseguida ao dito cujo, onde na altura pontificava o Rosa Coutinho conhecido como o “Almirante Vermelho”, a quem o Marquês do Correio Velho Dom Rubio acusava de ter entregue o reino de Angola aos comunistas.
Eram membros efetivos do Conselho da Revolução de Valdecacos o Dom Rubio, o Dom Armandinho, o Dom Maximiano, o Dom Amândio e o Dom César, seguindo-se como suplentes o Dom Abreu e o Dom Aguiar, e como observadores o Marquês de La Frontera Dom Corleone de La Mancha e o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña. Havia depois alguns personagens que de acordo com as circunstâncias e os humores do Dom Rubio eram esporadicamente convidados para algumas reuniões do Conselho.
A todos o Dom César batizava, e não foi fácil conseguir esta informação, mas deixo-vos algumas das nomeadas que ele utilizava e a vossa imaginação que as correlacione com as personagens respetivas.
O Caudilho, o Chalato, o Vilaranda, o Lafusco, o Guiças, o Sineiro, o Carqueja, o Pelinhas, etc, etc.
Já não resta nenhum dos membros efetivos do Conselho da Revolução de Valdecacos, é mais um virar de página na historia deste reino, que mais de 20 anos depois da geminação com o reino da Maia, tem visto outro gémeo a crescer em população e em desenvolvimento, enquanto nós vamos definhando e empobrecendo alegremente, sem que se vislumbre uma alternativa às politiquices que nos levaram a esta situação, o que me lava a pensar que o reino de Valdecacos mais que um Conselho da Revolução, precisa de uma revolução no concelho.
Ao fim de 42 anos no reino de Valdecacos o Arcipreste Dom Papalves rumou ao reino de Perafita, para um merecido descanso. Algumas atitudes polémicas e o feitio barrosão causaram dissabores a alguns paroquianos e ao próprio. Num percurso tão longo no tempo tem forçosamente que haver altos e baixos, e tal como Salazar, mentor de alguma igreja antiquada e retrograda, quando se permanece em cargos de chefia ao longo de décadas, normalmente as entradas são de leão e as saídas nem por isso!
Seja como for, o largo da igreja do reino de Valdecacos não voltará a ser o mesmo sem o Arcipestre Dom Papalves de um lado e o Marquês do Correio Velho Dom Rubio Soutinho do outro.
Que o Dom Papalves encontre finalmente a paz de espirito que as beatas e os beatos aqui nunca lhe permitiram ter, e que o Dom Rubio Soutinho reúna rapidamente o Conselho da Revolução lá no céu, pois o Dom Armindo dos Possacos arranjou lá um cantinho aprazível onde todos já se encontram à espera, para uma tarde bem passada.

 

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 10 de Novembro de 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

CRONICAS DO REINO IV SÉRIE

Aí vamos nós, a passos largos, a caminho de mais um inverno do nosso descontentamento. O Condado Portucalense, exausto e exangue com tanta austeridade imposta pela TROIKA e executada e agravada pelo governo do Marquês de Vila Real Dom Passos Guedelho, está praticamente moribundo.
Do Minho aos Algarves, o povo saiu à rua, protestando contra as péssimas condições de vida a que se encontra sujeito, em manifestações com uma participação e grandiosidade que já não eram vistas desde o 1º de Maio de 1974.
Mas se o Condado Portucalense está moribundo devido à crise e às exageradas medidas de austeridade que estão a matar a economia, o reino de Valdecacos já morreu há mais de uma dúzia de anos, devido à falta de uma estratégia de desenvolvimento e às políticas erradas de quem nos tem (des) governado.
Se a grande maioria das pessoas em idade produtiva e reprodutiva já abandonaram o reino, por aqui não encontrarem condições de trabalho, emprego e sobrevivência, ficaram apenas uns milhares de zombies que deambulam de um lado para o outro, entre as sedes do governo e da confraria, em busca de um subsídio ou de uma merenda gratuita.
“Com festas e bolos se enganam os tolos”. Aí está uma realidade sempre presente nos últimos trinta anos no reino de Valdecacos. Não houve uma única inauguração desde o mais humilde chafariz até às escolas mais importantes, passando pelas sedes de cada uma das trinta e uma alcaiderias do reino, por estradas e calcetas, por pavilhões desportivos e multiusos, por lares de terceira idade e centros de dia, piscinas quentes e frias, quarteis da polícia e da G.N.R, universidades, bibliotecas, feiras e romarias, tudo isto serviu para os políticos se exibirem e mostrarem aos “tolos” como se preocupam com eles.
Assim fomos todos de inauguração em inauguração, de festa em festa, até ao descalabro total.
As festas assim como os centros comerciais, são no sec.XXI o bodo e o palácio dos pobres. Há-de chegar o dia em que os “tolos” vão ganhar juízo e perceberem o quanto foram enganados e abusados ao longo dos tempos. Os milhares de jovens desempregados, que esperança podem ter num reino empenhado para os próximos trinta anos, pelos gastos excessivos e descontrolados de meia dúzia de pessoas apenas interessadas no seu conforto pessoal e na sua família política?
Quando o governo do Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum se envolveu descaradamente e utilizando métodos pouco ortodoxos e de caciquismo primário no apoio a uma lista para a direção do agrupamento escolar de Valdecacos, sabia ou não sabia que alguns membros dessa lista estavam a ser alvo de um inquérito, por ações praticadas em conselhos diretivos anteriores?
Corre à boca cheia que o resultado da inspeção não propõe nenhum louvor aos visados antes pelo contrário! E agora? Qual a justificação? E os alunos? Alguém pensou neles?
O presidente das cortes Dom Juanito de La Bisabuela, que diz a toda a gente que a Baronesa do Terreiro Dona Expropriação Esteves nunca fez nada pelo reino de Valdecacos, acha que conseguirá fazer alguma coisa na enrascada em que se meteu o irmão de Dom Caím Conde do Cutelo Melhor?
Teremos foguetes novamente? É claro que sim, pois este reino é uma festa e com “festas e bolos se enganam os tolos”.

 

PS: “Entre o governo que faz o mal e o povo que o consente há uma cumplicidade vergonhosa”, Vítor Hugo.

Até Breve

Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 12 de Outubro de 2012