sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


Lá para os lados do oriente existiu um reino situado em terras da Mesopotâmia, palavra cujo significado etimológico é, no meio dos rios, cujos nomes são o Tigre e o Eufrates, terras férteis e generosas, onde o maná e mel corriam com abundância e onde os historiadores situam o berço de todas a civilizações.
Pois foi por lá, nesse reino de sultões e de califas, frequentemente atravessado por caravanas que do extremo oriente traziam as sedas e as especiarias, o ouro o incenso e a mirra, que se formou uma quadrilha de 40 ladrões, que assaltavam as caravanas e guardavam os tesouros roubados numa gruta, em cuja entrada havia um enorme rochedo que se abria quando as palavras mágicas “abre-te sésamo” eram pronunciadas.
Ora um belo dia, andando por ali a apascentar meia dúzia de cabras, um belo, simpático e pobre rapaz chamado Ali Baba, ouvindo chegar no meio de grande poeirada os 40 ladrões montados nos seus camelos com o produto do roubo, escondeu-se e ouviu as palavras mágicas que abriram a gruta. Quando os ladrões se foram embora, o Ali Baba dirigiu-se à entrada da gruta, gritou “abre-te sésamo”, viu o rochedo abrir-se e lá dentro encontrou o maior dos tesouros que um homem pode imaginar e que o transformaram num aventureiro romântico e protagonista de inúmeras peripécias.
No reino de Valdecacos, temos uma instituição há muitos e muitos anos governada por um Ali Baba e 40 figurões, mas em contraponto com o lado romântico e aventureiro do Ali Baba do oriente, o Ali Baba de Valdecacos, é um personagem com um ar sinistro e um passado tenebroso, de carnes balofas e um cumprimento húmido e pegajoso que provoca arrepios. Os 40 figurões, ao longo dos anos e rotativamente, são convidados, manipulados, usados, comprometidos e descartados quando aprendem demasiado.
Tantas e tão poucas o Ali Baba foi aprontando ao longo dos tempos, umas com menos e outras de maior gravidade que a sua posição se tornou insustentável, as carradas e carradas de presuntos, salpicões, linguiças, alheiras e vinho, já não convencem ninguém, e as pressões foram de tal ordem que o Ali Baba teve de abdicar mas ficaram os 40 figurões, alguns com uma escola pouco recomendável, o que não augura nada de bom, outros não tão mal intencionados mas que dizem a tudo que sim, a troco de uma merenda gratuita.
O Ali Há Latas, ligado aos negócios estrangeiros, há longos anos residente no reino da Flávia embora nado e criado no reino de Valdecacos, foi a personagem escolhida para substituir o Ali Baba. Homem de personalidade forte, com um passado combativo e impoluto, esperemos que entre na gruta dos tesouros e mude as palavras mágicas mas não as revele a ninguém, caso contrário pela calada da noite quando se encontrar na Flávia a descansar, os que agora vão embora contra a vontade, voltarão para continuar a fazer aquilo em que estão viciados e todos sabemos como é grande a força do vício.
Teremos então mudança e ruptura com um passado que nos envergonha a todos, ou tudo isto não passará de uma encenação para esconder os podres que todos sabemos que existem e que se não forem erradicados, acabarão por contaminar mesmo o melhor dos intencionados?
Cuidado Ali Há Latas! No melhor pano cai a nódoa, e a gruta que durante tantos e tantos anos o Ali Baba considerou como sua, está cheia de lâmpadas de Aladino, mas estas com génios do mal embebidos numa gordura peçonhenta e mal cheirosa, cuja nódoa quando cai mesmo no melhor dos panos, é praticamente impossível de tirar.

Até Breve

Publicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 02 de dezembro de 2011