Aqui há tempos, encontrando-me no
Porto com um grupo de pessoas do norte entre as quais algumas do nosso reino,
queixei-me do autêntico marasmo em que caiu a capital de Valdecacos. Comércios
vazios, lojas encerradas, vivendas fechadas, apartamentos à venda, cafés com um
ou dois gatos-pingados, ruas desertas e se por acaso nos cruzamos com alguém,
as pessoas carregam um semblante triste e acabrunhado de quem já perdeu todas a
ilusões.
Mas pior do que ter perdido as
ilusões, é as pessoas terem perdido a capacidade de se revoltar contra as
circunstâncias que transformaram um dos melhores reinos de Trás-os-Montes e a
sua capital, num arremedo de cidade, rodeada por lugarejos que já foram Aldeias
com A grande, mas que agora não passam de lares de terceira idade a céu aberto.
O reino de Valdecacos caminha a
passos largos para um abismo há muito anunciado, e os responsáveis pelo governo
local, continuam a assobiar para o lado, a embolsar os ordenados, as ajudas de
custo e as senhas de presença, como se nada fosse com eles. Apenas estão
preocupados em assegurar para filhos amigos e enteados, um lugar à mesa do
orçamento, que eles vão ter de abandonar por imposição da lei.
A fundação Francisco Manuel dos
Santos, ligada ao grupo Jerónimo Martins, criou a maior base de dados sobre o
condado Portucalense e todos os seus reinos. Chama-se PORDATA e pode ser
consultada na internet em pordata.pt.
Ali podemos consultar a evolução
do país em vários domínios ao longo dos últimos 20 anos, desde taxas de
natalidade e mortalidade, desemprego, desenvolvimento, emprego, ambiente,
qualidade de vida, poder de compra, actividades culturais, demografia,
processos judiciais, estabelecimentos de educação e de saúde, etc…etc…etc.
Todos os reinos do condado Portucalense
podem ser comparados uns com os outros e podereis constatar que o lugar do
reino de Valdecacos nos vários rankings, anda sempre pelos fundos das tabelas,
contrariando a visão dos responsáveis políticos locais, que em discurso atrás
de discurso têm convencido o povo ao longo dos anos a dar-lhes o voto, num dos
maiores e repetidos embustes de que tenho conhecimento.
Nessa reunião no Porto, um dos
presentes que assistia à conversa, figura grada do partido laranja a nível
nacional, lá foi argumentando que Valdecacos tinha tido muito azar com o facto
de circunstancialmente os governantes locais sem excepção terem sido muito
pouco competentes ao longo de muitos anos, aliado ao facto de termos dois polos
de atracção muito mais fortes a norte e a sul do reino, que são os reinos de
Mirandum e da Flávia, e tudo isto levou à situação de catástrofe em que nos
encontramos. Não deixou também de me referir, que muitas vezes o chefe faz a
diferença pouco importando a fraqueza ou fortaleza do reino e do povo, dando-me
como exemplo dentro do seu próprio partido e também na nossa região, do caso de
reino do Boticário e do seu chefe do governo Dom Fernando Campónio, que
conseguiu para o seu pequeno reino aquilo que outros nunca conseguiram, fosse
qual fosse a cor dominante no Terreiro do Paço.
É por estas e por outras que o
Dom Fernando Campónio como muitos outros que agora vão ter de abandonar o poder
devido à limitação de mandatos, já se consta que provavelmente será convidado a
encabeçar uma lista no reino da Flávia. Também estou convencido que aqui em
Valdecacos faria um bom lugar, sendo a meu ver muito mais capaz que qualquer
dos candidatos que até agora se perfilam, tendo até a vantagem de poder vir a
habitar no palacete que o seu grande amigo e presidente da Fundação Oriente Dom
Staneloy Ho está a reconstruir na capital do reino.
Então o nosso Barão de Ferreiros
Dom Xico Mirandum ninguém o quer? Estou convencido que os habitantes de
Valdecacos o transferem de bom grado sem querer nada pelo passe e ainda dão
meia dúzia de folares de bónus a quem o levar.
Ou será que o Marquês de Alijó
Dom Pedro Morronel lhe vai retribuir o favor e o chama para assessor?
PS: É raro dia em que a torre da
igreja da capital do reino não toca os sinais a defuntos. Muito boa gente tem
partido deste reino envelhecido e triste. Soube extemporaneamente da morte da
mãe dum personagem destas crónicas que é o barão do Tanque Mansinho Dom Zé
Carioca. Verdadeira mulher do povo, corajosa, simples e respeitadora, apanágio
das gentes antigas de Valdecacos, gentes a quem podia faltar tudo, mas nunca
faltava a dignidade. Exemplos infelizmente hoje raros de se encontrar. Ao Dom
Zé Carioca os meus respeitosos sentimentos.
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 11 de Maio de 2012