sexta-feira, 15 de março de 2013

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


Estas crónicas alimentaram-se durante quase trinta anos nas peripécias de um pequeno personagem que o Marquês de Croft Dom Manolo Primo de Rivero apelidou com alguma ironia de Tamagoshi, devido à sua pequena estatura, ao bigodito que acabou por sacrificar por motivos de ordem eleitoral, e à maneira rápida e cadenciada de ler os discursos, com um certo acento nipónico que deixava o povo de boca aberta e olhos arregalados de espanto pois não entendia absolutamente nada, facto esse que acabou por beneficia-lo em termos eleitorais, pois como todos sabemos os discursos dos políticos não são para entender mas sim para aplaudir.
É pois para mim extremamente difícil continuar a escrever as cronicas do reino sem ver diante dos olhos o japonesinho irrequieto e irrascível, que durante tantos e tantos anos foi fonte de inspiração e de brincadeira inocente, pontuada de quando em vez por uma certa picardia como convém nestas situações.
Estou pois seriamente a pensar por um fim nas crónicas do reino, também me sinto no direito a um merecido descanso, quem sabe rumar ao nordeste do reino do Brasil, comprar uma cabana de pescadores numa daquelas praias paradisíacas, refrescar-me com uma água de coco, degustando camarão frito e umas patas de siri, subindo e descendo as dunas e as bundas, que naquela região são das mais bonitas do mundo.
È este o sentimento que me invade o coração e me amolece a alma! A partida do Barão de Ferreiros deixou-me esta imensa nostalgia e não me parece que qualquer dos outros personagens da aristocracia do reino de Valdecacos, consiga preencher este vazio deixado por Dom Xico Mirandum.
O Barão de Ferreiros conduziu o reino de Valdecacos ao sec.XXI da mesma maneira que se conduz o comboio numa montanha russa. A viagem tal como os discursos foi rápida e acidentada, com voltas reviravoltas e rodopios tal como convém numa montanha russa, mas sempre dentro dos carris que volta após volta apontavam sempre na direção da eleição seguinte.
Ano após ano, volta após volta, eleição após eleição, lá conduziu o Barão de Ferreiros o comboio, serra a cima montanha abaixo, o povo de início como era novidade gritava de contentamento com a velocidade imprimida, as curvas apertadas, as descidas rápidas e as voltas de cabeça para baixo. Depois começou a cansar-se de andar com a cabeça à roda, e os mais novos começaram a saltar do comboio em andamento arriscando a própria vida, outros não puseram cinto de segurança e foram cuspidos, e quando Dom Xico Mirandum deu conta mais de metade da população tinha abandonado o comboio e envergonhado com isso, decidiu abandoná-lo também. Entregou o posto de maquinista ao homem do carvão, que durante os anos de viagem não fez outra coisa senão obedecer ao Barão de Ferreiros, que no final de cada volta lhe ordenava alto e bom som “bota carvão à máquina”.
E o comboio lá continua agora sem maquinista e também mais devagar que o habitual pois o carvão vais escasseando e já não tem a mesma qualidade. De vez em quando ouve-se uma voz no meio da populaça dizer para o homem do carvão “bota carvão à máquina”, e o homem do carvão já cansado e a pensar que ainda tem de “botar carvão à máquina” durante mais dois anos e que o novo maquinista em vez de ser ele vai ser o calcinhas do revisor. 


Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 01 Março de 2013

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


O Visconde de Celeirós Dom Toninho Castanheiros do alto das suas botifarras, empinando a barriga e deitando a cabeça para trás apontando o queixo ao céu, desce imperturbável e sem a imponência merecida pelo cargo, as escadarias da sede do governo do reino de Valdecacos, que passou a chefiar desde a partida antecipada do Barão de ferreiros Dom Xico Mirandum. Carrega um semblante algo triste e preocupado, pois o seu antecessor deixou o tesouro do reino quase na penúria, a pouco mais de meio ano de umas eleições em que é costume o governo encher as aldeias do reino de paletes e mais paletes de material, que na maioria dos casos é vendido ou trocado por garrafões de vinho ou de azeite, quando não fica a apodrecer pelas valetas.
O reino de Valdecacos, apesar de ter um novo chefe, que ao longo dos anos viveu na sombra de Dom Xico Minrandum e sempre disse que abandonaria o governo quando o Barão de Ferreiros se fosse embora, afinal enganou-se nas contas e enganou-nos com a conversa, pois vai continuar com uma grande motivação, nada dessas ideias mixurucas e corriqueiras de servir o povo e lutar pelos ideais da social-democracia, mas sim porque ao que parece lhe faltam dois anos para levar a reforma por inteiro.
O bizarro de tudo isto é que o reino de Valdecacos é neste momento governado por uma troika. Como se não bastasse a troika que aflige o Condado Portucalense e nos aflige a todos, a troika que governa o reino de Valdecacos, é constituída pelo Visconde de Celeirós Dom Toninho Castanheiros que se senta na cadeira, pelo Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó que escreve os discursos e define as estratégias e pelo Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, que ao microfone lê os discursos e faz a propaganda.
Ora se uma troika incómoda muita gente, duas troikas incomodam muita mais, é esta a sina do reino de Valdecacos, uma desgraça nunca vem só!
Os meses que se aproximam prometem ser pródigos em situações caricatas, depois dos vinte e sete anos de poder absoluto do Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, temos um Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó que pensa e dita, o Visconde de Celeirós Dom Toninho Castanheiros que finge que pensa e pensa que manda, e o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor que fala, fala, fala, e não diz nada.
Pairando sobre a troika como um gavião sobre um bando de codornizes, deixando-se levar pelas correntes de ar que ora o levam para cima ora o puxam para baixo, o ainda presidente das cortes Dom Juanito de La Bisabuela, com bicada ali, bicada acolá, vai dando prova de vida, apesar da evidente dificuldade que tem em bater as asas.
Segundo li nos jornais o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña, assumiu a candidatura pelos rosas no reino de Valdecacos. Falou na esperança gorada de ver aparecer uma candidatura jovem vinda da sociedade civil e que até à data não se concretizou. Teremos então para já um candidato velho com ideias novas e um candidato novo com ideias velhas!! Vai ser interessante de se ver.
Ainda a procissão vai no adro! Fazem-se e desfazem-se listas do dia para a noite. Uns sobem lugares outros descem lugares alguns mudam de camisa. Ao que se consta o Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó, depois de horas e horas a mudar de estratégia e a tentar explicá-la aos seus correligionários, teve de ser conduzido de urgência ao posto clinico para levar um soro, pois estava completamente desidratado. 

 

Ps: O povo por ele próprio quer sempre o bem, mas, por ele próprio nem sempre o conhece. “Jean Jacques Rousseau”

 

Até Breve
 
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 01 de Fevereiro de 2013

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


O Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum anunciou com pompa e circunstância que vai abandonar o poder até ao final do ano, ou seja, não fica até ao último minuto da última hora do último dia, que seria algures no último trimestre do próximo ano.
Esta situação que deixou perplexos alguns comentadores políticos e surpreendeu alguns elementos da oposição, tem a meu ver uma primeira e principal justificação, de que falarei mais adiante.
Foram no entanto vinte e sete anos, ou seja, nove mil oitocentos e sessenta e três dias, duzentas e trinta e seis mil quinhentas e vinte horas, catorze milhões cento e noventa e um mil e duzentos minutos de poder raras vezes partilhado, exercido com rédea curta, sempre obediente às indicações do partido, sem nunca ter tido uma visão estratégica para o reino que foi perdendo a importância regional que já teve em relação aos vizinhos reinos de Minrandum e da Flávia.
Vinte anos antes de no Condado Portucalense se falar em partidocracia, ou seja, uma forma de estado em que as oligarquias partidárias assumem o controlo efetivo do poder, já eu na primeira crónica escrita no extinto Jornal de Valdecacos, cujo proprietário e diretor era o Marquês das Padanas Dom Godofredo Barroso, alertava para o poder desmesurado e discricionário de sua majestade laranjinha no reino de Valdecacos.
Pois ao fim deste quase quarenta anos de poder laranja no reino de Valdecacos, 70% dos quais exercidos por Dom Xico Mirandum, em que houve mais que tempo para preparar uma passagem de poder que nos permitisse olhar o futuro com alguma esperança, isto é, uma candidatura jovem, vinda da sociedade civil, alguém com provas dadas no ramo empresarial, com ideias abertas, com bom relacionamento e bons contactos no Condado Portucalense e no estrangeiro, ou um profissional liberal credível, com provas dadas no seu ramo de atividade, com curso tirado em universidade do estado, sem cadeiras feitas ao domingo ou por equivalência, alguém que não precisasse da politica para sobreviver, alguém que nos soubesse defender e reivindicasse no Terreiro do Paço aquilo que é nosso por direito, alguém com um plano de desenvolvimento bem estruturado, alguém com vontade de servir o povo e não de fazer carreira politica. Podia ou não o Dom Xico Mirandum ter-se batido por uma solução destas? Então por que é que o não fez?
Porque se o fizesse, ao fim de seis meses os seus quase vinte e oito anos de governação seriam completamente ofuscados e o povo aperceber-se-ia rapidamente da tremenda asneira que foi mantê-lo no poder durante tanto tempo.
Aí o Barão de ferreiros começou a pensar numa solução em que as coisas só pudessem ir para pior, pois seria a única maneira do povo vir a sentir algumas saudades…
E não precisou de pensar muito, conhecendo ele a peça melhor que ninguém, tirou da cartola o Marquês de Calavinhos que já se encontra no governo há doze anos e se prepara para chefiá-lo mais doze.
Alguém lhe conheceu algum elemento curricular de relevo, alguma ideia, algum programa nos anos em que esteve no governo de Dom Xico Mirandum? Que se saiba os doze anos serviram apenas para aliciar e inscrever militantes no partido de sua majestade laranjinha.
Será este o castigo para quem foi presidente da assembleia geral da confraria que levou ao encerramento do Hospital de Valdecacos?
Se a situação não fosse trágica, até daria vontade de rir, a mim quando me contaram olhei em redor a ver se descobria alguma câmara de filmar da televisão, pois pensei que era o programa dos apanhados mas infelizmente não, parece que é mesmo verdade!!
Maquiavélico! È o adjetivo adequado para a maneira encontrada por Dom Xico Mirandum se tornar desejado depois de se ter ido embora. Já o imagino a rir-se para os seus botões e a pensar “eu vou-me embora mas ainda ides chorar por mim”.
Então e os rosas o que é que fazem no meio de esta tragicomédia? E os centristas? E os laranjinhas? O que pensa a Condessa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo? E o Visconde de Puralina Dom Tião Cidade das Neves? E o histórico alcaide de Valdecacos Dom Lapalino Del Sardon? E o seu filho Dom Maugénio Del Sardon? E o Marquês de Piscaneto Dom Zé Generoso? E o Duque de Manteigas Dom Joselito de La Estrela e Benfica? E o Barão do Tanque Mansinho Dom Zé Carioca? E o Presidente da Fundação Oriente Dom Staneloy Ho? O que é que toda esta gente tem a dizer sobre esta solução que tem um significado de “evolução na continuidade” da passagem de testemunho do Salazar para Marcelo Caetano. Será que também teremos que esperar quatro ou cinco anos para termos o nosso 25 de Abril?
Consta-se que o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña tem vindo a ser contactado e pressionado para encabeçar uma candidatura abrangente, que defronte o poder instituído. A ver vamos!
 

PS: “O preço a pagar pela tua não participação na política, é seres governado por quem é inferior”. (Platão 428-347 A.C.). 

Até Breve
Publicado no jornal Tribuna Valpacense em 07 de Dezembro de 2012

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


Esta é a crónica de uma morte anunciada. A notícia chegou dura, fria, breve e seca. O Marquês do Correio Velho Dom Rubio Soutinho faleceu vítima de doença prolongada.
Personagem há uns anos arredado destas crónicas, foi um destacado natural do reino de Valdecacos que correu mundo, vencendo inúmeras batalhas contra um destino que por vezes lhe foi adverso, mostrando sempre uma vontade e uma perspicácia fora do comum.
De Angola à Africa do Sul, do Brasil a Espanha, dos reinos da Maia a Valdecacos, a sua vida daria um filme em que se conjugariam todos os géneros cinematográficos, desde a aventura à guerra, do ódio à paixão, do drama à comédia.
Foi ele o pilar em que assentou a geminação dos reinos da Maia e Valdecacos, quando nos tempos áureos do cavaquismo, se movimentava como peixe na água nos círculos do poder.
Amigo dos amigos (poucos), implacável com os inimigos (alguns), amigo dos prazeres da vida e da mesa, ficaram célebres algumas festas de aniversário em que chegou a juntar algumas centenas de pessoas em lautos almoços e jantares.
Crítico da “abrilada” (25 de Abril), fazia questão de se ausentar todos os anos do condado Portucalense no dia 24 regressando apenas a 26 de Abril. Nas curtas estadias que ao longo dos anos passou no reino de Valdecacos, costumava juntar um grupo de amigos da velha guarda em opíparos lanches que se prolongavam por tardes inteiras e por vezes continuavam noite fora, a que chamava reuniões do “Conselho da Revolução” numa paródia conseguida ao dito cujo, onde na altura pontificava o Rosa Coutinho conhecido como o “Almirante Vermelho”, a quem o Marquês do Correio Velho Dom Rubio acusava de ter entregue o reino de Angola aos comunistas.
Eram membros efetivos do Conselho da Revolução de Valdecacos o Dom Rubio, o Dom Armandinho, o Dom Maximiano, o Dom Amândio e o Dom César, seguindo-se como suplentes o Dom Abreu e o Dom Aguiar, e como observadores o Marquês de La Frontera Dom Corleone de La Mancha e o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña. Havia depois alguns personagens que de acordo com as circunstâncias e os humores do Dom Rubio eram esporadicamente convidados para algumas reuniões do Conselho.
A todos o Dom César batizava, e não foi fácil conseguir esta informação, mas deixo-vos algumas das nomeadas que ele utilizava e a vossa imaginação que as correlacione com as personagens respetivas.
O Caudilho, o Chalato, o Vilaranda, o Lafusco, o Guiças, o Sineiro, o Carqueja, o Pelinhas, etc, etc.
Já não resta nenhum dos membros efetivos do Conselho da Revolução de Valdecacos, é mais um virar de página na historia deste reino, que mais de 20 anos depois da geminação com o reino da Maia, tem visto outro gémeo a crescer em população e em desenvolvimento, enquanto nós vamos definhando e empobrecendo alegremente, sem que se vislumbre uma alternativa às politiquices que nos levaram a esta situação, o que me lava a pensar que o reino de Valdecacos mais que um Conselho da Revolução, precisa de uma revolução no concelho.
Ao fim de 42 anos no reino de Valdecacos o Arcipreste Dom Papalves rumou ao reino de Perafita, para um merecido descanso. Algumas atitudes polémicas e o feitio barrosão causaram dissabores a alguns paroquianos e ao próprio. Num percurso tão longo no tempo tem forçosamente que haver altos e baixos, e tal como Salazar, mentor de alguma igreja antiquada e retrograda, quando se permanece em cargos de chefia ao longo de décadas, normalmente as entradas são de leão e as saídas nem por isso!
Seja como for, o largo da igreja do reino de Valdecacos não voltará a ser o mesmo sem o Arcipestre Dom Papalves de um lado e o Marquês do Correio Velho Dom Rubio Soutinho do outro.
Que o Dom Papalves encontre finalmente a paz de espirito que as beatas e os beatos aqui nunca lhe permitiram ter, e que o Dom Rubio Soutinho reúna rapidamente o Conselho da Revolução lá no céu, pois o Dom Armindo dos Possacos arranjou lá um cantinho aprazível onde todos já se encontram à espera, para uma tarde bem passada.

 

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 10 de Novembro de 2012

sábado, 3 de novembro de 2012

CRONICAS DO REINO IV SÉRIE

Aí vamos nós, a passos largos, a caminho de mais um inverno do nosso descontentamento. O Condado Portucalense, exausto e exangue com tanta austeridade imposta pela TROIKA e executada e agravada pelo governo do Marquês de Vila Real Dom Passos Guedelho, está praticamente moribundo.
Do Minho aos Algarves, o povo saiu à rua, protestando contra as péssimas condições de vida a que se encontra sujeito, em manifestações com uma participação e grandiosidade que já não eram vistas desde o 1º de Maio de 1974.
Mas se o Condado Portucalense está moribundo devido à crise e às exageradas medidas de austeridade que estão a matar a economia, o reino de Valdecacos já morreu há mais de uma dúzia de anos, devido à falta de uma estratégia de desenvolvimento e às políticas erradas de quem nos tem (des) governado.
Se a grande maioria das pessoas em idade produtiva e reprodutiva já abandonaram o reino, por aqui não encontrarem condições de trabalho, emprego e sobrevivência, ficaram apenas uns milhares de zombies que deambulam de um lado para o outro, entre as sedes do governo e da confraria, em busca de um subsídio ou de uma merenda gratuita.
“Com festas e bolos se enganam os tolos”. Aí está uma realidade sempre presente nos últimos trinta anos no reino de Valdecacos. Não houve uma única inauguração desde o mais humilde chafariz até às escolas mais importantes, passando pelas sedes de cada uma das trinta e uma alcaiderias do reino, por estradas e calcetas, por pavilhões desportivos e multiusos, por lares de terceira idade e centros de dia, piscinas quentes e frias, quarteis da polícia e da G.N.R, universidades, bibliotecas, feiras e romarias, tudo isto serviu para os políticos se exibirem e mostrarem aos “tolos” como se preocupam com eles.
Assim fomos todos de inauguração em inauguração, de festa em festa, até ao descalabro total.
As festas assim como os centros comerciais, são no sec.XXI o bodo e o palácio dos pobres. Há-de chegar o dia em que os “tolos” vão ganhar juízo e perceberem o quanto foram enganados e abusados ao longo dos tempos. Os milhares de jovens desempregados, que esperança podem ter num reino empenhado para os próximos trinta anos, pelos gastos excessivos e descontrolados de meia dúzia de pessoas apenas interessadas no seu conforto pessoal e na sua família política?
Quando o governo do Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum se envolveu descaradamente e utilizando métodos pouco ortodoxos e de caciquismo primário no apoio a uma lista para a direção do agrupamento escolar de Valdecacos, sabia ou não sabia que alguns membros dessa lista estavam a ser alvo de um inquérito, por ações praticadas em conselhos diretivos anteriores?
Corre à boca cheia que o resultado da inspeção não propõe nenhum louvor aos visados antes pelo contrário! E agora? Qual a justificação? E os alunos? Alguém pensou neles?
O presidente das cortes Dom Juanito de La Bisabuela, que diz a toda a gente que a Baronesa do Terreiro Dona Expropriação Esteves nunca fez nada pelo reino de Valdecacos, acha que conseguirá fazer alguma coisa na enrascada em que se meteu o irmão de Dom Caím Conde do Cutelo Melhor?
Teremos foguetes novamente? É claro que sim, pois este reino é uma festa e com “festas e bolos se enganam os tolos”.

 

PS: “Entre o governo que faz o mal e o povo que o consente há uma cumplicidade vergonhosa”, Vítor Hugo.

Até Breve

Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 12 de Outubro de 2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE


Aqui há tempos, tive necessidade de me deslocar à farmácia, para aviar uma receita que me passaram nas urgências de reino de Mirandum, que juntamente com as urgências do reino da Flávia, atendem os 15 000 tristes habitantes do reino de Valdecacos, que há mais de um ano foram espoliados do seu hospital pelo Ex confrade mor Dom Geninho Três Ais, bem acolitado pelo Visconde de Alfarelos e por outros que todos sabemos quem são e que por aí continuam despudoradamente como se nada tivesse acontecido. Consta-se até que ao contrário da grande maioria dos funcionários do hospital que perderem o seu posto de trabalho e atravessam momentos de grandes dificuldades, o Marquês de Viagreta foi visto no reino dos Algarves, a disfrutar da amenidade do clima e da temperatura das águas, lançando olhares libidinosos aos corpos morenos e bem torneados das jovens turistas, que tal como a garota de Ipanema imortalizada há 50 anos por Tom Jobim e Vinícius de Moraes, passam num doce balanço a caminho do mar.
Mas mudemos de assunto, pois como diz o povo na sua sabedoria sedimentada ao longo de séculos “não merece a pena gastar mais cera com tão ruins defuntos”.
Pois como ia dizendo e ao contrário de muitos que são atendidos nas urgências de reinos vizinhos e acabam por adquirir lá os medicamentos, prejudicando o já depauperado comercio do reino de Valdecacos, recorri à farmácia que estava de serviço na minha terra pois era domingo. Encostei-me um pouco ao balcão porque tinha duas pessoas à minha frente, uma das quais um jovem emigrante que pediu uma caixa de camisinhas sem mangas, pois em Agosto o calor aperta, os arraiais são muitos e as tentações ainda mais e nestas circunstancias homem prevenido vale por dois.
Atrás do balcão, o Barão de Alvalade Dom Xico Xicão, discípulo dileto do finado Doutor Lixivia, enquanto procurava o artigo, virou-se para o interior da farmácia e perguntou:
- Então já soube do evento social que houve ontem no café Russo nas Lages?
Aparecendo à porta, vindo do interior da farmácia o Visconde de Setúbal Dom Godofredo Miau respondeu com um não que mais parecia um grunhido.
O Dom Xico Xicão lá explicou que o estado-maior laranja esteve reunido à volta de um lauto almoço oferecido pelo Marquês de Santa Maria Dom Assediado, com pretexto de festejar os anos, e que por estranho que pareça já é a segunda vez que acontece este ano, mas que no fundo se trataria de um encontro preparatório para o lançamento de uma candidatura abrangente ao governo de Valdecacos.
Ainda não tive oportunidade de me encontrar com nenhum dos comensais presentes, nem sequer confirmar a identidade dos mesmos, mas quem já o deve saber e não estará nada contente é o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor que sabe com quem lida e tem medo que lhe façam a cama.
Uma noite destas passou-se esta cena que me contaram e que é de partir o coco a rir! Subiam a avenida da Sª. da Saúde em amena cavaqueira o Morgado de São Francisco Dom Catalone El Bone, com o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de La Niña, mais o Marquês de La Frontera Dom Corleone de La Mancha e o agente da alta autoridade contra a corrupção e inspetor mor do reino Dom Torelo Luís, Barão do Largo da Palha. Este ultimo falando da política e dos políticos em geral, dizia que não dormiria descansado enquanto não visse alguns atras das grades. Ora nesse preciso momento, descendo de sua casa em direção à avenida passeando distraidamente o caniche, o presidente das cortes Dom Juanito de La Bisabuela, ouvindo falar Dom Torelo e vendo as outras três personagens, mudou de repente de direção, deu um puxão na trela do caniche, que o desgraçado andou uma dúzia de metros pelo ar e aterrou no passeio do lado oposto, acompanhando aflito o passo estugado do dono que se afastava rapidamente do local, não fosse o diabo tece-las… 

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 31de Agosto de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE

Este ano fui a Valverde às festas de Nossa Srª do Carmo. Já há muito tempo que lá não ia, pelo que aproveitei para dar uma volta pela aldeia e observar as transformações lá efetuadas nos últimos anos. Sendo uma das duas aldeias anexas à capital do reino, Valverde tem beneficiado pelo facto dos dirigentes de três instituições se digladiarem na obtenção de apoios e votos, facto esse que tem levado à realização de obras por vezes necessárias, outras vezes nem tanto. O governo, a alcaideria e a confraria decidiram apostar em Valverde.
Pois como eu estava dizendo, e contrariando a crise instalada, a festa esteve animada, prolongando-se por sábado, domingo e segunda-feira, com missa procissão e dois ou três arraiais não faltando a banda de Valdecacos numa competente arruada.
Quando acompanhava a procissão, vendo as ruas e calçadas limpas e arranjadas ao contrário do que é habitual, ouvi uma velhota que caminhava com dificuldade amparada numa bengala, comentar com o parceiro do lado que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para limpar e arranjar as ruas. Na hora da missa e perante os bonitos arranjos florais, uma beata com um lenço de renda negro a cobrir-lhe a cabeça, comentava com outra que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para as flores.
À noite no arraial, enquanto duas dúzias de rapazes e raparigas rodopiavam no largo da capela, ao som duma música brejeira do Quim Barreiros, tocada por um desses conjuntos que animam as festas populares, um rapaz com um corte de cabelo futurista e uma camisola de alças, com etiquetam dos armazéns Printemps de Paris que deixavam os ombros fortes e morenos à mostra, de garrafa de cerveja na mão e cigarro no canto da boca, dizia para outro que tinha sido o Bítaro a dar o dinheiro para o conjunto.
Por volta da meia-noite o céu iluminou-se com as girandolas e as balonas, e o chão estremeceu com o ribombar dos morteiros. Era o fogo-de-artifício imprescindível num arraial tipicamente transmontano. As poucas crianças que por ali andavam correram procurando refúgio e aconchego junto das mães, e olhando para o céu com os olhos ao mesmo tempo assustados e curiosos, deixaram refletir neles uma miríade de estrelas de todas as cores. Foi então que uma das mães comentou com outra que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para o fogo-de-artifício.
Comecei a pensar que o Bítaro fosse um desses canadianos, a maneira como são conhecidos pelos seus conterrâneos os que fizeram pela vida e foram bem-sucedidos no longínquo reino do Canadá.
Procurei satisfazer a minha curiosidade sobre tão ilustre e rica personagem, quando para meu grande espanto me disseram que o dito Bítaro é o Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó.
Pensei cá com os meus botões, será que o Dom Vitinho Corócócó, se conseguiu libertar do estigma de surra com que são classificados todos os que nascem em terras de Valverde, e investiu parte das massas que recebe do governo para despesas de representação na festa da sua terra, ou será que é dinheiro da TROIKA que saiu pela porta dos subsídios?
Esta é a única aldeia do reino em que o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor se sente com peixe fora de água. Ele sabe que aquele território tem dono, é do Bítaro, aliás do Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó, que nesta altura do campeonato ainda não poderá ser classificado como uma carta fora do baralho, na sucessão ao Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum.
 

PS: É altura de Dom Xico Mirandum terminar o curso de direito na Lusófona, pedindo equivalências às cadeiras que lhe faltam, pois o currículo dele é em meu entender superior ao do Relvas. Ficará assim com dois canudos, aumentando seriamente as hipóteses de vir a ser convidado para algum cargo governamental.                                                      

 
Até Breve!
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 04 de Agosto de 2012