Soube também que os cartazes
acabaram por não aparecer por pressões várias do Barão de Ferreiros Dom Xico
Mirandum, para quem pelos vistos, o direito à indignação e à manifestação do
desagrado pela perda de um equipamento fundamental para o povo como era o
hospital é menos importante que a imagem idílica, prosaica e cordata das
criancinhas a bater palmas, num esquema ensaiado por professores e políticos
que me fez lembrar as visitas do finado Almirante Américo Tomás, não faltando
no fim da cerimónia um opíparo almoço para as entidades, pois ao contrario do
sol, a crise quando nasce não é para todos.
Não houve um só ano desde a
revolução de Abril, em que a dívida do condado Portucalense e de todos os
reinos que o compõem não tivesse aumentado, encontrando-nos neste momento a
braços com a maior crise de sempre. Os políticos, todos eles, gastaram o que
tinham e o que não tinham, e quantos mais anos passaram no poder mais gastaram.
Tanto no poder central como no poder local.
Quem não conhece obras faraónicas,
obras desnecessárias, subsídios mal atribuídos, subsídios não aplicados na
finalidade com que foram obtidos, ordenados chorudos, senhas de presença
principescamente pagas por empresas públicas, viagens sumptuosas, carros topo
de gama, assessorias mal justificadas e pagas a peso de ouro, etc. etc. etc.
Pois agora o discurso
politicamente correcto é o discurso da poupança e o nosso chefe do governo Dom
Xico Mirandum, numa de bom aluno perante o afamado professor de finanças, lá
foi dizendo que deixando as aldeias do reino às escuras durante a noite já
conseguiu poupar 11 milhões de euros.
Essa quantia, daria para
construir e equipar em excelente hospital que não temos.
Daria para construir um complexo
de piscinas com parque de campismo e um mini Zoológico na zona da Freixeda,
sonho antigo das gentes de Valdecacos, e que não temos.
Daria para apoiar a criação de
empresas de transformação na indústria agro-alimentar (castanha, figo, frutos
secos, azeitonas, compotas, etc.), criando emprego e fixando pessoas, mas que
também não temos.
Daria para adquirir, reconstruir
e conservar o pouco património histórico e arquitectónico do reino que se
encontra ao abandono…
Daria para apoiar a criação de explorações
familiares de porco bísaro, certificando o fumeiro como se faz no vizinho reino
de Vinhais, criando emprego e fixando pessoas nas suas aldeias, fumeiro que
entra na elaboração do folar que apesar de tantas feiras ainda não saiu da cepa
torta.
Daria para construir de raiz uma
escola profissional com cursos credíveis e virados para o mercado de trabalho,
que também não temos…
Daria para construir e equipar o
pólo universitário do Instituto Politécnico de Bragança, promessa não cumprida
de uma campanha eleitoral, com protocolo assinado e tudo, mas que não temos…
Então para que serviram os 11
milhões de poupança? Estarão na Caixa a render? Ou serviram apenas politicas
eleitoralistas que mantiveram no poder a mesma força política nos últimos 30
anos?
As cortes do condado Portucalense
elegeram para sua presidente a Baronesa do Terreiro Dona Expropriação Esteves,
nada e criada no reino de Valdecacos, jurista com carreira invejável, e que já
tinha sido a primeira mulher a exercer funções no Tribunal Constitucional. Tendo
já tido um voto de louvor e congratulação aprovado por unanimidade nas cortes
de Valdecacos, vai agora presidir à inauguração da Biblioteca do reino. O Barão
de Ferreiros Dom Xico Mirandum que dela disse o que o Maomé não disse do toucinho,
por causa dos terrenos da zona industrial, em que o governo de Valdecacos foi
condenado a pagar um balúrdio, terá agora que dizer o contrário, o que para um político
há 30 anos no poder não é nada do outro mundo!!
O Marquês dos Colmeais, Dom
Filipe Pratumba, personagem destas crónicas, há alguns anos arredado da vida
política, deixou-nos prematuramente, não passando já de saudade, as animadas
tertúlias no café Purgatório, com o Barão do Tanque Novo Dom Jota Xitunda, o
Marquês de Águas Frias Dom Tino Flávia, o Duque de Manteigas Dom Joselito de La
Estrela e Benfica e o Morgado de S. Francisco Dom Catalone El Bone. As suas
“bocas” propositadamente destabilizadoras conhecidas como “pratumbadas”,
levavam os outros intervenientes a um estado de quase apoplexia, deixando o
Marquês de Tinoni Dom Bino Flavia de olhos arregalados atrás do balcão, quando
se levantava, risonho a caminho dos Colmeais de melena ao vento, depois de ter
provocado a maior das confusões. Imagino-o agora, na restinga do Lobito
sentindo a brisa do mar e olhando o por do sol ímpar daquele rincão africano
que ele tanto amava.
Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 04 de Novembro de 2011