quinta-feira, 12 de julho de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE

Aqui há tempos, encontrando-me no Porto com um grupo de pessoas do norte entre as quais algumas do nosso reino, queixei-me do autêntico marasmo em que caiu a capital de Valdecacos. Comércios vazios, lojas encerradas, vivendas fechadas, apartamentos à venda, cafés com um ou dois gatos-pingados, ruas desertas e se por acaso nos cruzamos com alguém, as pessoas carregam um semblante triste e acabrunhado de quem já perdeu todas a ilusões.
Mas pior do que ter perdido as ilusões, é as pessoas terem perdido a capacidade de se revoltar contra as circunstâncias que transformaram um dos melhores reinos de Trás-os-Montes e a sua capital, num arremedo de cidade, rodeada por lugarejos que já foram Aldeias com A grande, mas que agora não passam de lares de terceira idade a céu aberto.
O reino de Valdecacos caminha a passos largos para um abismo há muito anunciado, e os responsáveis pelo governo local, continuam a assobiar para o lado, a embolsar os ordenados, as ajudas de custo e as senhas de presença, como se nada fosse com eles. Apenas estão preocupados em assegurar para filhos amigos e enteados, um lugar à mesa do orçamento, que eles vão ter de abandonar por imposição da lei.
A fundação Francisco Manuel dos Santos, ligada ao grupo Jerónimo Martins, criou a maior base de dados sobre o condado Portucalense e todos os seus reinos. Chama-se PORDATA e pode ser consultada na internet em pordata.pt.
Ali podemos consultar a evolução do país em vários domínios ao longo dos últimos 20 anos, desde taxas de natalidade e mortalidade, desemprego, desenvolvimento, emprego, ambiente, qualidade de vida, poder de compra, actividades culturais, demografia, processos judiciais, estabelecimentos de educação e de saúde, etc…etc…etc.
Todos os reinos do condado Portucalense podem ser comparados uns com os outros e podereis constatar que o lugar do reino de Valdecacos nos vários rankings, anda sempre pelos fundos das tabelas, contrariando a visão dos responsáveis políticos locais, que em discurso atrás de discurso têm convencido o povo ao longo dos anos a dar-lhes o voto, num dos maiores e repetidos embustes de que tenho conhecimento.
Nessa reunião no Porto, um dos presentes que assistia à conversa, figura grada do partido laranja a nível nacional, lá foi argumentando que Valdecacos tinha tido muito azar com o facto de circunstancialmente os governantes locais sem excepção terem sido muito pouco competentes ao longo de muitos anos, aliado ao facto de termos dois polos de atracção muito mais fortes a norte e a sul do reino, que são os reinos de Mirandum e da Flávia, e tudo isto levou à situação de catástrofe em que nos encontramos. Não deixou também de me referir, que muitas vezes o chefe faz a diferença pouco importando a fraqueza ou fortaleza do reino e do povo, dando-me como exemplo dentro do seu próprio partido e também na nossa região, do caso de reino do Boticário e do seu chefe do governo Dom Fernando Campónio, que conseguiu para o seu pequeno reino aquilo que outros nunca conseguiram, fosse qual fosse a cor dominante no Terreiro do Paço.
É por estas e por outras que o Dom Fernando Campónio como muitos outros que agora vão ter de abandonar o poder devido à limitação de mandatos, já se consta que provavelmente será convidado a encabeçar uma lista no reino da Flávia. Também estou convencido que aqui em Valdecacos faria um bom lugar, sendo a meu ver muito mais capaz que qualquer dos candidatos que até agora se perfilam, tendo até a vantagem de poder vir a habitar no palacete que o seu grande amigo e presidente da Fundação Oriente Dom Staneloy Ho está a reconstruir na capital do reino.
Então o nosso Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum ninguém o quer? Estou convencido que os habitantes de Valdecacos o transferem de bom grado sem querer nada pelo passe e ainda dão meia dúzia de folares de bónus a quem o levar.
Ou será que o Marquês de Alijó Dom Pedro Morronel lhe vai retribuir o favor e o chama para assessor?



PS: É raro dia em que a torre da igreja da capital do reino não toca os sinais a defuntos. Muito boa gente tem partido deste reino envelhecido e triste. Soube extemporaneamente da morte da mãe dum personagem destas crónicas que é o barão do Tanque Mansinho Dom Zé Carioca. Verdadeira mulher do povo, corajosa, simples e respeitadora, apanágio das gentes antigas de Valdecacos, gentes a quem podia faltar tudo, mas nunca faltava a dignidade. Exemplos infelizmente hoje raros de se encontrar. Ao Dom Zé Carioca os meus respeitosos sentimentos.

Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 11 de Maio de 2012