segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CRÓNICAS DO REINO IV SÉRIE

Este ano fui a Valverde às festas de Nossa Srª do Carmo. Já há muito tempo que lá não ia, pelo que aproveitei para dar uma volta pela aldeia e observar as transformações lá efetuadas nos últimos anos. Sendo uma das duas aldeias anexas à capital do reino, Valverde tem beneficiado pelo facto dos dirigentes de três instituições se digladiarem na obtenção de apoios e votos, facto esse que tem levado à realização de obras por vezes necessárias, outras vezes nem tanto. O governo, a alcaideria e a confraria decidiram apostar em Valverde.
Pois como eu estava dizendo, e contrariando a crise instalada, a festa esteve animada, prolongando-se por sábado, domingo e segunda-feira, com missa procissão e dois ou três arraiais não faltando a banda de Valdecacos numa competente arruada.
Quando acompanhava a procissão, vendo as ruas e calçadas limpas e arranjadas ao contrário do que é habitual, ouvi uma velhota que caminhava com dificuldade amparada numa bengala, comentar com o parceiro do lado que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para limpar e arranjar as ruas. Na hora da missa e perante os bonitos arranjos florais, uma beata com um lenço de renda negro a cobrir-lhe a cabeça, comentava com outra que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para as flores.
À noite no arraial, enquanto duas dúzias de rapazes e raparigas rodopiavam no largo da capela, ao som duma música brejeira do Quim Barreiros, tocada por um desses conjuntos que animam as festas populares, um rapaz com um corte de cabelo futurista e uma camisola de alças, com etiquetam dos armazéns Printemps de Paris que deixavam os ombros fortes e morenos à mostra, de garrafa de cerveja na mão e cigarro no canto da boca, dizia para outro que tinha sido o Bítaro a dar o dinheiro para o conjunto.
Por volta da meia-noite o céu iluminou-se com as girandolas e as balonas, e o chão estremeceu com o ribombar dos morteiros. Era o fogo-de-artifício imprescindível num arraial tipicamente transmontano. As poucas crianças que por ali andavam correram procurando refúgio e aconchego junto das mães, e olhando para o céu com os olhos ao mesmo tempo assustados e curiosos, deixaram refletir neles uma miríade de estrelas de todas as cores. Foi então que uma das mães comentou com outra que tinha sido o Bítaro a dar dinheiro para o fogo-de-artifício.
Comecei a pensar que o Bítaro fosse um desses canadianos, a maneira como são conhecidos pelos seus conterrâneos os que fizeram pela vida e foram bem-sucedidos no longínquo reino do Canadá.
Procurei satisfazer a minha curiosidade sobre tão ilustre e rica personagem, quando para meu grande espanto me disseram que o dito Bítaro é o Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó.
Pensei cá com os meus botões, será que o Dom Vitinho Corócócó, se conseguiu libertar do estigma de surra com que são classificados todos os que nascem em terras de Valverde, e investiu parte das massas que recebe do governo para despesas de representação na festa da sua terra, ou será que é dinheiro da TROIKA que saiu pela porta dos subsídios?
Esta é a única aldeia do reino em que o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor se sente com peixe fora de água. Ele sabe que aquele território tem dono, é do Bítaro, aliás do Visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó, que nesta altura do campeonato ainda não poderá ser classificado como uma carta fora do baralho, na sucessão ao Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum.
 

PS: É altura de Dom Xico Mirandum terminar o curso de direito na Lusófona, pedindo equivalências às cadeiras que lhe faltam, pois o currículo dele é em meu entender superior ao do Relvas. Ficará assim com dois canudos, aumentando seriamente as hipóteses de vir a ser convidado para algum cargo governamental.                                                      

 
Até Breve!
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 04 de Agosto de 2012
 

1 comentário:

Anónimo disse...

È mais fácil o emigrante da estátua da rotunda sair do pedestal e caminhar até aos colmeais, que o Bítaro largar um centimo do que é seu!!