Pois o nosso personagem, até
parece que tem o mesmo dom dada a sua assídua presença em toda a parte. Se há
um batizado em Lebução e outro na Veiga lá o vemos a tirar uma fotografia e dar
um beijo ao neófito num lado, e a fotografar-se com os avós no outro. Se há um
casamento em São João e outro em Rio Torto lá o vemos num lado e noutro a
cumprimentar noivos e convidados, com um sorriso de orelha a orelha.
Se há festa com procissão é certo
encontra-lo atrás do andor principal, com o ar circunspecto e fervoroso de que
o povo tanto gosta.
Se há arraial mesmo na mais
recôndita das aldeias do reino, aí o temo a confraternizar com as pessoas, a
comentar o fogo-de-artifício, a fazer uma oferta simbólica ao padroeiro ou
padroeira.
Se há um evento desportivo lá
está ele a distribuir sorrisos e medalhas, falando nos benefícios da actividade
física e no seu amor pela modalidade seja ela qual for.
Se há apresentação de um livro no
centro cultural, lá o temos a tecer elogios ao escritor e a arengar sobre
literatura portuguesa, da importância do conhecimento dos clássicos da sua
preferência pelos românticos, do estilo dos modernos e contemporâneos, omitindo
propositadamente o nosso único prémio Nobel por motivos de ordem ideológica.
Se pelo contrário houver uma
exposição de artesanato lá está ele a falar da importância do mesmo, e de como
irá incentivar e apoiar os artesãos, criando um fundo especialmente destinado
para o efeito.
Também já o vimos a apresentar
escultores e pintores, discorrendo sobre a importância das artes plásticas na
formação de um individuo e da mais-valia estética dos quadros pendurados nas
paredes de um futuro museu que ele irá mandar construir, aproveitando a
sinergia dos nossos emigrantes para fazer intercâmbios culturais e exposições
concertadas com os maiores museus do mundo, desde o MoMa de Nova Iorque, ao
Guggenheim de Bilbao passando pelo museu do Prado pelo Louvre, o Hermitage,
todos eles farão intercambio com o futuro museu de Valdecacos, que será
provavelmente instalado num dos barracões existentes nas traseiras da Casa do
Vinho (que por sinal cheira a azeite rançoso), que evidentemente terão obras de
remodelação a cargo de um dos empreiteiros do regime.
Se uma das inúmeras associações
ditas culturais e para o desenvolvimento, que proliferam por todas as
alcaiderias do reino e que são um sorvedouro de dinheiros públicos e uma forma
de encapotadamente financiar actividades do partido laranja necessita de algum
subsídio, e o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum oferece 500, o nosso
personagem vai por trás e diz que se fosse ele a mandar dava 1000.
Uma das actividades que lhe dá
mais trabalho são os funerais. Com os habitantes do reino completamente
envelhecidos e os militantes a morrerem que nem tordos, é vê-lo, afivelando uma
mascara de gato-pingado, a dar os sentidos pêsames às viúvas filhos e netos,
prometendo melhorias nas calçadas e nos cemitérios para tornar mais fácil a
ultima viagem e mais confortável a ultima morada. Cumprindo a cartilha do
verdadeiro autarca de Valdecacos os eleitores são acompanhados do nascimento
até à morte e nos mais importantes eventos da vida.
A esta altura do campeonato, não
do europeu que ainda decorre mas das autárquicas, já toda a gente identificou o
Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor com o personagem que está na
berlinda. Não é segredo para ninguém que ele quer suceder ao Barão de Ferreiros
Dom Xico Mirandum, e faz e fará tudo para concretizar esse desejo, chegando a
perder as estribeiras com quem supostamente lhe possa fazer sombra.
Aqui há tempos num jantar de
amigos em que se encontravam presentes vários elementos que há uns anos atrás
militaram nas jotas laranja e rosa do reino de Valdecacos, e dada a situação de
descalabro a que chegou o reino, pensaram em apoiar algum dos jovens persentes
para encabeçar uma alternativa credível, vinda da sociedade civil, uma
personalidade com provas dadas fora do reino, que já estivesse estado à frente
de empresas ou instituições com responsabilidades acrescidas com curso credível
tirado em universidade estatal, com ideias novas, sem vícios ou ligações com o
polvo instalado. Segundo apurei, um dos intervenientes nesse jantar foi o
Marquês de Tábuas Dom Claudino Apavorado também conhecido pelo Pequeno
Helvético. Pois quando o Marquês de Calavinhos Dom Milkes soube disso convocou
o Pequeno Helvético à sede do governo e de traidor para cima chamou-lhe tudo,
culpando também o Barão de Ferreiros pelo acontecimento, chegando a dizer ao
Dom Xico Mirandum num tom de voz completamente alterado que o melhor que tinha
a fazer era arrumar as botas e ir embora pois já não mandava nada.
“Guardado está o bocado para quem o há-de comer”, diz o povo.
PS: Quando vires um homem bom
imita-o; quando vires um homem mau olha para ti mesmo.(Confúcio)
Até Breve
Publicado no Jornal "Tribuna Valpacense" em 07 de Julho de 2012