quarta-feira, 12 de maio de 2010

O REINO DE VALDECACOS

Na RTPN há já dois ou três anos, ou salvo erro há mais, que nos domingos à noite, depois das notícias do horário nobre, é emitido um programa chamado “Liga dos Últimos”, em que um dos comentadores é o famoso “ Professor Bitaites”, que há uns tempos foi o principal responsável pela preparação física do FCP. Nesse programa as equipas de reportagem percorrem todos os reinos do condado Portucalense, comentando os jogos dos clubes pior classificados, das mais variadas distritais e regionais. Para alem dos comentários desportivos, fazem entrevistas a dirigentes, técnicos, massagistas, treinadores, adeptos, simpatizantes e ao público em geral, dando-nos uma perspectiva do país real, do povo que gira à volta do futebol, das suas motivações, das suas alegrias e tristezas, dos seus hábitos, dos seus vícios, da sua cultura ou em boa verdade se diga, na maioria das vezes da falta dela.
Seria interessante e daqui lanço um repto, para que algum canal televisivo fizesse um programa semelhante com os governos dos reinos que se encontram no fim da tabela dos indicadores do desenvolvimento e da qualidade de vida, como é o caso do reino de Valdecacos, que como todos sabemos também disputa o campeonato dos últimos. Que programa espectacular nos seria oferecido por uma equipa de reportagem instalada nos paços do governo, dando-nos uma perspectiva das reuniões da direcção, dos técnicos, das tácticas usadas, das ordens dadas, das que são efectivamente cumpridas e das que não são, da postura dos adversários, do entusiasmo ou falta dele dos adeptos, as jogadas sub-reptícias, as faltas, os erros da arbitragem, enfim tudo aquilo que tem como consequência final que estejamos a disputar a liga dos últimos!!
No programa futebolístico da RTPN, foi instituído um prémio designado “Prémio Capitão Moura”, para o personagem com mais destaque em termos de insólito e bizarria de comportamento! Aqui no reino também podemos instituir um para idêntico personagem, cuja designação mais adequada às circunstâncias seria de “Prémio Comandante Valdessapos”. Ora o último personagem do reino de Valdecacos a ter uma prestação televisiva digna de registo, foi o vice-presidente do governo, a propósito da Feira do Folar. Vai pois para o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor a primeira nomeação para o Prémio Comandante Valdessapos, ficando como uma referência a ter em conta em futuras nomeações.
É com profunda preocupação que vejo uma instituição milenar como é o reino da Eclesiae, abalado por relatos que nascem como cogumelos em anos de chuva, de abusos sexuais sobre crianças praticados por algum dos seus membros. Se é verdade que a instituição em si não pode ser condenada pelo desvio de alguns dos seus membros, também será verdade que as hierarquias não terão dado a melhor solução às situações, sempre que tiveram conhecimento delas. O manto de silêncio e ocultação que durante décadas se quis manter sobre estes casos, tinha forçosamente de se rasgar e ver a luz do dia, num mundo global e mediatizado como é o de hoje. Embora alguns meios anticlericais, se estejam a aproveitar da situação para atacar o reino da Eclesiae, levando alguns dignitários a assumir um discurso de vitimização, não nos podemos esquecer que as verdadeiras vítimas foram as crianças, pelo que seria um acto de grande justiça e humildade de acordo com os ensinamentos do evangelho, que o actual descendente de Pedro aproveitasse a visita Papal do próximo mês de Maio ao Condado Portucalense, para em Fátima, verdadeiro altar do mundo, pedir o perdão que será o primeiro passo para a tão necessária reconciliação do reino da Elcesiae com os seus fiéis.
Quando eu era garoto, vi juntamente com outros miúdos um filme espanhol que nos tocou imenso e nos punha todos a chorar, sobre a história de um recém-nascido abandonado à porta de um convento. Adoptado pelos frades, o argumento desenrola-se com o crescimento e as travessuras duma criança num convento, o primeiro conhecimento de Deus e as suas conversas com Ele, terminando duma forma dramática com a morte do protagonista, motivada pela picada dum lacrau, descendo Cristo da cruz para o levar para o céu nos seus braços. O filme chamava-se “Marcelino Pão e Vinho”.
Nos dias de hoje e em face destes tristes acontecimentos o realizador provavelmente pôr-lhe-ia o titulo “Marcelino Pão Vinho e Vaselina”.
Até breve!
Publicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 23 de Abril de 2010