terça-feira, 29 de junho de 2010

O REINO DE VALDECACOS

A capital do reino de Valdecacos tem um já velhinho hospital, que ultimamente tem andado pelas bocas do povo e nem sempre pelas melhores razões. Procurei informar-me sobre os acontecimentos para poder dar-vos uma notícia mais ou menos fundamentada, diversifiquei o mais que pude as fontes informativas, para poder ter uma perspectiva global dos problemas que lá existem. Tudo começou pelo abandono do cargo de gerente do hospital pelo Visconde de Manzaneda Dom Luís Praga, que se demitiu por não concordar com uma decisão do principal administrador da empresa galega que gere o hospital e que é o Marquês de Ourense Dom José Pancrácio, decisão essa que permitia a entrada dum elemento da Confraria para a gestão do hospital.
Dom José Pancrácio, justifica-se dizendo que não teve outro remédio, pois a Confraria comprou a quota dum outro sócio da empresa galega que controla o hospital, e como tal teria o direito de participar na gestão do mesmo.
O Marquês de Via Greta, Dom Geninho Três Ais foi o homem escolhido pela Confraria para a gestão do hospital, mas desde que assumiu o cargo, tem actuado mais como confrade-mor do que como gestor hospitalar, talvez por não se ter apercebido ainda que existem algumas diferenças entre ambos os cargos, de maneira que o pessoal que lá trabalha e que não é pouco, anda numa verdadeira polvorosa. Segundo se consta, o confrade-mor, dedica 90% do seu tempo à procura dum acto de gestão menos correcto, que tenha sido cometido pelo Visconde de Manzaneda Dom Luís Praga, por quem nutre um ódio de estimação que vem dos tempos da confraria, para poder incriminá-lo e metê-lo na cadeia, e os restantes 10% a classificar o pessoal que lá trabalha, entre os que ficam e os que vão embora, sem ter por base qualquer tipo de mérito ou demérito, mas apenas pelo relacionamento mais ou menos aparente seja de amizade ou outro, que as pessoas tenham tido com o Visconde de Manzaneda Dom Luís Praga.
Entretanto o hospital que necessita urgentemente de obras e de decisões estratégicas importantes, encontra-se completamente bloqueado, o Marquês de Ourense Dom José Pancrácio tem falado com todas as forças vivas do reino e vai procurando segurar as pontas do problema, mas sente-se impotente com um contrato a quatro anos do fim, e com um interlocutor que lhe dá pancadinhas nas costas, lhe jura amizade eterna, mas depois no terreno e no dia-a-dia faz exactamente o contrário. O confrade-mor que há dez anos abriu as portas do hospital aos galegos é o mesmo que agora os quer ver de lá para fora. Porquê? Não fizeram um bom trabalho? Será que a Confraria tem quadros com o conhecimento específico de gestão hospitalar? Será que a Confraria estará mesmo interessada em manter o hospital aberto? Será que o Marquês de Via Greta Dom Geninho Três Ais não estará completamente cego pelo ódio que o motiva? Será que estará bem assessorado e aconselhado? Será que apresentar-se como gerente hospitalar à segunda, ter uma reunião com o pessoal à terça e dizer que uma coisa é branca, demitir-se à quarta com a cara banhada em lágrimas, nova reunião à quinta dizendo que a coisa é preta e que nunca tinha dito que era branca, jantar com os confrades à sexta e dizer que a coisa não é branca nem preta, será que isto é um comportamento normal? Estará doente?
O Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña, que é o director clínico e nas Cortes do reino tem feito intervenções a favor e em defesa do hospital, qual é o papel dele no meio disto tudo? Terá responsabilidades? Ou é só assinar papeis e papar jantares na confraria?
A ver vamos o desenvolvimento da situação. Será certo contudo se os intervenientes principais não passarem por cima de ódios e vaidades pessoais e não puserem o interesse do povo acima de tudo, e o interesse do povo é que o hospital permaneça aberto e a desempenhar a sua função. Se o hospital fechar por causa destas guerras pessoais, politicas, xenófobas, ou outras, os responsáveis deverão ser punidos e exemplarmente, pois não se brinca com uma instituição quase centenária que foi construída pelo povo para servir com dignidade as pessoas que o procuram.
Acerca de quinze dias e depois de algum tempo de suspense, o Barão de Boliqueime Dom Regressado Silva promulgou o decreto-lei que autoriza o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. O arcipreste do reino de Valdecacos Dom Papalves, apoiante político fervoroso do Barão de Boliqueime, estava à espera do veto presidencial que afinal não veio, ficou tão arreliado que resolveu fazer greve às suas funções durante quatro ou cinco dias. Se a comunidade gay sempre lutou pelo direito à diferença, eu também não entendo que a união civil entre pessoas do mesmo sexo tenha de se chamar forçosamente casamento! Poderiam chamar-lhe outra coisa qualquer. Mas se o casamento civil não é um sacramento ao contrário do religioso, e a igreja não o reconhece, que diferença lhe faz que seja com pessoas do mesmo ou de sexo diferentes?



Até Breve



Publicado no jornal "Tribuna Valpacense", em 4 Junho de 2010