segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O REINO DE VALDECACOS

No condado Portucalense, durante o longo consulado salazarento, todas as forças políticas partidárias foram proibidas, as liberdades individuais foram completamente coarctadas, o direito de reunião e manifestação não existiam, foi criada a censura que passava a pente fino tudo que era escrito, publicado, radiodifundido ou televisionado, e foi ainda criada uma polícia política, a tristemente celebre PIDE, para investigar, prender, torturar ou deportar aqueles raros que apesar de tudo ainda ousavam criticar o regime. A única força política legal, que apoiava o poder chamava-se UN (união nacional), e os seus membros iam desde os ideologicamente fervorosos adeptos dos regimes de direita e fascistas, que vingaram nalguns reinos da Europa nos anos 30 e 40 do século passado, até àqueles que sabiam que a posse do cartão de membro da UN lhes dava acesso privilegiado ao emprego na função pública e nas forças de segurança, assim como a certos privilégios para si e para os seus, na obtenção de casas, férias, subsídios, bolsas de estudo, etc.etc.etc… Organizações como a FNAT (federação nacional para a alegria no trabalho), MP (mocidade portuguesa) e outras serviram durante mais de 40 anos de fachada para este tipo de políticas.
Se algum grupo ou organização, teve a determinação e coragem para lutar contra o regime fascista durante todo este período, foi com certeza o PCP (partido comunista português), que teve um papel único, pleno de gente sacrificada com a clandestinidade, o exílio, a deportação, a prisão e alguns até com a própria vida. Tudo isto foi demasiado importante na história recente da luta pela instauração dum regime democrático no condado Portucalense, para poder vir a ser posto em causa por uma jardinice sem pés nem cabeça!
Aqui no reino de Valdecacos, logo após o 25 de Abril, com medo do general Otelo, de outros revolucionários sulistas e de que alguém se lembrasse de fazer do Campo da Cruz um outro Campo Pequeno, os membros e simpatizantes da UN, depressa trocaram os cartões pelos do partido laranja, de maneira que no verão de 74 já só havia democratas no reino de Valdecacos, os que haviam sido oposição ao antigo regime (poucos) e os que mudaram de cartão (muitos). Assim nasceu a democracia no reino de Valdecacos! As pessoas do poder mudaram de cartão mas não mudaram de mentalidade. Não gostam de partidos, nunca gostaram, até ao seu próprio partido entre eles não o designam por partido laranja, mas por UC (união comensal), só mudaram o nacional para comensal, porque todos aprenderam a comer do FEF (fundo de equilíbrio financeiro), que é o bolo que todos os anos o poder do Terreiro do Paço envia para o reino de Valdecacos.
Se alguém no condado Portucalense, nos tempos do Salazar se manifestasse contra o poder, era apertado pela PIDE poderia ir parar ao Aljube, a Caxias ou ao Tarrafal. Aqui no reino de Valdecacos, 35 anos depois do 25 de Abril, se alguém pertence ou quer fazer uma lista contra o poder laranja, ameaçam-lhe o emprego ou prometem-lhe o emprego à mulher e aos filhos se desistirem, violentam consciências, obrigam-nos inclusive a mudar de cartão!!! O Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum não conseguiu trazer o ensino superior para o reino de Valdecacos, mas conseguiu que o alcaide de Canaveses mudasse de rosa para laranja. Também não conseguiu uma nova ligação ao reino de Vila Mouca, porque andava distraído a convencer o alcaide de Santiago a mudar de rosa para laranja. Em 30 anos não viu que os reinos da Flávia e de Mirandum nos estavam a comer as papas na cabeça, porque o importante era que o alcaide de Lebução mudasse de rosa para laranja. A desertificação que nos atrofia e nos mata, a nós mais que aos reinos vizinhos, passa completamente ao lado do Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, cuja principal função em vez de governar que é para isso que é pago, é correr o reino de lás a lés, pressionando e manipulando alguns incautos, para que não tenham a veleidade de fazer parte de qualquer lista que não seja a UC.
A agricultura do reino e as suas organizações passam por uma crise gravíssima, havendo mesmo o risco de falência de algumas estruturas, mas tudo isso tem passado ao largo dos governantes do reino de Valdecacos, cujas atenções estão focadas na mudança do alcaide de Água Revés de rosa para laranja.
Cabem todos na União Comensal. Viva a União Comensal!! Viva Viva Viva!
Acabo com uma frase do professor Medina Carreira: “ De quem anda a viver da política para tratar da sua vida, não se pode esperar coisa nenhuma. A causa pública exige entrega e desinteresse”.

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 4 de Agosto de 2009