sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


O Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum anunciou com pompa e circunstância que vai abandonar o poder até ao final do ano, ou seja, não fica até ao último minuto da última hora do último dia, que seria algures no último trimestre do próximo ano.
Esta situação que deixou perplexos alguns comentadores políticos e surpreendeu alguns elementos da oposição, tem a meu ver uma primeira e principal justificação, de que falarei mais adiante.
Foram no entanto vinte e sete anos, ou seja, nove mil oitocentos e sessenta e três dias, duzentas e trinta e seis mil quinhentas e vinte horas, catorze milhões cento e noventa e um mil e duzentos minutos de poder raras vezes partilhado, exercido com rédea curta, sempre obediente às indicações do partido, sem nunca ter tido uma visão estratégica para o reino que foi perdendo a importância regional que já teve em relação aos vizinhos reinos de Minrandum e da Flávia.
Vinte anos antes de no Condado Portucalense se falar em partidocracia, ou seja, uma forma de estado em que as oligarquias partidárias assumem o controlo efetivo do poder, já eu na primeira crónica escrita no extinto Jornal de Valdecacos, cujo proprietário e diretor era o Marquês das Padanas Dom Godofredo Barroso, alertava para o poder desmesurado e discricionário de sua majestade laranjinha no reino de Valdecacos.
Pois ao fim deste quase quarenta anos de poder laranja no reino de Valdecacos, 70% dos quais exercidos por Dom Xico Mirandum, em que houve mais que tempo para preparar uma passagem de poder que nos permitisse olhar o futuro com alguma esperança, isto é, uma candidatura jovem, vinda da sociedade civil, alguém com provas dadas no ramo empresarial, com ideias abertas, com bom relacionamento e bons contactos no Condado Portucalense e no estrangeiro, ou um profissional liberal credível, com provas dadas no seu ramo de atividade, com curso tirado em universidade do estado, sem cadeiras feitas ao domingo ou por equivalência, alguém que não precisasse da politica para sobreviver, alguém que nos soubesse defender e reivindicasse no Terreiro do Paço aquilo que é nosso por direito, alguém com um plano de desenvolvimento bem estruturado, alguém com vontade de servir o povo e não de fazer carreira politica. Podia ou não o Dom Xico Mirandum ter-se batido por uma solução destas? Então por que é que o não fez?
Porque se o fizesse, ao fim de seis meses os seus quase vinte e oito anos de governação seriam completamente ofuscados e o povo aperceber-se-ia rapidamente da tremenda asneira que foi mantê-lo no poder durante tanto tempo.
Aí o Barão de ferreiros começou a pensar numa solução em que as coisas só pudessem ir para pior, pois seria a única maneira do povo vir a sentir algumas saudades…
E não precisou de pensar muito, conhecendo ele a peça melhor que ninguém, tirou da cartola o Marquês de Calavinhos que já se encontra no governo há doze anos e se prepara para chefiá-lo mais doze.
Alguém lhe conheceu algum elemento curricular de relevo, alguma ideia, algum programa nos anos em que esteve no governo de Dom Xico Mirandum? Que se saiba os doze anos serviram apenas para aliciar e inscrever militantes no partido de sua majestade laranjinha.
Será este o castigo para quem foi presidente da assembleia geral da confraria que levou ao encerramento do Hospital de Valdecacos?
Se a situação não fosse trágica, até daria vontade de rir, a mim quando me contaram olhei em redor a ver se descobria alguma câmara de filmar da televisão, pois pensei que era o programa dos apanhados mas infelizmente não, parece que é mesmo verdade!!
Maquiavélico! È o adjetivo adequado para a maneira encontrada por Dom Xico Mirandum se tornar desejado depois de se ter ido embora. Já o imagino a rir-se para os seus botões e a pensar “eu vou-me embora mas ainda ides chorar por mim”.
Então e os rosas o que é que fazem no meio de esta tragicomédia? E os centristas? E os laranjinhas? O que pensa a Condessa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo? E o Visconde de Puralina Dom Tião Cidade das Neves? E o histórico alcaide de Valdecacos Dom Lapalino Del Sardon? E o seu filho Dom Maugénio Del Sardon? E o Marquês de Piscaneto Dom Zé Generoso? E o Duque de Manteigas Dom Joselito de La Estrela e Benfica? E o Barão do Tanque Mansinho Dom Zé Carioca? E o Presidente da Fundação Oriente Dom Staneloy Ho? O que é que toda esta gente tem a dizer sobre esta solução que tem um significado de “evolução na continuidade” da passagem de testemunho do Salazar para Marcelo Caetano. Será que também teremos que esperar quatro ou cinco anos para termos o nosso 25 de Abril?
Consta-se que o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña tem vindo a ser contactado e pressionado para encabeçar uma candidatura abrangente, que defronte o poder instituído. A ver vamos!
 

PS: “O preço a pagar pela tua não participação na política, é seres governado por quem é inferior”. (Platão 428-347 A.C.). 

Até Breve
Publicado no jornal Tribuna Valpacense em 07 de Dezembro de 2012