Lá para os lados do oriente
existiu um reino situado em terras da Mesopotâmia, palavra cujo significado
etimológico é, no meio dos rios, cujos nomes são o Tigre e o Eufrates, terras
férteis e generosas, onde o maná e mel corriam com abundância e onde os
historiadores situam o berço de todas a civilizações.
Pois foi por lá, nesse reino de
sultões e de califas, frequentemente atravessado por caravanas que do extremo
oriente traziam as sedas e as especiarias, o ouro o incenso e a mirra, que se
formou uma quadrilha de 40 ladrões, que assaltavam as caravanas e guardavam os
tesouros roubados numa gruta, em cuja entrada havia um enorme rochedo que se
abria quando as palavras mágicas “abre-te sésamo” eram pronunciadas.
Ora um belo dia, andando por ali
a apascentar meia dúzia de cabras, um belo, simpático e pobre rapaz chamado Ali
Baba, ouvindo chegar no meio de grande poeirada os 40 ladrões montados nos seus
camelos com o produto do roubo, escondeu-se e ouviu as palavras mágicas que
abriram a gruta. Quando os ladrões se foram embora, o Ali Baba dirigiu-se à
entrada da gruta, gritou “abre-te sésamo”, viu o rochedo abrir-se e lá dentro
encontrou o maior dos tesouros que um homem pode imaginar e que o transformaram
num aventureiro romântico e protagonista de inúmeras peripécias.
No reino de Valdecacos, temos uma
instituição há muitos e muitos anos governada por um Ali Baba e 40 figurões,
mas em contraponto com o lado romântico e aventureiro do Ali Baba do oriente, o
Ali Baba de Valdecacos, é um personagem com um ar sinistro e um passado
tenebroso, de carnes balofas e um cumprimento húmido e pegajoso que provoca
arrepios. Os 40 figurões, ao longo dos anos e rotativamente, são convidados,
manipulados, usados, comprometidos e descartados quando aprendem demasiado.
Tantas e tão poucas o Ali Baba
foi aprontando ao longo dos tempos, umas com menos e outras de maior gravidade
que a sua posição se tornou insustentável, as carradas e carradas de presuntos,
salpicões, linguiças, alheiras e vinho, já não convencem ninguém, e as pressões
foram de tal ordem que o Ali Baba teve de abdicar mas ficaram os 40 figurões,
alguns com uma escola pouco recomendável, o que não augura nada de bom, outros
não tão mal intencionados mas que dizem a tudo que sim, a troco de uma merenda
gratuita.
O Ali Há Latas, ligado aos
negócios estrangeiros, há longos anos residente no reino da Flávia embora nado
e criado no reino de Valdecacos, foi a personagem escolhida para substituir o
Ali Baba. Homem de personalidade forte, com um passado combativo e impoluto,
esperemos que entre na gruta dos tesouros e mude as palavras mágicas mas não as
revele a ninguém, caso contrário pela calada da noite quando se encontrar na
Flávia a descansar, os que agora vão embora contra a vontade, voltarão para
continuar a fazer aquilo em que estão viciados e todos sabemos como é grande a
força do vício.
Teremos então mudança e ruptura
com um passado que nos envergonha a todos, ou tudo isto não passará de uma
encenação para esconder os podres que todos sabemos que existem e que se não
forem erradicados, acabarão por contaminar mesmo o melhor dos intencionados?
Cuidado Ali Há Latas! No melhor
pano cai a nódoa, e a gruta que durante tantos e tantos anos o Ali Baba
considerou como sua, está cheia de lâmpadas de Aladino, mas estas com génios do
mal embebidos numa gordura peçonhenta e mal cheirosa, cuja nódoa quando cai mesmo
no melhor dos panos, é praticamente impossível de tirar.
Até Breve
Publicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 02 de dezembro de 2011