terça-feira, 29 de julho de 2008

O REINO DE VALDECACOS

Há situações cuja inevitabilidade parece saltar aos olhos de toda a gente, que são fatais como o destino, no dizer do povo com a sua proverbial sabedoria. Estou a falar do reino do Zimbabué e do último acto eleitoral que deu a vitória pela sexta vez consecutiva ao soba de Harare Dom Robert Mugabe.
Apesar do descalabro financeiro, da inflação galopante, das condições de vida duríssimas, do não cumprimento das mais elementares regras democráticas, da falta de emprego e segurança que leva milhares e milhares de cidadãos a procurar refúgio nos reinos vizinhos, apesar da pressão da comunidade internacional, aí o temos de novo, agarrado ao poder com unhas e dentes, sem novas ideias, sem novas soluções, sem novas politicas para inverter uma situação que caminha a largos passos para o abismo.
Dom Robert Mugabe é para mim e para muitos, o exemplo cabal do efeito que pode ter a longa permanência no poder. Indivíduos que inicialmente se apresentam ao povo como paladinos de ideais de justiça, honestidade, progresso, liberdade e tolerância, vão-se transformando aos poucos, vão construindo muralhas e barreiras que não servem o povo nem o progresso, mas apenas lhes asseguram e perpetuam o poder. Começam a ficar cegos para a realidade que os rodeia, julgam-se donos e senhores de toda a sabedoria e alguns até se convencem que são uma emanação do próprio Deus.
A oposição ao regime no reino do Zimbabué personificada por Dom Morgan Tsvangirai, Barão de Gutu, conseguiu este ano fazer tremer o poder, acabando por tomar uma atitude de desistência já perto das eleições, cujo significado e alcance só mais tarde poderemos compreender…
Também será fatal como o destino, a próxima recandidatura (salvo erro a sétima) do Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum à chefia do governo do reino de Valdecacos, assim como será uma inevitabilidade a sua vitória nas urnas e a continuação das politicas a que estamos habituados e cujo resultado está à vista de todos. A oposição que se movimenta num campo muito restrito, parece conformada com esta inevitabilidade e diga-se em abono da verdade que as perspectivas não são as melhores, em tempos de crise económica e social como estes que atravessamos.
A Marquesa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo, ocupadíssima com a reforma educativa, vai apagando fogos à esquerda e à direita e ateando contra-fogos que depois controla com alguma dificuldade! O Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña, tem muito com que se entreter (clientes), filhos para criar (pequenos) e a idade também já vai pesando… O visconde dos Cossacos Dom Filipe Pratumba, psicologicamente afectado com a falta de nicotina, de há um ano para cá o único trabalho que se lhe conhece é de queixos (chiclets). O Morgado de São Francisco Dom Catalone El Bone emocionalmente arrasado pela crise bolsista virou-se para os netos. O Marquês da Fronteira Dom Corleone de La Mancha só tem tempo para os vitivinicultores e seus agentes. O Duque de Manteigas Dom Joselito de La Estrela e Benfica deprimido com o quarto lugar do clube da luz no campeonato, transferiu o ardor benfiquista para o apoio à Ministra da educação e fá-lo com fervor tal, que deixa na maior das irritações o Barão de Águas Frias Dom Tino Flávia e o Barão do Tanque Novo Dom Jota Chitunda. Os homens da montanha, Dom Toninho de La Eira, também conhecido como Comandante Moustache e seu irmão Marquês de Rio Bom Dom Manolo de La eira, andam desaparecidos e desmotivados. O Alcaide de Valdecacos Marquês de Piscaneto, vai procurando dar resposta ás solicitações do povo da capital do reino, tarefa essa por vezes propositadamente dificultada pelo governo de Dom Xico Mirandum… Aproximam-se tempos difíceis…
Resumindo e concluindo: se a candidatura de Dom Xico Mirandum é inevitável, se a vitória do mesmo é fatal como o destino, se o jogo democrático está inquinado como todos sabemos (subsídios, pressões, favores, empregos, caciquismo), lanço a ideia a todos os partidos da oposição, que façam o mesmo que se fez no Zimbabué. Desistam das eleições à boca das urnas e deixem o Barão de Ferreiros governar só (orgulhosamente só) e dono de tudo no seu último mandato.

Até Breve
Plublicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 08 de Julho de 2008