“ Aqueles que lutam em prol do propalado bem-estar social, muitas vezes os que estão na linha da frente do poder fazem-no, não sustentados por um altruísmo sem contrapartidas mas, unicamente para se manterem onde estão – no PODER.”
Esta frase foi copiada ipsis-verbis do editorial escrito pela Baronesa do Bufão Dona Estrelícia Piu-Piu, Directora do Tribuna de Valdecacos, na mesma edição em que saía a Crónica do Reino XXIV, cuja publicação fora recusada pelo Director Negócios de Valdecacos Dom Pires Zás Trás, sem qualquer explicação prévia, terminando assim abruptamente uma colaboração que durava há seguramente alguns anos.
Soube depois, que no jantar de Natal, do agrupamento de escuteiros do reino de Valdecacos, quase de certeza pago com o subsídio oferecido com fins altruístas pelo governo de Dom Xico Mirandum, e onde Dom Pires Zás Trás se encontrava a fazer a cobertura jornalística do acontecimento mas também na qualidade de comensal, que estas coisas correm melhor com o estômago reconfortado com um belo petisco regado com Terra Quente ainda por cima á borla, que a tentativa de silenciamento do Fernão Chaparuto foi consumada. Não sei se de estratégia combinada com Dom Xico Mirandum, coube ao Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, pressionar o Director do Negócios, e a tal ponto o deve ter feito, que este acabou por ceder quando num dos pratos da balança os negócios tipográficos e os negócios com o poder pesaram mais que essa coisa vaga que é a liberdade de opinião e de expressão num pasquim chamado Negócios.
As tiranias tiveram sempre um enorme receio da palavra escrita, a historia desde a antiguidade que nos revela inúmeros exemplos das diversas formas de censura, mas felizmente vivemos na era da comunicação global, e as crónicas do Fernão Chaparuto continuarão a chegar aos leitores com um enquadramento surpreendentemente melhor. O autor ou autores destas crónicas de crítica social, de costumes, de política, de humor por vezes corrosivo é certo, mais não pretende que animar um pouco os habitantes do reino, a quem não sobram motivos para andar com o astral em cima. O poder é mais visado na crítica? É normal que assim aconteça e passa-se o mesmo em todos os reinos. Não temos a pretensão de ser a voz da consciência no reino, a nossa humilde intervenção pretenderá quando muito, levar as pessoas a ouvirem mais vezes ou darem mais atenção à voz da sua própria consciência e a terem mais consciência do meio em que estão inseridas. A qualidade da informação que se presta, tem a ver com a importância dos assuntos, a actualidade dos mesmos, à maneira como são escritos, a objectividade e isenção com que são analisados e a coragem com que são defendidos. Tudo isto a propósito do parágrafo com que iniciei esta crónica, cuja autora merece que tire o chapéu em sinal de respeito (ainda sou dos que usam chapéu), é esse o comportamento que se espera dum cidadão perante uma tribuna de liberdade, mas que seria de todo impossível num local de negócios obscuros. É no mínimo leviana, mas muito atentatória da qualidade da nossa democracia, esta tentativa de controlo dos órgãos de comunicação social e de silenciamento das vozes incómodas. A liberdade de expressão foi uma das grandes conquistas da revolução de Abril, e muito dos jovens políticos que agora usufruem das benesses dum poder democraticamente eleito, deviam pensar duas vezes antes de tomarem atitudes mais próprias de censores do antigo regime, contra o qual muita gente lutou e alguns pagaram com a própria vida.
Os escritos do Fernão Chaparuto foram substituídos no Negócios de Valdecacos pelas Crónicas Nordestinas, da autoria de um novo (velho) cronista, que na primeira crónica escreve “jamais voltarão a ser atiradas pedras escondendo a mão…”. Ora conhecendo nós o seu famoso estilo literário que não pertence á escola clássica, ou neo-realista, ou romântica, mas que qualquer crítico literário menos exigente colocaria na escola da trampa, aquilo que o novo (velho) cronista poderá atirar, não serão pedras mas outra coisa e o que terá que esconder não é a mão mas o traseiro.
Até Breve
Publicado no jornal “Tribuna Valpacense”, em 19 de Fevereiro de 2008
Esta frase foi copiada ipsis-verbis do editorial escrito pela Baronesa do Bufão Dona Estrelícia Piu-Piu, Directora do Tribuna de Valdecacos, na mesma edição em que saía a Crónica do Reino XXIV, cuja publicação fora recusada pelo Director Negócios de Valdecacos Dom Pires Zás Trás, sem qualquer explicação prévia, terminando assim abruptamente uma colaboração que durava há seguramente alguns anos.
Soube depois, que no jantar de Natal, do agrupamento de escuteiros do reino de Valdecacos, quase de certeza pago com o subsídio oferecido com fins altruístas pelo governo de Dom Xico Mirandum, e onde Dom Pires Zás Trás se encontrava a fazer a cobertura jornalística do acontecimento mas também na qualidade de comensal, que estas coisas correm melhor com o estômago reconfortado com um belo petisco regado com Terra Quente ainda por cima á borla, que a tentativa de silenciamento do Fernão Chaparuto foi consumada. Não sei se de estratégia combinada com Dom Xico Mirandum, coube ao Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, pressionar o Director do Negócios, e a tal ponto o deve ter feito, que este acabou por ceder quando num dos pratos da balança os negócios tipográficos e os negócios com o poder pesaram mais que essa coisa vaga que é a liberdade de opinião e de expressão num pasquim chamado Negócios.
As tiranias tiveram sempre um enorme receio da palavra escrita, a historia desde a antiguidade que nos revela inúmeros exemplos das diversas formas de censura, mas felizmente vivemos na era da comunicação global, e as crónicas do Fernão Chaparuto continuarão a chegar aos leitores com um enquadramento surpreendentemente melhor. O autor ou autores destas crónicas de crítica social, de costumes, de política, de humor por vezes corrosivo é certo, mais não pretende que animar um pouco os habitantes do reino, a quem não sobram motivos para andar com o astral em cima. O poder é mais visado na crítica? É normal que assim aconteça e passa-se o mesmo em todos os reinos. Não temos a pretensão de ser a voz da consciência no reino, a nossa humilde intervenção pretenderá quando muito, levar as pessoas a ouvirem mais vezes ou darem mais atenção à voz da sua própria consciência e a terem mais consciência do meio em que estão inseridas. A qualidade da informação que se presta, tem a ver com a importância dos assuntos, a actualidade dos mesmos, à maneira como são escritos, a objectividade e isenção com que são analisados e a coragem com que são defendidos. Tudo isto a propósito do parágrafo com que iniciei esta crónica, cuja autora merece que tire o chapéu em sinal de respeito (ainda sou dos que usam chapéu), é esse o comportamento que se espera dum cidadão perante uma tribuna de liberdade, mas que seria de todo impossível num local de negócios obscuros. É no mínimo leviana, mas muito atentatória da qualidade da nossa democracia, esta tentativa de controlo dos órgãos de comunicação social e de silenciamento das vozes incómodas. A liberdade de expressão foi uma das grandes conquistas da revolução de Abril, e muito dos jovens políticos que agora usufruem das benesses dum poder democraticamente eleito, deviam pensar duas vezes antes de tomarem atitudes mais próprias de censores do antigo regime, contra o qual muita gente lutou e alguns pagaram com a própria vida.
Os escritos do Fernão Chaparuto foram substituídos no Negócios de Valdecacos pelas Crónicas Nordestinas, da autoria de um novo (velho) cronista, que na primeira crónica escreve “jamais voltarão a ser atiradas pedras escondendo a mão…”. Ora conhecendo nós o seu famoso estilo literário que não pertence á escola clássica, ou neo-realista, ou romântica, mas que qualquer crítico literário menos exigente colocaria na escola da trampa, aquilo que o novo (velho) cronista poderá atirar, não serão pedras mas outra coisa e o que terá que esconder não é a mão mas o traseiro.
Até Breve
Publicado no jornal “Tribuna Valpacense”, em 19 de Fevereiro de 2008