terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O REINO DE VALDECACOS

A globalização mundial, fenómeno que desde há uns anos a esta parte, tem tido seguidores fervorosos e detractores militantes, é uma realidade, e o nosso reino de Valdecacos apesar de isolado e esquecido neste nordeste peninsular, não escapou ao fenómeno e pelas piores razões.
A crise financeira que começou no poderoso reino da América do Norte, atravessou o Atlântico e o Pacifico como uma enorme e contaminante mancha de óleo, provocando incomensuráveis perdas nos mercados bolsistas da Ásia e da Europa, levando ao desmoronar do sistema financeiro donde o dinheiro desapareceu como que por magia, tendo os governos de todos os reinos que injectar biliões e biliões, para tentar salvar um sistema arruinado pelas asneiras feitas pelos ricos, com a finalidade última de que os pobres não ficassem ainda mais pobres. Ironia das ironias!!!
A uma época de dinheiro fácil, de acesso ao crédito por telefone, de automóvel a prestações, de vá de férias e pague depois, de compre casa e logo se verá, estamos agora no reverso da medalha, com as famílias endividadas, em situação de completo sufoco financeiro, incapazes de cumprirem contratos assinados e em risco de ficarem sem nada.
Os empresários de construção civil e obras públicas do reino de Valdecacos, que na sua esmagadora maioria foram e são um suporte do poder instituído (porque será?) e que vêm as obras particulares a diminuírem mais de noventa por cento por causa da crise, andam abalados uns, de orelha murcha outros, com a corda na garganta outros ainda e outros mais encerraram a actividade. Como consequência de tudo isto os operários de construção civil, praticamente a única força de trabalho e de consumo de todo o reino de Valdecacos, pois excluindo estes, apenas restam muitos velhos e algumas crianças, deixaram de fazer compras em estabelecimentos, de frequentar cafés e restaurantes e imigraram muitos deles. Esta autêntica bola de neve está a ter consequências terríveis na economia do reino. Está pois na altura dos empresários de construção cobrarem do governo do reino o apoio dado ao longo dos anos, exigindo tratamento preferencial nas obras públicas de Valdecacos.
Outra situação incontornável e que terá certamente influência no mundo inteiro, é como não podia deixar de ser o acto eleitoral ocorrido no reino da América do Norte e da vitória retumbante e portadora duma mensagem de mudança e de esperança, do Visconde do Illinóis Dom Barraca Abana. Num país em que a abolição da escravatura provocou uma guerra civil, num país em que os direitos cívicos dos negros eram brutalmente desrespeitados, num país em que o famoso e barbaramente assassinado activista dos direitos cívicos Martin Luther King fez o famoso discurso “I have a dream”, que significa “eu tenho um sonho”, sonho esse que eu tenho a certeza irá ser cumprido pelo novo presidente eleito Dom Barraca Abana. A eleição dum negro, dum Afro-americano, para governar o reino mais poderoso do mundo, é uma lição de democracia, representa a esperança do mundo inteiro e demonstra uma poderosa vontade de mudança. As expectativas são enormes, não nos devemos todavia esquecer que foi eleito apenas um governante e que os povos não devem acreditar em salvadores ou messias. Tal como ele próprio disse no discurso da vitória, “a estrada que temos pela frente é longa” e “a montanha que temos de subir é íngreme”. Nestes tempos conturbados os povos de todo mundo têm os olhos postos neste homem. Oxalá ele contribua para a paz e para o desenvolvimento do seu reino e de todos os outros.




PS: tenho a certeza absoluta assim como os meus caros leitores terão também, que se o Visconde do Illinóis Dom Barraca Abana, viesse ao reino de Valdecacos disputar as próximas eleições com o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum seria estrondosamente derrotado. Mais palavras para quê?


Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 25 de Novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O REINO DE VALDECACOS

O órgão mais nobre do corpo humano é o cérebro, encontrando-se protegido dentro duma estrutura óssea chamada crânio, que em conjunto com a face formam a cabeça, que para alem de regular e comandar as funções do nosso organismo, produz ideias, pensamentos, elabora raciocínios, toma decisões e faz descobertas. Desde o fogo, à roda, desde a escrita, à imprensa, o comboio, o automóvel, os computadores, o avião, a pólvora, o cimento, as vacinas, etc. etc. etc… Tudo isto é fruto do cérebro de homens que aprenderam, investigaram e se apoiaram nos conhecimentos que toda a humanidade foi adquirindo ao longo da sua evolução. Dir-me-ão vocês que conhecem algumas pessoas, principalmente políticos, gestores, directores ou chefes, que são os que dão mais nas vistas, que parece não terem a cabeça a funcionar, mas sim o tronco ou os membros. Vindas do tronco as decisões tomadas pelo coração podem resultar ou não, é sempre uma incógnita, as tomadas pelos “maus fígados” terão invariavelmente terríveis consequências pela certa. Vindas dos membros superiores, do órgão que acaricia e aconchega, também pode sair murro e chapada. Dos membros inferiores, só mesmo decisões à biqueirada ou à parelha.
Principalmente devido à evolução das artes bélicas, quando se verificou que os ferimentos na cabeça eram os que mais punham em risco a saúde e vida dos guerreiros, foram-se inventando e desenvolvendo protecções, que todos nos conhecemos, não só de filmes épicos que se foram realizando ao longo dos tempos, mas também de famosas series de televisão. Todos nós conhecemos os elmos e armaduras dos Vikings, dos Romanos e dos cavaleiros da Távola Redonda. Em fins do sec. XIX começou a desenvolver-se um novo tipo de protecção chamado capacete, que evoluiu e assumiu várias formas e feitios na primeira e segunda guerra mundiais, e hoje podemos vê-los no Iraque, altamente sofisticados, recorrendo a fibras sintéticas leves e resistentes, com luz própria e binóculos de visão nocturna.
As cores também variaram com o tempo e a função. Quem não conhece os capacetes azuis da ONU (força de manutenção da paz das nações unidas). Quem não conhece os capacetes dourados dos bombeiros ou os brancos da polícia militar? E os capacetes amarelos de plástico dos operários da construção civil ou os capacetes negros de carvão com a luz a brilhar dos mineiros?
No reino de Valdecacos, logo após a revolução de Abril, quando Dom Quintanilha da Triste Memória, começou a arregimentar militantes para o partido laranja por todos os recantos do reino, serviu-se dos “capacetes verdes” (taxistas, assim designados devido à cor da capota da viatura na época), como testas de ferro. Na zona sul do reino, as tropas eram comandadas por Dom Viriato Transmontano, Barão dos Vales (não tem nada a ver com o Viriato das Beiras que chefiou os lusitanos contra o invasor de Roma). Na zona norte do reino essa tarefa era desempenhada por Dom Simãosinho Mandarim, Visconde de Ervões, com o cognome de o Chinês, não sei se por causa da apetência pelo jogo, se pelos traços fisionómicos orientais.
Trinta e quatro anos depois, Dom Xico Mirandum convocou todos os taxistas do reino, agora sem “capacete verde” mas cujo boné continua laranja e deu-lhes a recompensa merecida. Consta-se que lhes ofereceu um sistema de segurança ligado ao GPS, não sei se do próprio bolso, das contas do partido ou do erário publico.


PS: Alguns pretensos jornalistas do reino, fazendo coro com os da política da tanga, têm atacado investimentos públicos estruturantes, do governo do condado Portucalense, tais como o novo aeroporto de Alcochete e o TGV, por causa ou em consequência da crise. No Reino de Valdecacos onde a crise é cem vezes maior, ninguém fala do milhão de euros que irá ser gasto numa nova estrada para o povoado de Rio Morto, que tal como o próprio nome indica só está à espera do funeral. Que tal aplicarem essa verba em actividades que visem o repovoamento do reino?

Até Breve
Publicado no Jornal "tribuna Valpacense" em 28 de Outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O REINO DE VALDECACOS

Já lá vão seguramente quinze ou mais anos que foi dada à estampa a primeira crónica do reino, no entretanto extinto Jornal de Valdecacos, cujo director e proprietário Dom Segafredo Terroso, Barão das Padanas, viu como muitos outros hoje em dia a vida andar de roleta, tendo que procurar noutras paragens o sustento que aqui não conseguiu. Esta terra que tão bem trata os políticos que estão no poder, onde ganham chorudos ordenados que não investem cá, tem sido por vezes bem madrasta para os seus próprios filhos. Poderia dar-vos inúmeros exemplos de filhos da terra que tiveram de ir embora para governar a vida, todos vós conheceis situações dessas, multiplicai-as por todos e cada um de nós e vede a situação catastrófica a que chegamos…
Por outro lado, observai as instituições do reino de Valdecacos, as pessoas que lá trabalham, principalmente os que chefiam, os quadros técnicos e superiores, sejam eles políticos, gerentes, chefes de divisão, de repartição, de posto, engenheiros, médicos, enfermeiros, professores, directores, presidentes, tudo gente com ordenado a rondar o meio milhar de contos e alguns “upa upa”. Qual a percentagem deles mora no reino e investe cá? Dez por cento? Que tipo de atractivos terão que ser criados para esta gente? Que exemplo é que estas pessoas que ocupam a escala média-alta da sociedade dão ao povo?
O sentimento de desertificação e de descalabro económico-financeiro, intensifica-se neste mês de Setembro, de forma abrupta logo após as festas do reino. Quem percorre as ruas de Valdecacos logo após o jantar, agora que as noites começam a arrefecer e um friozinho nos entra até aos ossos ainda pouco agasalhados, julga-se um personagem dum qualquer filme de suspense do Alfred Hitchcok, movimentando-se no meio do silêncio e de sombras.
A capital do reino de Valdecacos, com o título de cidade e desde há vinte e cinco anos imaginada, projectada, arquitectada, saneada, empedrada, alcatroada, requalificada e governada mas não habitada por um homem, o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, é o exemplo cabal de tudo o que escrevi até aqui. Imaginai um casal, homem e mulher (que agora andam para aí a falar noutras uniões), que tomam juntos o pequeno-almoço e almoçam também um com o outro. Não discutem muito a situação familiar pois ele é do género “posso quero e mando”, tendo ela de ficar-se pelo “cala e consente”. Ao fim da tarde fazem um lanche rápido, ele levanta-se dá-lhe um beijo na cara, diz até amanhã, jantando e dormindo fora de casa há vinte e cinco anos.
Qualquer conselheiro matrimonial diria que é impossível uma relação destas comemorar as bodas de prata, no entanto é o que se verifica entre Dom Xico Mirandum e a capital do reino. Vocês conseguem imaginar a carência desta terra tratada desta maneira vai para um quarto de século?
A capital do reino precisa dum homem, que a convide para jantar à luz das velas, no menu cabe bem um cabritinho de leite da serra de Santa Comba, com batatinhas novas assadas no forno e grelos salteados. Tudo isto regado com um tinto “encostas do rabaçal reserva”, servido em balão de cristal, para brindar no momento certo. Dum homem que a leve depois a passear ao jardim que lhe pegue na mão com delicadeza, que suba com ela as escadas do coreto, e lá em cima olhos nos olhos, sob os raios do luar que atravessam as palmeiras centenárias lhe jure amor eterno. Dum homem que a leve em seguida ao “calheia-bar”, para relaxar um pouco com a música ambiente, beber umas caipirinhas como só o Toni sabe preparar, observar a juventude do reino, auscultar os seus anseios e preocupações. Dum homem que a leve depois a dançar à “quinta D. Adelaide”, magnifico espaço construído pelo Barão da Torralta Dom Teotónio Limões, dar um revigorante mergulho na piscina já de madrugada, com as luzes todas acesas naquele espaço envolvente digno de uma história das mil e uma noites, amando-a de seguida na relva até o sol raiar.
O futuro do reino de Valdecacos estará então garantido, não mais haverá lojas vazias, vivendas e andares encerrados, os filhos multiplicar-se-ão, voltaremos a ouvir o alarido das crianças no recreio das escolas e as pessoas dirão com orgulho, eu vivo no reino de Valdecacos.
PS: Aqui há dias passei no largo do Perdido, e fiquei agradavelmente surpreendido pelo conjunto da casa e jardim onde habitam o Visconde da Foz Dom Pimentel da Botica e respectiva família. Aí está um exemplo de amor à terra que deveria ser seguido por todos (particulares e instituições). Daqui envio os meus sinceros parabéns pela obra realizada, em particular à esposa do Visconde da Foz herdeira de antiquíssimas linhagens templárias.
Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 30 de Setembro de 2008

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O REINO DE VALDECACOS

Aproximam-se mais umas festas do reino de Valdecacos, e eu nem me atrevo a chamar-lhes festas de Nossa Senhora da Saúde, pois tenho o receio justificado de desonrar a memória de antigos membros da comissão de festas, homens de bem que já não estão neste mundo, que criaram as festividades, souberam dar-lhes um cariz popular, que ao longo de mais de oitenta anos as fizeram crescer em significado e importância, a ponto de se tornarem numa referência em todo o nordeste transmontano. Amor à terra e à camisola, carolice e alguma fé, levavam o povo a contribuir, sentindo como verdadeiramente sua a romaria da Senhora da Saúde.
Até que há pouco mais de vinte anos, as autoridades político-religiosas (leia-se a dupla Mirandum-Papalves), cada qual com os seus motivos, um injectando largas somas do dinheiro dos contribuintes, cujo retorno em votos foi mais do que evidente, o outro controlando o dinheiro do prato para obras eclesiais que pouco ou nada tinham a ver com a festa, oficializaram o evento, minimizaram o papel do povo, e depois de ver o cartaz de este ano com o programa das festas do reino há apenas uma palavra que me vem à cabeça e à cabeça da grande maioria dos habitantes da capital do reino: pimba! Vamos ter umas festas pimba!
O reino de Mirandum teve um festival aéreo com helicópteros e aviões a jacto, o reino de Valdecacos tem o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum integrando a procissão logo atrás do palio, em lugar bem destacado, estreando o tricentésimo nonagésimo quarto fato, feito por medida na alfaiataria Traços (masculino de traças, as únicas clientes além de Dom Xico, numa arte em vias de extinção, deixando o estilista num autêntico sufoco financeiro) e nós pimba nós pimba.
O reino de Mirandum teve uma noite com centenas ou mesmo um milhar de bombos, que fazem barulho e despertam consciências, o reino de Valdecacos tem o arcipreste Dom Papalves de megafone na mão, coordenando quatro bandas (Parafita incluída) vinte andores e quarenta anjinhos papudos, e nós pimba nós pimba.
O reino de Mirandum tem uma prova do campeonato europeu de Jet-Ski, o reino de Valdecacos tem uma taça luminosa no jardim público, que funciona aos domingos das 19 às 21 horas, quando não se esquecem de a ligar, realizando-se ocasionalmente campeonatos de triciclo à volta da mesma, e nós pimba nós pimba!
O reino de Mirandum tem a rota do azeite, o reino de Valdecacos tem a rota dos subsídios, e nós pimba nós pimba.
O reino de Mirandum tem dois pólos universitários, o reino de Valdecacos tem promessas e protocolos assinados, e nós pimba nós pimba.
O reino de Mirandum tem o IP4 futura auto-estrada A4, o reino de Valdecacos tem uma óptima ligação ao reino de Mirandum, e nós pimba nós pimba.
O reino de Mirandum tem várias indústrias de enchido típicos da região que são distribuídos por todo país e estrangeiro, o reino de Valdecacos tem uma das secções com maior número de militantes laranja da região, e nós pimba nós pimba.
O reino de Mirandum tem anualmente durante uma semana uma feira agro-industrial, com vários eventos que se realiza em recinto próprio, a Reginorde. O reino de Valdecacos tem uma feira idêntica, a Agropec que se realiza de trinta em trinta anos, a ultima foi em 1983 aguardemos pois pelo ano 2013, e nós pimba nós pimba.
O palácio dos Távoras no reino de Mirandum foi recuperado e é a sede do governo local, no reino de Valdecacos as casas solarengas da capital estão praticamente em ruínas e ninguém se preocupa, e nós pimba nós pimba.
No reino de Mirandum festas passadas e já se anuncia um espectáculo com Dom Toni das Carreiras campeão nacional de vendas e fenómeno de popularidade, no reino de Valdecacos em plena festa, na noite mais importante e como cabeça de cartaz vamos ter Dom Manolo De Mel, e na primeira fila com ar embevecido, orgulhoso da escolha feita e batendo palmas ritmadamente, o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor fazendo coro com o povo: e nós pimba nós pimba! E nós pimba nós pimba! E nós pimba nós pimba.


Até Breve
Publicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 02 de Setembro de 2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O REINO DE VALDECACOS

Estou a escrever no primeiro dia de Agosto de um verão incaracterístico, diferente dos anteriores, não só em termos climáticos mas também em termos de bulício, de negócios, de indústria, de comércio, enfim da vida no seu todo. O reino de Valdecacos bateu no fundo, bem no fundo, como nunca os seus habitantes puderam imaginar! Encontramo-nos de tal maneira depauperados e sem gente, que já nem os emigrantes conseguem fazer a diferença.
As esplanadas dos cafés estão vazias, as “voitures” de matrículas coloridas e com numeração esquisita já não param em frente aos comércios, nos talhos a carne fica nos frigoríficos, nas agencias imobiliárias ninguém procura terrenos ou apartamentos para comprar, os restaurantes “passam-se” com falta de clientela, o vinho o azeite e a castanha que são os três pilares da agricultura do reino, tiveram um ano péssimo para esquecer! E o que fazem os nossos políticos perante tamanho descalabro? O que pensarão eles da situação a que chegamos? Qual o sentimento que predominará na mente do Barão de Ferreiros Dom Xico Minrandum quando no Mercedes oficial percorre as ruas desertas do reino de Valdecacos e vê os comerciantes à porta sem nada para fazer? E o que sentirá, como aconteceu no fim-de-semana passado, quando chegou a casa no vizinho reino de Mirandum e vê uma cidade inundada por milhares de forasteiros, palco duma prova do campeonato europeu de jet-ski, com festival aéreo à mistura? Sentirá inveja? Sentirá vergonha? Ou sentirá a indiferença dos que sabem que o jogo está controlado e nada disto lhe afectará o poder?
O que sentirá o Visconde de Celeirós Dom Toninho Castanheiros, quando vê que os jovens da sua e das freguesias vizinhas têm de emigrar novamente por esse reinos da Europa, porque aqui não lhes foram criadas as condições para governarem a vida? O que sentirá quando todas as semanas, todos os meses, todos os anos, os velhos que ficaram e sempre lhe confiaram o voto, vão morrendo um a um (precisamente porque são velhos), sentirá pena? Acredito que sim. Sentirá que a sua vida está governada, que só fará mais um mandato, que quem vier depois que se amanhe? Também acredito que sim.
O que pensará o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, quando no Mercedes não oficial passa em frente aos stands ilegalmente localizados, no fim de quase três anos de responsabilidade pelo ministério do urbanismo? Pensará ainda mandá-los para a zona industrial, sítio isolado e sem características comerciais, condenando-lhes o negócio já de si fraco a extinguir-se por completo? Pensará que não tem poder para resolver a situação e fazer cumprir a lei? Sentirá que é uma questão de competência ou de falta dela?
O que sentirá o Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócóccó, quando vê abrir uma piscina com meia dúzia de anos de atraso, com balneários por acabar, e sendo a última e consequentemente mais moderna da região, é por toda a gente classificada como a pior, comparada apenas com as dos reinos limítrofes? Sente-se envergonhado? Ou espantado? Lá para o reino de Vila do Conde onde mora, não se vêem destas coisas não é? Pois…
O que sentirá a Baronesa de Campo D’égua, Dona Carmensita Tramas quando vê fotografias do pavilhão multidesusos de terras de Montenegro, já com evidentes sinais de degradação, uns meses após a inauguração? Incredulidade? Desespero?
O que sentirá o genro do Marquês de Vilarandelo Dom Tetantero, quando vê os jogos de poder e intrigas palacianas dentro da nomenclatura laranja? Surpresa? Repulsa?
O que sentirá a Marquesa da Fredizela Dona Suprema Bonçalo quando vê o povo perante toda esta situação manter-se manso, ordeiro, previsível e cacicado? Sentirá raiva? Incapacidade? Frustração?
Será este o estado de espírito dos membros do executivo do reino de Valdecacos, ou serão apenas conjecturas dum escriba, a quem o sol e a seca prolongados deram volta ao miolo?
Até breve.
Publicado no Jornal "Tibuna Valpacense" em 05 de Agosto de 2008

terça-feira, 29 de julho de 2008

O REINO DE VALDECACOS

Há situações cuja inevitabilidade parece saltar aos olhos de toda a gente, que são fatais como o destino, no dizer do povo com a sua proverbial sabedoria. Estou a falar do reino do Zimbabué e do último acto eleitoral que deu a vitória pela sexta vez consecutiva ao soba de Harare Dom Robert Mugabe.
Apesar do descalabro financeiro, da inflação galopante, das condições de vida duríssimas, do não cumprimento das mais elementares regras democráticas, da falta de emprego e segurança que leva milhares e milhares de cidadãos a procurar refúgio nos reinos vizinhos, apesar da pressão da comunidade internacional, aí o temos de novo, agarrado ao poder com unhas e dentes, sem novas ideias, sem novas soluções, sem novas politicas para inverter uma situação que caminha a largos passos para o abismo.
Dom Robert Mugabe é para mim e para muitos, o exemplo cabal do efeito que pode ter a longa permanência no poder. Indivíduos que inicialmente se apresentam ao povo como paladinos de ideais de justiça, honestidade, progresso, liberdade e tolerância, vão-se transformando aos poucos, vão construindo muralhas e barreiras que não servem o povo nem o progresso, mas apenas lhes asseguram e perpetuam o poder. Começam a ficar cegos para a realidade que os rodeia, julgam-se donos e senhores de toda a sabedoria e alguns até se convencem que são uma emanação do próprio Deus.
A oposição ao regime no reino do Zimbabué personificada por Dom Morgan Tsvangirai, Barão de Gutu, conseguiu este ano fazer tremer o poder, acabando por tomar uma atitude de desistência já perto das eleições, cujo significado e alcance só mais tarde poderemos compreender…
Também será fatal como o destino, a próxima recandidatura (salvo erro a sétima) do Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum à chefia do governo do reino de Valdecacos, assim como será uma inevitabilidade a sua vitória nas urnas e a continuação das politicas a que estamos habituados e cujo resultado está à vista de todos. A oposição que se movimenta num campo muito restrito, parece conformada com esta inevitabilidade e diga-se em abono da verdade que as perspectivas não são as melhores, em tempos de crise económica e social como estes que atravessamos.
A Marquesa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo, ocupadíssima com a reforma educativa, vai apagando fogos à esquerda e à direita e ateando contra-fogos que depois controla com alguma dificuldade! O Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña, tem muito com que se entreter (clientes), filhos para criar (pequenos) e a idade também já vai pesando… O visconde dos Cossacos Dom Filipe Pratumba, psicologicamente afectado com a falta de nicotina, de há um ano para cá o único trabalho que se lhe conhece é de queixos (chiclets). O Morgado de São Francisco Dom Catalone El Bone emocionalmente arrasado pela crise bolsista virou-se para os netos. O Marquês da Fronteira Dom Corleone de La Mancha só tem tempo para os vitivinicultores e seus agentes. O Duque de Manteigas Dom Joselito de La Estrela e Benfica deprimido com o quarto lugar do clube da luz no campeonato, transferiu o ardor benfiquista para o apoio à Ministra da educação e fá-lo com fervor tal, que deixa na maior das irritações o Barão de Águas Frias Dom Tino Flávia e o Barão do Tanque Novo Dom Jota Chitunda. Os homens da montanha, Dom Toninho de La Eira, também conhecido como Comandante Moustache e seu irmão Marquês de Rio Bom Dom Manolo de La eira, andam desaparecidos e desmotivados. O Alcaide de Valdecacos Marquês de Piscaneto, vai procurando dar resposta ás solicitações do povo da capital do reino, tarefa essa por vezes propositadamente dificultada pelo governo de Dom Xico Mirandum… Aproximam-se tempos difíceis…
Resumindo e concluindo: se a candidatura de Dom Xico Mirandum é inevitável, se a vitória do mesmo é fatal como o destino, se o jogo democrático está inquinado como todos sabemos (subsídios, pressões, favores, empregos, caciquismo), lanço a ideia a todos os partidos da oposição, que façam o mesmo que se fez no Zimbabué. Desistam das eleições à boca das urnas e deixem o Barão de Ferreiros governar só (orgulhosamente só) e dono de tudo no seu último mandato.

Até Breve
Plublicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 08 de Julho de 2008

terça-feira, 24 de junho de 2008

O REINO DE VALDECACOS


Estou a escrever em dia de eleições para a presidência no partido laranja no condado Portucalense. Aqui no reino de Valdecacos, onde por meras questões de vaidade e politiquice, a comissão politica local transferiu o apoio da Baronesa da Tanga Dona Manuela Azeda o Leite para o Visconde de Vila Real Dom Passos Coelhone, nota-se um movimento desusado de pessoas. Constou-me que o número de eleitores inscritos com capacidade para votar, passou de cerca de 250 há um ano atrás nas eleições que opuseram o Visconde de Gaia Dom Filipe Às Vezes ao Gandanóia , para mais de 500 na actualidade. Quem andou a pagar as quotas aos militantes? E com que fim? Todos sabemos porquê e eu não resisto em transcrever um texto escrito no século XIX por Júlio Dinis e cuja actualidade nos envergonha a todos no reino de Valdecacos.

“Atrás vinham os eleitores de Pinchões, velhos e moços, ricos e pobres, mas todos com o olhar tímido e estúpido, todos com movimentos enleados, todos com os olhos no caudilho, para saber o que deviam fazer; se ele parava a cumprimentar um amigo, paravam todos com ele; a direcção que tomava, tomavam-na todos a um tempo; apressavam ou demoravam o passo, segundo a velocidade que ele dava aos seus; se ria, sorriam; se praguejava, tudo ficava sério. O cortejo parou à porta da igreja. O morgado passou revista à sua tropa, à qual deu instruções. Os homens, com os cabelos para diante dos olhos, os braços estendidos e a cabeça baixa, não ousavam fazer um movimento e conservaram-se enfileirados até nova ordem do Sr.Joãozinho. Pareciam envergonhados de serem precisos a alguém. No bolso de cada um destes homens havia um oitavo de papel almaço dobrado, no qual estava escrito um nome; um nome de um homem que eles nem sabiam se existia no mundo. No momento devido, cada um deles, chamado pela voz do escrutinador eleitoral, respondia "presente" ; aproximar-se-ia da urna, entregaria ao presidente da mesa aquele papel e retirar-se-ia satisfeito, como se descarregado de um peso que o oprimia. Se lhes perguntassem o que tinham feito, qual o alcance daquele acto que acabavam de executar, não sabiam dizê-lo; se lhes perguntassem o nome do eleito para advogado dos seus interesses e defensor das sua liberdades, a mesma ignorância; se lhes propusessem a resignação do direito de votar, aceitariam com júbilo; se, finalmente, lhes dissessem que naquele dia estavam nas suas mãos e dos seus pares os destinos do país, abririam os olhos de espantados, ou sorririam com a desconfiança própria dos ignorantes.Inocente povo! Querem-te assim os ambiciosos, a quem serves de cómodo degrau.”

Até Breve


Publicado no jornal"Tribuna Valpacense" em 10 de Junho de 2008

terça-feira, 27 de maio de 2008

O REINO DE VALDECACOS

Nem a visita à Feira do Folar na capital, do reino de Valdecacos, salvou o Visconde de Gaia Dom Filipe Às Vezes! Depois de sete meses em que foi o bombo da festa dos barões laranjas, resolveu dizer que estava farto, bateu a porta com estrondo e foi-se embora deixando os laranjinhas do condado Portucalense à beira de um ataque de nervos.
Vários candidatos se perfilaram de imediato para a sucessão, mas apenas três mais um outsider estarão com hipóteses de êxito. São eles, a Baronesa da Tanga Dona Manuela Azeda o Leite, o Marquês do Parque Mayer Dom Santana Flopes e o Visconde de Vila Real Dom Passos Coelhone. O outsider é como não poderia deixar de ser o poderoso Barão do Funchal Dom Adalberto João. A luta promete ser renhida, cada qual conta as suas espingardas, uns apelando mais às bases e ao populismo (Santana Flopes), outros com apoios dos principais barões e da “inteligência partidária” (Manuela Azeda o Leite) a começar no Barão do Bonfim, Dom Peixeiro Pereira que foi um dos grandes responsáveis pela queda de Dom Filipe Às Vezes, com as criticas corrosivas no blog “Abrupto” e na “Quadratura do Circulo”. O Visconde de Vila Real Dom Passos Coelhone, perspectiva o futuro apoiando-se no passado sem pecados de governação, e piscando o olho ao poder autárquico. O Barão do Funchal Dom Adalberto João que nas ilhotas que governa já não tem mais nada para ganhar, nem para provar que é o maior, espreita a oportunidade de terminar a carreira politica em beleza, dando o salto para o continente, para com a truculência que lhe é habitual meter os “cubanos” na ordem.
A outrora poderosa e influente secção laranja do reino de Valdecacos, recheada de barões que tinham acesso às mais altas instâncias partidárias, encontra-se neste momento reduzida em termos aristocráticos ao Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, todo o resto é arraia-miúda. Com grande influência local, como o demonstram as sucessivas vitórias eleitorais, mas completamente apagado fora do reino de Valdecacos, e sem qualquer influência nas distritais ou nacionais laranjas…
Ciente disso mesmo, Dom Xico Mirandum, procurando aumentar um pouco a visibilidade fora do reino, achou que as próximas eleições directas para o partido, seriam uma excelente ocasião! Vai daí, aproveitando-se dos conhecimentos lisboetas do seu assessor Dom Pedro Morronel, Visconde de Alijó, mandou-o fazer uns telefonemas ao seu antigo patrão Dom José Luís Adjuntaut, Barão de Marvila sugerindo-lhe que aceitaria ser o mandatário distrital da candidatura de Dona Manuela Azeda o Leite, atrás da qual se perfilam a maioria dos barões. Não sei se o Barão do Lila Dom Furão Barroso também terá sido contactado, o que é certo é que Dom Xico se convenceu que a nomeação eram favas contadas, e impante de vaidade, não se conteve e contou a quatro ou cinco amigos, que por sua vez fizeram o mesmo, não tardando que todo o bicho careto do reino comentasse que o Barão de Ferreiros era o mandatário da Baronesa da Tanga. Mas, e nestas coisas há sempre um mas, o presidente da distrital laranja e Grão Mestre da Fundação Oriente Dom Staneloy Ho, não gostou de ser ultrapassado, puxou dos galões e impôs o amigo e Alcaide do Reino do Boticário Dom Fernando Campesino. Dom Xico Mirandum ficou de tal forma abespinhado, que diz irá apoiar a candidatura de Dom Passos Coelhone. Assim vão as guerras do alecrim e da manjerona.



Post-scriptum: Foi precisa meia página de jornal a quatro colunas e quase duzentas linhas para dar resposta a um breve comentário. Ficamos a saber que em vez de um se negociaram três lotes na zona industrial para deslocalizar três stands de automóveis, tendo concomitantemente sido negociada uma viatura com um deles. Quando a esmola é grande o Santo desconfia…Diz o povo.

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 13 Maio de 2008

terça-feira, 29 de abril de 2008

O REINO DE VALDECACOS

No condado Portucalense, onde em final de temporada os assuntos futebolísticos dominam completamente a agenda mediática, apenas o segundo lugar do campeonato da liga é ainda alvo de disputa cerrada, com benfiquistas, vimaranenses, setubalenses e sportinguistas a darem tudo por tudo para alcançarem um lugar que de acesso à milionária liga dos campeões europeus. Após uma época para esquecer dos “Lampiões”, já vão no terceiro treinador e só raras vezes apresentam um fio de jogo que não envergonha, apesar de ser o clube com mais adeptos e capaz de mobilizar multidões, continua a desiludir muita gente, que para ir mantendo acesa a chama do lampião tem de recorrer às memórias de épocas passadas, dos Eusébios, Colunas, Águas e Simões, que passearam a sua classe pelo reino de Portugal e pelos reinos da Europa. Já os “Lagartos”, que de há dois anos para cá vêm perdendo jogos, taças e campeonatos “com tranquilidade”, habituados a sofrer, durante longos anos arredados da vitória no campeonato, suspiram também pela ainda mais longínqua época dos cinco violinos, onde o Travassos, o Peyroteo o Jesus Correia e outros levaram magia aos relvados de toda a Europa, transformando a arena do velho estádio José de Alvalade, num local temível para os adversários e de jubilo e alegrias para os adeptos.
Completamente dominadores, campeões a cinco jornadas do fim, os “Dragões”, fizeram um campeonato à parte, demonstrando no campo e fora dele que é uma equipe bem treinada e bem dirigida, apesar dos problemas que este ano afectaram o seu presidente Dom Bimbo da Costa, Visconde de Cedofeita. Desde o tão badalado “Apito Dourado”, a problemas de ordem sentimental e conjugal que vieram para a praça publica, alimentando a curiosidade de milhares, sempre dispostos a gastar algum em jornais revistas ou livros, para se deleitarem com aspectos macabros, sórdidos, insólitos ou menos correctos, de qualquer figura pública seja ela qual for…
Dirigindo o FCP com grande mestria, há mais de vinte anos, o Visconte de Cedofeita Dom Bimbo da Costa, conseguiu a vitória em dezasseis campeonatos nacionais, duas taças do campeões europeus, duas taças intercontinentais, uma taça UEFA, uma super taça europeia, inúmeras taças de Portugal e vários outros troféus. Liderou e lidera uma certa contestação ao centralismo lisboeta, lutando por um Norte mais desenvolvido, onde possam existir empresas fortes e liderantes que esbatam as assimetrias em termos de desenvolvimento, que as aplicações dos fundos estruturais da União europeia têm provocado. Embora muitas vezes discordemos da maneira como o discurso é feito, no fundo o que ele quer dizer é: se o Futebol Clube do Porto é dominador, contra tudo e contra todos e é do norte, estamos à espera de quê?
O Visconde de Cedofeita Dom Bimbo da Costa, mais o Boby e o Tareco estão de parabéns. O mesmo não posso dizer do Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum e dos Bobys e dos Tarecos que o têm acompanhado, nos últimos vinte e tal anos. Nem campeonatos do desenvolvimento nem taças contra a desertificação nem troféus universitários, nunca ganhamos nada.



Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 15 Abril de 2008

terça-feira, 1 de abril de 2008

O REINO DE VALDECACOS

Todos sabemos o descalabro que foi para o reino de Valdecacos, o negócio da aquisição dos terrenos para instalar o parque industrial. As negociações mal conduzidas por Dom Xico Mirandum terminaram em tribunal, que condenou o governo do reino a pagar um balúrdio de indemnizações, com dinheiro saído do bolso de todos aqueles que pagam impostos. Os custos do metro quadrado somados aos custos das infra-estruturas também pagas com dinheiro dos nossos impostos fizeram disparar o preço dos lotes, obrigando o governo de Dom Xico Mirandum a vender por cinco o que tinha custado cem, provocando uma correria aos lotes, onde pseudo industriais se inscreveram inventando pseudo industrias que nunca se chegaram a concretizar, alguns apenas na mira de virem a fazer negócio com um lote de terreno, cujo custo de aquisição tinha sido vinte vezes inferior ao custo real. Tudo isto levou a que os lotes se esgotassem rapidamente, sem que víssemos a instalação de uma qualquer industria que tivesse um papel importante no desenvolvimento da economia e do emprego, no depauperado reino de Valdecacos. Aqui há dias constou-me que o governo de Dom Xico Mirandum, tinha negociado um dos poucos lotes restantes, para deslocalizar um stand de automóveis, ilegalmente instalado num terreno pertencente a uma urbanização, onde era suposto nascer uma vivenda! À primeira vista até parece que a ilegalidade é recompensada e o problema fica resolvido! Mas como se isto não bastasse, por infeliz coincidência dirão vocês, ou lamentável coincidência direi eu, um membro do governo de Dom Xico Mirandum com funções executivas, adquiriu um automóvel no referido stand!! Apesar de toda a correcção que possa ter havido em todo este negócio, e quem sou eu para duvidar do contrário, há situações, das quais os detentores de cargos políticos devem fugir como o diabo da cruz, pois a transparência é fundamental e tal como já escrevi em crónicas passadas, à mulher de César não basta sê-lo, tem de parece-lo.
Estiveram 32 órgãos de comunicação social, dois do reino e os restantes de fora, numa conferência de imprensa convocada pelo governo de Dom Xico Mirandum, para publicitar a próxima Feira do Folar. Foram atribuídas verbas para publicidade a todos os órgãos de comunicação social presentes menos ao “Tribuna de Valdecacos”. Será que os leitores entendem este tipo de discriminação? Será que este jornal não divulga a nossa terra, as nossas gentes, os nossos costumes? Será que para não sermos discriminados temos que ser uma espécie de “boletim municipal”? Será que temos que publicar em cada página duas fotos do edil nas diversas fases da sua função? Será que é preciso entrevistar o edil em todas as edições? Será preciso publicar tim-tim por tim-tim os trezentos discursos que o edil faz por ano? Será preciso publicar poesia do género “estive ontem com o edil / é um homem do baril / chamou as ovelhinhas ao redil / e de subsídios deu-lhes mil”? É este o jornalismo que querem?
O obscuro ex-cobrador de impostos do reino de nome Dom Gigio, que há longos anos exercia as funções de guardião do templo, teve um desaguisado com o arcipreste Dom Papalves, pelo que anda por aí triste, desamparado, sem ter que fazer. No ano em que entregou o governo do reino de Valdecacos ao seu sucessor, Dom Gigio deixou-lhe uma terra em que se rasgavam avenidas, construíam prédios e vivendas, abriam restaurantes, o comércio e a construção civil estavam florescentes, abriam escolas, e.t.c… Exactamente o contrário do que se passa agora…
Volta Dom Gigio que estás perdoado e põe tudo a andar de roleta!!!




Post-scriptum: Ficamos a saber pelo Sr. Escudeiro C.A., em artigo cuja indignação não percebi, que o subsidio altruísta oferecido pelo governo de Dom Xico Mirandum para a ceia de Natal dos escuteiros do reino de Valdecacos apenas contemplou o bacalhau, não foi extensivo às batatas nem às couves. Neste reino de fantasia que é Valdecacos, o único escudeiro que me vem à memória, é essa fantástica e fiel criatura que acompanha Dom Quixote em extraordinárias aventuras por terras do reino de La Mancha, na obra inigualável escrita por Miguel de Cervantes, cuja leitura lhe aconselho vivamente.



Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense", em 18 de Março de 2008

quarta-feira, 5 de março de 2008

O REINO DE VALDECACOS

“ Aqueles que lutam em prol do propalado bem-estar social, muitas vezes os que estão na linha da frente do poder fazem-no, não sustentados por um altruísmo sem contrapartidas mas, unicamente para se manterem onde estão – no PODER.”
Esta frase foi copiada ipsis-verbis do editorial escrito pela Baronesa do Bufão Dona Estrelícia Piu-Piu, Directora do Tribuna de Valdecacos, na mesma edição em que saía a Crónica do Reino XXIV, cuja publicação fora recusada pelo Director Negócios de Valdecacos Dom Pires Zás Trás, sem qualquer explicação prévia, terminando assim abruptamente uma colaboração que durava há seguramente alguns anos.
Soube depois, que no jantar de Natal, do agrupamento de escuteiros do reino de Valdecacos, quase de certeza pago com o subsídio oferecido com fins altruístas pelo governo de Dom Xico Mirandum, e onde Dom Pires Zás Trás se encontrava a fazer a cobertura jornalística do acontecimento mas também na qualidade de comensal, que estas coisas correm melhor com o estômago reconfortado com um belo petisco regado com Terra Quente ainda por cima á borla, que a tentativa de silenciamento do Fernão Chaparuto foi consumada. Não sei se de estratégia combinada com Dom Xico Mirandum, coube ao Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, pressionar o Director do Negócios, e a tal ponto o deve ter feito, que este acabou por ceder quando num dos pratos da balança os negócios tipográficos e os negócios com o poder pesaram mais que essa coisa vaga que é a liberdade de opinião e de expressão num pasquim chamado Negócios.
As tiranias tiveram sempre um enorme receio da palavra escrita, a historia desde a antiguidade que nos revela inúmeros exemplos das diversas formas de censura, mas felizmente vivemos na era da comunicação global, e as crónicas do Fernão Chaparuto continuarão a chegar aos leitores com um enquadramento surpreendentemente melhor. O autor ou autores destas crónicas de crítica social, de costumes, de política, de humor por vezes corrosivo é certo, mais não pretende que animar um pouco os habitantes do reino, a quem não sobram motivos para andar com o astral em cima. O poder é mais visado na crítica? É normal que assim aconteça e passa-se o mesmo em todos os reinos. Não temos a pretensão de ser a voz da consciência no reino, a nossa humilde intervenção pretenderá quando muito, levar as pessoas a ouvirem mais vezes ou darem mais atenção à voz da sua própria consciência e a terem mais consciência do meio em que estão inseridas. A qualidade da informação que se presta, tem a ver com a importância dos assuntos, a actualidade dos mesmos, à maneira como são escritos, a objectividade e isenção com que são analisados e a coragem com que são defendidos. Tudo isto a propósito do parágrafo com que iniciei esta crónica, cuja autora merece que tire o chapéu em sinal de respeito (ainda sou dos que usam chapéu), é esse o comportamento que se espera dum cidadão perante uma tribuna de liberdade, mas que seria de todo impossível num local de negócios obscuros. É no mínimo leviana, mas muito atentatória da qualidade da nossa democracia, esta tentativa de controlo dos órgãos de comunicação social e de silenciamento das vozes incómodas. A liberdade de expressão foi uma das grandes conquistas da revolução de Abril, e muito dos jovens políticos que agora usufruem das benesses dum poder democraticamente eleito, deviam pensar duas vezes antes de tomarem atitudes mais próprias de censores do antigo regime, contra o qual muita gente lutou e alguns pagaram com a própria vida.
Os escritos do Fernão Chaparuto foram substituídos no Negócios de Valdecacos pelas Crónicas Nordestinas, da autoria de um novo (velho) cronista, que na primeira crónica escreve “jamais voltarão a ser atiradas pedras escondendo a mão…”. Ora conhecendo nós o seu famoso estilo literário que não pertence á escola clássica, ou neo-realista, ou romântica, mas que qualquer crítico literário menos exigente colocaria na escola da trampa, aquilo que o novo (velho) cronista poderá atirar, não serão pedras mas outra coisa e o que terá que esconder não é a mão mas o traseiro.


Até Breve


Publicado no jornal “Tribuna Valpacense”, em 19 de Fevereiro de 2008

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O REINO DE VALDECACOS


Foi com pompa e circunstância que no reino Portucalense, mais concretamente na sua capital Lisboa, em frente ao Tejo donde há 500 anos saíram as caravelas que nos levaram à descoberta das Índias e do Brasil, mas antes disso nos levaram a penetrar nesse misterioso continente que é África, onde durante séculos mantivemos um império, que nos trouxe mais problemas que riquezas, mas nos permitiu ter um conhecimento único daquelas gentes, dos seus costumes, das suas artes e do seu pensamento politico e social. Mais de 30 anos depois do fim da guerra com que terminou o colonialismo, graças à revolução de Abril que depôs o regime que o cria perpetuar, foi bom de ver a cimeira de reis e chefes de estado Africanos e Europeus reunidos de igual para igual, procurando enterrar ressentimentos e paternalismos obsoletos.
São fracos os índices de desenvolvimento em Africa? É um facto.
Os regimes (alguns senão a grande maioria), são corruptos e cleptocráticos? É verdade.
Os direitos humanos não são respeitados na maioria dos reinos? Também é verdade. Mas não será isolando e humilhando publicamente esses regimes para continuar a negociar por baixo da mesa, que podemos mudar as condições de vida das populações. A SIDA a malária os confrontos tribais e a fome, são alguns dos flagelos que levam prematuramente milhões de vidas todos os anos em África. É fulcral o empenhamento dos Europeus na ajuda à resolução destas questões, seja através de organismos das Nações Unidas, como a OMS e a FAO, seja através do organismo da ONU para os refugiados onde o Visconde do Fundão Dom Toneca Guterres tem feito um trabalho meritório. Também a União Europeia debaixo da batuta do barão do Lila Dom Furão Barroso poderá ter um papel fundamental nestes domínios.
Os nossos jovens licenciados e bacharéis, muitos deles com uma nítida dificuldade de emprego, tanto nos reinos de Valdecacos como no Portucalense, alguns deles filhos de antigos colonos, com uma imagem algo distorcida de uma Africa que hoje já não existe, mas que lhes foi transmitida pelos pais, juntamente com um sentimento de amor e saudade que só quem lá esteve poderá compreender, poderão aí encontrar um mundo de oportunidades com um pouco de aventura à mistura, condimentos estes que ao longo dos séculos sempre fascinaram os Portugueses e os têm levado por esse mundo fora à procura do El Dorado que aqui não vislumbram.
O jantar dado em honra dos reis e chefes de estado Africanos e Europeus no Palácio Nacional da Ajuda pelo Barão de Boliqueime Dom Regressado Silva, foi um quebra cabeças em termos protocolares, acabando por serem colocados de acordo com a antiguidade que já têm no cargo. O primeiro a ser sentado foi pois o Presidente do reino do Gabão Dom Omar Bongo, há 40 anos no poder, sentando-se a seu lado o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum em representação do reino de Valdecacos, logo a seguir Dom Robert Mugabe do reino do Zimbabué, à sua frente Dom José Eduardo dos Santos do Reino de Angola e ao lado deste Dom Muammar Kadaffi do reino da Líbia. A conversa entre os cinco decorreu animada, houve mesmo a frutuosa troca de experiências entre todos, quando resolverem dissertar sobre os vários métodos e artimanhas usados para se manterem no poder ao longo de décadas. Depois do jantar acederam ao convite de Dom Muammar Kadaffi para visitarem a tenda que lhe serviu de albergue durante a cimeira e que foi armada no forte de S. Julião da Barra. Deliciaram-se com um espectáculo privado de dança do ventre, proporcionado por um corpo de bailado composto por 360 virgens Líbias (72 para cada um), enquanto bebericavam leite fresco de camelo misturado com chá-mate, aromatizado com hortelã-pimenta (poção fortemente afrodisíaca de uso generalizado no Magreb). Dom Xico Mirandum veio de lá rejuvenescido e com maior determinação para enfrentar as dificuldades de mais uns anos de governação que se avizinham.
Consta-se que dos cinco apenas Dom R. Mugabe devido há sua provecta idade não cumpriu no que lhe era devido. Pelo contrário, ainda hoje em Tripoli nas conversas de serão que há em todos os Haréns, se contam histórias dum fauno pequenino mas particularmente activo nestas matérias originário do noroeste da Ibéria…

Até Breve