terça-feira, 23 de junho de 2009

O REINO DE VALDECACOS

O calor chegou de repente ao reino de Valdecacos, hoje quando saí de casa de manhã cedo, a temperatura ultrapassava os 30º centígrados, as jovens e algumas menos jovens mulheres do reino já saem à rua de t-shirt cavada e saia curta, tornando um pouco mais atractivas as desérticas esplanadas da capital de Valdecacos.
Em ano de eleições, a temperatura politica também tem subido exponencialmente, e na grande maioria dos dias ultrapassa mesmo a ambiental, tornando o ar praticamente irrespirável.
As eleições europeias estão à porta, estou a escrever no final da primeira semana de campanha, com todas as candidaturas a desdobrarem-se no contacto com a populaça, procurando cativar o maior número possível de votos e fazer destes resultados uma espécie de trampolim para os actos eleitorais que se seguem.
Os rosas foram buscar para encabeçar a lista de candidatos o Visconde de Coimbra Dom Vital Palreira, do ramo inteligente da família Palreira, há longos anos radicada na região centro do condado Portucalense. Professor universitário, constitucionalista famoso, oriundo da área política do PCP de onde se afastou já há bastantes anos, encontra-se a meu ver algo enferrujado em termos campanhisticos, tendo cometido algumas gafes, foi vítima de alguma violência verbal e física na manifestação da CGTP, e vendo os laranjas aproximarem-se perigosamente nas sondagens, disse à boca cheia aquilo que toda a gente vem comentando à boca pequena, o que é a promiscuidade entre figuras gradas do partido laranja e o caso BPN. Se as crianças até aos seis anos pudessem votar, Dom Vital Palreira ganhava de certeza, pois quando aparece na televisão a ganapada diz logo que é o “Avô Cantigas”.
Contra a opinião da maioria dos membros da comissão política nacional que apostavam no Gandanoia, a presidente dos laranjas Dona Manuela Azeda o Leite impôs o líder do seu grupo parlamentar, o Visconde de Paranhos Dom Paulo Tonel. Cavalgando a onda de descontentamento provocada pela crise mundial que nos afecta, aproveitando todas as oportunidades para massacrar o governo, não parece preocupado com as bocas sobre a necessidade de maior ou menor ingestão de farinha maizena.
As candidaturas comunista e bloquista são mais do mesmo. Ambos os cabeças de lista são já repetentes, os discursos de Dona Hilda Mete Medo e Dom Miguel Tortas são o repositório das ideias que os ainda deputados comunista e da esquerda radical defendem no parlamento europeu, e que bem esmiuçadas e no fundo reflectem um pensamento anti-europeísta que sempre norteou a esquerda conservadora e monolítica assim como a esquerda radical do condado Portucalense.
Os azuis da bola ao centro, embora em último lugar nas sondagens, apesar do contínuo rodopio pelas feiras e romarias de Dom Paulo Tortas, tem como cabeça de lista o dinâmico Marquês de Famalicão Dom Nuno Guedelho, que tem tido um papel determinante na comissão parlamentar de inquérito ao caso BPN.
Aqui há dias li um artigo numa revista de referência, que as despesas burocráticas, ou seja de funcionamento da comissão europeia, desde há quatro anos presidida pelo nosso ilustre Barão do Lila Dom Furão Barroso, custa aos contribuintes europeus a módica quantia de trezentos milhões de euros por dia! Leram bem? Isto não tem nada a ver com subsídios ou fundos de desenvolvimento, são apenas custos com os ordenados de deputados, comissários, assessores, tradutores, funcionários, instalações, água, electricidade, papel higiénico, etc…etc…etc. Trezentos milhões de euros por dia!!!
Apesar dos lancinantes apelos ao voto, as eleições europeias têm-se caracterizado por elevadíssimas taxas de abstenção. Nas últimas eleições europeias em 2004 em todo o condado Portucalense a abstenção foi de 61.2%. No distrito de Vila Real foi de 66.26%. No reino de Valdecacos a abstenção foi de 71.35%. Tivemos no entanto duas notáveis excepções, que mostram que há gente que se preocupa com o futuro da Europa e que tem uma noção de participação cívica completamente diferente do que se passa no resto do reino e do país. Estou a referir-me à alcaideria de Barrentos que acorreu em massa às urnas e teve uma abstenção de apenas 22.39%, e da alcaideria de Tirapicos cuja abstenção foi apenas de 37.92%. Todos estes números foram tirados do STAPE, onde podem ser vistos por todos na internet, servindo para mostrar que aqui no reino de Valdecacos há pelo menos duas alcaiderias, que apesar de pequenas e habitadas essencialmente por gente muito idosa, mostraram ao reino e a todo o país que aqui há quem se preocupe com o futuro e a construção da União Europeia. Escusado será dizer qual foi o partido que ganhou em ambas as alcaiderias, com mais de 80% de votos numa e 94% noutra, embora a nível nacional o mesmo partido tenha perdido com apenas 33.26%. Palavras para quê? Que tipo de comentários se podem fazer perante uma situação destas?



PS: Chegou de mansinho e partiu sem barulho. Tratou da boca e dos dentes a muitos de nós. Foi o primeiro dentista do reino na verdadeira acepção da palavra. Era um homem bom, amigo do seu amigo, excelente parceiro em noites de boémia. De seu nome completo José Manuel. Todos o conhecíamos por Massano. Que Deus o acompanhe.

Publicado no jornal "Tribuna Valpacense", em 09 de Junho de 2009
Até Breve