segunda-feira, 9 de maio de 2011

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE

A revolução dos cravos faz 37 anos dentro de dias. Eu ainda conheci os tempos tristes da ditadura, do atraso cultural, da pobreza, da censura, da PIDE, da guerra colonial, da emigração a salto, da fome, das manifestações prontamente reprimidas com cargas policiais, do acesso à educação só para alguns, dos ordenados de miséria, dos grandes latifúndios, do trabalho escravo de sol a sol por uma côdea de pão e um quartilho de vinho, da igreja ao lado dos ricos e poderosos, da justiça para poucos, da saúde só para os que podiam pagar, etc. etc…
Foram quase 50 anos que o povo aguentou esse regime saído do golpe de estado do 28 de Maio de 1926, e quando caiu, numa revolução calma e tranquila, praticamente sem tiros, num país em que cerca de 1 milhão de homens tinha passado pelos 13 anos das guerras de África, foi grande a admiração por toda a Europa e pelo mundo, pela maneira civilizada e com poucos sobressaltos com que fizemos a nossa transição para a democracia.
Alguns analistas e historiadores que anos mais tarde escalpelizaram os primeiros anos da nossa revolução, inclusive o PREC, que durante o verão quente de 1975 ia fazendo vacilar a nossa ainda incipiente democracia, são unânimes em afirmar que o regime fascista estava podre, e como a fruta podre cai da árvore ao mais pequeno abanão ou mesmo sem se lhe tocar, também o antigo regime caiu com armas que em vez de tiros dispararam cravos, para alegria e satisfação popular, com imagens que agora se repetem quase 40 anos depois, nalguns reinos do norte de África e do médio oriente.
Aqui no reino de Valdecacos, existe uma confraria cujos dirigentes ainda vêm do tempo do antigo regime, também já apodreceram há muito e ainda não se aperceberam, ou então já deram conta, mas fazem de conta que não deram!
Na ultima reunião das Cortes do reino, todos os deputados e todos os alcaides com excepção do alcaide se Sem Fins que se absteve, votaram a favor duma resolução apresentada pelo Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña, em que era pedido ao chefe do governo Dom Xico Mirandum, que se candidatasse a confrade mor pois teria o apoio de todas as forças politicas e de toda a população. Esta solução é por todos apontada como a mais conveniente e provavelmente a única que permitirá a reabertura do Hospital de Valdecacos, assim como garantirá o fim do clima de conflitualidade gerado pela actual mesa administrativa da confraria e que está a por em risco a sobrevivência da própria instituição. Toda a gente entende isto! Só o confrade mor, o vice confrade mor, e os confrades mesários parecem não querer entender!
O povo já saiu à rua por duas vezes e como não há duas sem três, qualquer dia entra pela confraria dentro liderado pelo Marquês de Puralina, Dom Tião Cidade das Neves (daqui lhe tiro o meu chapéu pela coragem e determinação com que defende a causa do Hospital), e tal como a Padeira de Aljubarrota chega-lhes uma pá do forno para expulsar de lá para fora essa gente que tanto mal tem feito ao nosso reino. Porém ao contrário de Dona Brites de Almeida era assim que se chamava a Padeira de Aljubarrota, as padeiras de Valdecacos e eu conheço algumas que já andam a treinar, estão mortinhas por desancar no confrade mor e seu muchachos e voltar a por os Espanhóis no Hospital.
Para terminar deixo-vos uma história que me chegou ao conhecimento, passada no tribunal do reino em que são intervenientes duas personagens que fazem parte destas crónicas, e que não valerá a pena identificar, pois pela qualidade do diálogo os leitores verão logo de quem se trata:
ADVOGADO- Doutor, antes de fazer a autópsia o senhor verificou o pulso da vitima?
PERITO – Não.
ADVOGADO – O senhor verificou a pressão arterial?
PERITO – Não.
ADVOGADO – O senhor verificou a respiração?
PERITO – Não.
ADVOGADO – Então é possível que a vítima estivesse viva quando a autópsia começou?
PERITO – Não.
ADVOGADO – Como é que o senhor pode ter a certeza?
PERITO – Porque o cérebro da vítima estava numa bacia em cima da mesa.
ADVOGADO – Mas ele poderia estar vivo mesmo assim?
PERITO – Sim, é possível que ele estivesse vivo e a tirar o curso de direito nalguma universidade!!!

Até Breve
Publicado no jornal "tribuna Valpacense" em 08 de Abril 2011