domingo, 5 de agosto de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE

Ele está em todas. Agora que nos encontramos em plena quadra festiva dos santos populares, lembra-me esse grande santo casamenteiro de seu nome Fernando Bulhões mas que todos conhecemos como Stº. António de Lisboa ou de Pádua conforme a nossa nacionalidade, único santo da igreja a quem Deus concedeu o dom da ubiquidade, ou seja o poder de estar em mais que um local ao mesmo tempo.
Pois o nosso personagem, até parece que tem o mesmo dom dada a sua assídua presença em toda a parte. Se há um batizado em Lebução e outro na Veiga lá o vemos a tirar uma fotografia e dar um beijo ao neófito num lado, e a fotografar-se com os avós no outro. Se há um casamento em São João e outro em Rio Torto lá o vemos num lado e noutro a cumprimentar noivos e convidados, com um sorriso de orelha a orelha.
Se há festa com procissão é certo encontra-lo atrás do andor principal, com o ar circunspecto e fervoroso de que o povo tanto gosta.
Se há arraial mesmo na mais recôndita das aldeias do reino, aí o temo a confraternizar com as pessoas, a comentar o fogo-de-artifício, a fazer uma oferta simbólica ao padroeiro ou padroeira.
Se há um evento desportivo lá está ele a distribuir sorrisos e medalhas, falando nos benefícios da actividade física e no seu amor pela modalidade seja ela qual for.
Se há apresentação de um livro no centro cultural, lá o temos a tecer elogios ao escritor e a arengar sobre literatura portuguesa, da importância do conhecimento dos clássicos da sua preferência pelos românticos, do estilo dos modernos e contemporâneos, omitindo propositadamente o nosso único prémio Nobel por motivos de ordem ideológica.
Se pelo contrário houver uma exposição de artesanato lá está ele a falar da importância do mesmo, e de como irá incentivar e apoiar os artesãos, criando um fundo especialmente destinado para o efeito.
Também já o vimos a apresentar escultores e pintores, discorrendo sobre a importância das artes plásticas na formação de um individuo e da mais-valia estética dos quadros pendurados nas paredes de um futuro museu que ele irá mandar construir, aproveitando a sinergia dos nossos emigrantes para fazer intercâmbios culturais e exposições concertadas com os maiores museus do mundo, desde o MoMa de Nova Iorque, ao Guggenheim de Bilbao passando pelo museu do Prado pelo Louvre, o Hermitage, todos eles farão intercambio com o futuro museu de Valdecacos, que será provavelmente instalado num dos barracões existentes nas traseiras da Casa do Vinho (que por sinal cheira a azeite rançoso), que evidentemente terão obras de remodelação a cargo de um dos empreiteiros do regime.
Se uma das inúmeras associações ditas culturais e para o desenvolvimento, que proliferam por todas as alcaiderias do reino e que são um sorvedouro de dinheiros públicos e uma forma de encapotadamente financiar actividades do partido laranja necessita de algum subsídio, e o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum oferece 500, o nosso personagem vai por trás e diz que se fosse ele a mandar dava 1000.
Uma das actividades que lhe dá mais trabalho são os funerais. Com os habitantes do reino completamente envelhecidos e os militantes a morrerem que nem tordos, é vê-lo, afivelando uma mascara de gato-pingado, a dar os sentidos pêsames às viúvas filhos e netos, prometendo melhorias nas calçadas e nos cemitérios para tornar mais fácil a ultima viagem e mais confortável a ultima morada. Cumprindo a cartilha do verdadeiro autarca de Valdecacos os eleitores são acompanhados do nascimento até à morte e nos mais importantes eventos da vida.
A esta altura do campeonato, não do europeu que ainda decorre mas das autárquicas, já toda a gente identificou o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor com o personagem que está na berlinda. Não é segredo para ninguém que ele quer suceder ao Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, e faz e fará tudo para concretizar esse desejo, chegando a perder as estribeiras com quem supostamente lhe possa fazer sombra.
Aqui há tempos num jantar de amigos em que se encontravam presentes vários elementos que há uns anos atrás militaram nas jotas laranja e rosa do reino de Valdecacos, e dada a situação de descalabro a que chegou o reino, pensaram em apoiar algum dos jovens persentes para encabeçar uma alternativa credível, vinda da sociedade civil, uma personalidade com provas dadas fora do reino, que já estivesse estado à frente de empresas ou instituições com responsabilidades acrescidas com curso credível tirado em universidade estatal, com ideias novas, sem vícios ou ligações com o polvo instalado. Segundo apurei, um dos intervenientes nesse jantar foi o Marquês de Tábuas Dom Claudino Apavorado também conhecido pelo Pequeno Helvético. Pois quando o Marquês de Calavinhos Dom Milkes soube disso convocou o Pequeno Helvético à sede do governo e de traidor para cima chamou-lhe tudo, culpando também o Barão de Ferreiros pelo acontecimento, chegando a dizer ao Dom Xico Mirandum num tom de voz completamente alterado que o melhor que tinha a fazer era arrumar as botas e ir embora pois já não mandava nada.
Guardado está o bocado para quem o há-de comer”, diz o povo. 



PS: Quando vires um homem bom imita-o; quando vires um homem mau olha para ti mesmo.(Confúcio)


Até Breve

Publicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 07 de Julho de 2012