Pois como eu estava dizendo, e
contrariando a crise instalada, a festa esteve animada, prolongando-se por
sábado, domingo e segunda-feira, com missa procissão e dois ou três arraiais
não faltando a banda de Valdecacos numa competente arruada.
Quando acompanhava a procissão,
vendo as ruas e calçadas limpas e arranjadas ao contrário do que é habitual,
ouvi uma velhota que caminhava com dificuldade amparada numa bengala, comentar
com o parceiro do lado que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para limpar e
arranjar as ruas. Na hora da missa e perante os bonitos arranjos florais, uma
beata com um lenço de renda negro a cobrir-lhe a cabeça, comentava com outra
que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para as flores.
À noite no arraial, enquanto duas
dúzias de rapazes e raparigas rodopiavam no largo da capela, ao som duma música
brejeira do Quim Barreiros, tocada por um desses conjuntos que animam as festas
populares, um rapaz com um corte de cabelo futurista e uma camisola de alças,
com etiquetam dos armazéns Printemps de Paris que deixavam os ombros fortes e
morenos à mostra, de garrafa de cerveja na mão e cigarro no canto da boca,
dizia para outro que tinha sido o Bítaro a dar o dinheiro para o conjunto.
Por volta da meia-noite o céu
iluminou-se com as girandolas e as balonas, e o chão estremeceu com o ribombar
dos morteiros. Era o fogo-de-artifício imprescindível num arraial tipicamente
transmontano. As poucas crianças que por ali andavam correram procurando
refúgio e aconchego junto das mães, e olhando para o céu com os olhos ao mesmo
tempo assustados e curiosos, deixaram refletir neles uma miríade de estrelas de
todas as cores. Foi então que uma das mães comentou com outra que tinha sido o
Bítaro a dar dinheiro para o fogo-de-artifício.
Comecei a pensar que o Bítaro
fosse um desses canadianos, a maneira como são conhecidos pelos seus
conterrâneos os que fizeram pela vida e foram bem-sucedidos no longínquo reino
do Canadá.
Procurei satisfazer a minha
curiosidade sobre tão ilustre e rica personagem, quando para meu grande espanto
me disseram que o dito Bítaro é o Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó.
Pensei cá com os meus botões,
será que o Dom Vitinho Corócócó, se conseguiu libertar do estigma de surra com
que são classificados todos os que nascem em terras de Valverde, e investiu
parte das massas que recebe do governo para despesas de representação na festa
da sua terra, ou será que é dinheiro da TROIKA que saiu pela porta dos
subsídios?
Esta é a única aldeia do reino em
que o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor se sente com peixe fora de
água. Ele sabe que aquele território tem dono, é do Bítaro, aliás do Visconde
de Valverde Dom Vitinho Corócócó, que nesta altura do campeonato ainda não
poderá ser classificado como uma carta fora do baralho, na sucessão ao Barão de
Ferreiros Dom Xico Mirandum.
PS: É altura de Dom Xico Mirandum
terminar o curso de direito na Lusófona, pedindo equivalências às cadeiras que
lhe faltam, pois o currículo dele é em meu entender superior ao do Relvas.
Ficará assim com dois canudos, aumentando seriamente as hipóteses de vir a ser
convidado para algum cargo governamental.
Até Breve!
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 04 de Agosto de 2012
1 comentário:
È mais fácil o emigrante da estátua da rotunda sair do pedestal e caminhar até aos colmeais, que o Bítaro largar um centimo do que é seu!!
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