sexta-feira, 13 de abril de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE

Depois de um périplo por alguns reinos europeus, aonde fui à procura de condições de trabalho, pois as coisas por aqui estão cada vez mais difíceis e complicadas com austeridade em cima de austeridade, os políticos comem-nos mais de metade da jorna que com sangue suor e lágrimas vamos conseguindo angariar, e o que resta dificilmente dá para levarmos uma vida digna e acima de tudo perspectivarmos um futuro para os nossos filhos.
De modo que, seguindo os conselhos do chefe do governo do condado Portucalense Dom Passos Guedelho, há que preparar o salto e emigrar, coisa a que os habitantes do reino de Valdecacos já estão mais que habituados, pois infelizmente a crise na nossa terra não começou em 2008, mas já vem de longa data, provocada por politicas erradas de desenvolvimento, em que se privilegiaram as obras de fachada, o caciquismo eleitoral, o fogo de artificio, em beneficio dum partido que nos governa há mais de trinta anos, e que levou à debandada da maioria da população, que não enche a barriga de passeios com pedrinhas e lancis de granito, nem de quatros pavilhões multidesuso, nem de cinco ou seis pavilhões gimnodesportivos, nem de trinta ou quarenta campos de futebol onde já nem as ovelhas vão por causa da seca, nem de meia dúzia de monumentos de gosto duvidoso, nem de inúmeras estradecas alternativas para aldeias despovoadas e que já tinham acesso condigno, nem de prédios cheios de habitações vazias, nem de centenas de lojas encerradas, nem de comércios falidos, nem de piscinas fechadas, nem de bibliotecas inauguradas para “inglês ver”, nem de feiras que deviam promover produtos e apenas promovem políticos, com um modelo completamente esgotado que não serviram para nada em termos de desenvolvimento agroindustrial, etc, etc, etc…
Este é um reino sem futuro para os jovens, ou quando muito terá futuro para meia dúzia com cartão laranja. Os únicos que vão sobrevivendo são os subsidiados (os que necessitam e os profissionais do subsidio, sendo esta segunda categoria muito mais numerosa) e os velhos, ou idosos como agora se diz, que são a larga maioria do povo, já sem forças para emigrar depois de uma vida difícil comendo o pão que o diabo amassou, vão vegetando no dia-a-dia amparados pela pensão da segurança social, que o governo local complementa com os “afectos” em troca do voto quadrienal.
Quando cheguei do reino do Luxemburgo havia uma notícia em todos os media do condado Portucalense referindo a nomeação pelo Vaticano de um novo Cardeal, sendo a primeira vez numa história de quase mil anos que o condado Portucalense tem três Cardeais. Esqueceram-se do reino de Valdecacos e do nosso Cardeal Mazzarino, que é de longe o decano dos Cardeais, pois há mais de trinta anos exerce, manipula, influencia, conspira e intriga junto do poder. A nova eleição para a comissão de pais, que teve de ser repetida por ordem do tribunal, foi novamente engendrada pelo Cardeal Mazzarino, que pôs toda a maquina eleitoral laranja ao serviço do protegido, embora de uma maneira mais discreta, viram-se ao longo da tarde eleitoral alguns alcaides a transportar pais e encarregados de educação, prontos a votar às ordens do Cardeal Mazzarino, mas pouco dispostos a apoiar a escola ou os educandos no que a esta diz respeito. Os professores de outros reinos que vieram supervisionar o acto eleitoral, ficaram impressionadíssimos com a mobilização e com o interesse dos pais e encarregados de educação, afirmando que nunca tinham assistido a nada de semelhante! Pois com toda esta mobilização e entusiasmo e com a previsível nomeação do novo director que será o mesmo de antigamente, de certeza que iremos ter a nossa escola classificada entre as dez primeiras do ranking nacional como aliás sempre tem acontecido…
O Cardeal Mazzarino orgulha-se de nunca ter perdido uma eleição em que se tivesse envolvido ou uma jogada política em que tivesse participado.
Hoje, estou convencido que a tentativa de por o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum à frente da Confraria, falhou porque o Cardeal Mazzarino não foi o protagonista da história, e como tal não só não se empenhou, como minou algumas pedras base como tão bem ele sabe fazer!



PS: Jules Mazarin, nascido Giulio Raimondo Mazzarino e conhecido como Cardeal Mazzarino, nasceu em Pescina no reino de Nápoles no dia 14-07-1602 e morreu em Vincennes, França a 09-03-1661. Foi ordenado Cardeal em 1641 sem nunca ter sido ordenado Padre. Foi nomeado sucessor do Cardeal Richelieu e após a morte de Luis XIII tornou-se 1º Ministro de França.
Hábil, refinado e astuto, desligando-se do Vaticano tornou-se em pouco tempo senhor absoluto da França. Deixou vários escritos políticos, dos quais retiro a seguinte frase “ dissimulador é aquele que ora censura ora recomenda uma mesma atitude, conforme lhe vem ou cai melhor”.



Até Breve

Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 16 de Março de 2012