quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O REINO DE VALDECACOS

Terra sem gentes é terra sem clientela. Esta é uma verdade insofismável, principalmente numa altura de crise generalizada, de desemprego alarmante e consequentemente de competitividade desenfreada.
Imaginação, trabalho redobrado, simpatia, brindes, saldos, publicidade, tudo serve para chamar clientes que permitam manter os postos de trabalho e as empresas a laborar. Os cafés não aumentam os preços para não perder clientes. Os restaurantes fazem refeições económicas para atrair clientes. As lojas de pronto a vestir fazem saldos para atrair novos clientes. Os advogados fazem belos discursos à procura de novos clientes. Os hipermercados fazem promoções procurando mais clientes. Os barbeiros e cabeleireiros inovam nos visuais para atrair nova clientela. Os médicos procuram com saber e simpatia angariar novos clientes. Toda a gente procura nova clientela, e daí nenhum mal virá ao mundo, antes pelo contrário, é esta situação que obriga todos os agentes que se encontram no mercado a melhorar o seu desempenho, de maneira a que os serviços que prestam sejam do agrado de quem os utiliza, e assim os clientes permaneçam fiéis. É com este esforço continuado de actualização e modernização, que os profissionais e as empresas vão lutando no dia-a-dia, numa competitividade por vezes feroz, mas que deverá ser sempre balizada por comportamentos éticos e de lealdade, que as sociedades vão evoluindo, as economias progredindo com os subsequentes benefícios para o bem-estar das populações.
É pois motivo de orgulho quando se diz que fulano e sicrano têm muitos clientes, que este ou aquele café, esta ou aquela empresa, este ou aquele restaurante têm muitos clientes. É sinal que os interessados estão a fazer um trabalho bem feito, são esforçados e os clientes correspondem.
Então será que os clientes são todos bons? Quanto maiores melhores serão as clientelas? Todas as clientelas dão lucro? E se o dão a quem o dão?
Vou falar dum tipo de clientela que é um pouco diferente de todas aquelas a que me referi até agora e que se designa por clientela política.
Quem é que não conhece políticos, que tendo acesso privilegiado a dinheiros do estado, em vez de os utilizar em benefício da causa pública, que é para isso que são destinados, os utiliza para criação de clientelismo político? Quem é que não conhece políticos que manipulam concursos públicos e oferecem empregos a quem lhes interessa para criarem clientelismo político? Quem é que não conhece políticos que passam por cima das leis que deviam ser iguais para todos, para favorecerem A, B ou C e criarem clientelismo político? Quem é que não conhece políticos que isentam de taxas e multas fulano, sicrano e beltrano para criarem clientelismo político? Todos os conhecemos, em todas as áreas políticas, e em todos os partidos, conhecemos a sua formação, os seus cursos, os seus concursos, os seus discursos, os seus percursos, e a importância que para eles têm as clientelas políticas nos períodos eleitorais. Adiante…
Alguém me disse que foram vistas a sair duma casa no Bairro das Lages, algumas personagens da aristocracia do reino. Ainda não consegui confirmar noutra fonte a veracidade da informação, e não quero entrar numa de “jornalismo de buraco de fechadura” como diz o nosso primeiro Dom Zé Trocaste, Visconde de Vilar de Maçada, mas atendendo ao insólito do lugar para a reunião e à qualidade aristocrática dos presentes, não posso deixar de referir os nomes que me chegaram ao conhecimento: o
Visconde de Jales Dom Tides Mais Branco Não Há o Marquês de Alfarelos Filho Del Rei Dom João VI, o Barão do Tanque Mansinho Dom Zé Carioca, o Presidente das Cortes Dom Juanito de la Bisabuela, o ex Cobrador Mor do Reino Dom Gigio, o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de la Niña, o famoso homem da moda Dom Helderes Cardin Pierrôt, Barão de Pé e Linhas, o primo do Marquês de Croft e com o mesmo nome Dom Hernandez Primo de Rivero, mas este com o titulo de Duque de Sálu. Também fizeram parte da reunião o Visconde da Tábua Dom Cláudio Pavor, conhecido pelo Pequeno Helvético e o Barão do Funil Dom Miro Escuro.
Ainda me falaram noutros cujo nome não me vem á memória, mas que procurarei confirmar! Reunião nas Lages? No bairro operário? Serão os novos conjurados? Virá aí um novo 1640?

Até Breve !
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense", em 12 de Fevereiro de 2010