O Barão de Ferreiros Dom Xico
Mirandum anunciou com pompa e circunstância que vai abandonar o poder até ao
final do ano, ou seja, não fica até ao último minuto da última hora do último
dia, que seria algures no último trimestre do próximo ano.
Esta situação que deixou
perplexos alguns comentadores políticos e surpreendeu alguns elementos da
oposição, tem a meu ver uma primeira e principal justificação, de que falarei
mais adiante.
Foram no entanto vinte e sete
anos, ou seja, nove mil oitocentos e sessenta e três dias, duzentas e trinta e
seis mil quinhentas e vinte horas, catorze milhões cento e noventa e um mil e
duzentos minutos de poder raras vezes partilhado, exercido com rédea curta,
sempre obediente às indicações do partido, sem nunca ter tido uma visão
estratégica para o reino que foi perdendo a importância regional que já teve em
relação aos vizinhos reinos de Minrandum e da Flávia.
Vinte anos antes de no Condado
Portucalense se falar em partidocracia, ou seja, uma forma de estado em que as
oligarquias partidárias assumem o controlo efetivo do poder, já eu na primeira
crónica escrita no extinto Jornal de Valdecacos, cujo proprietário e diretor
era o Marquês das Padanas Dom Godofredo Barroso, alertava para o poder desmesurado
e discricionário de sua majestade laranjinha no reino de Valdecacos.
Pois ao fim deste quase quarenta
anos de poder laranja no reino de Valdecacos, 70% dos quais exercidos por Dom
Xico Mirandum, em que houve mais que tempo para preparar uma passagem de poder
que nos permitisse olhar o futuro com alguma esperança, isto é, uma candidatura
jovem, vinda da sociedade civil, alguém com provas dadas no ramo empresarial,
com ideias abertas, com bom relacionamento e bons contactos no Condado
Portucalense e no estrangeiro, ou um profissional liberal credível, com provas
dadas no seu ramo de atividade, com curso tirado em universidade do estado, sem
cadeiras feitas ao domingo ou por equivalência, alguém que não precisasse da
politica para sobreviver, alguém que nos soubesse defender e reivindicasse no
Terreiro do Paço aquilo que é nosso por direito, alguém com um plano de
desenvolvimento bem estruturado, alguém com vontade de servir o povo e não de
fazer carreira politica. Podia ou não o Dom Xico Mirandum ter-se batido por uma
solução destas? Então por que é que o não fez?
Porque se o fizesse, ao fim de
seis meses os seus quase vinte e oito anos de governação seriam completamente
ofuscados e o povo aperceber-se-ia rapidamente da tremenda asneira que foi
mantê-lo no poder durante tanto tempo.
Aí o Barão de ferreiros começou a
pensar numa solução em que as coisas só pudessem ir para pior, pois seria a
única maneira do povo vir a sentir algumas saudades…
E não precisou de pensar muito,
conhecendo ele a peça melhor que ninguém, tirou da cartola o Marquês de
Calavinhos que já se encontra no governo há doze anos e se prepara para
chefiá-lo mais doze.
Alguém lhe conheceu algum
elemento curricular de relevo, alguma ideia, algum programa nos anos em que
esteve no governo de Dom Xico Mirandum? Que se saiba os doze anos serviram
apenas para aliciar e inscrever militantes no partido de sua majestade
laranjinha.
Será este o castigo para quem foi
presidente da assembleia geral da confraria que levou ao encerramento do
Hospital de Valdecacos?
Se a situação não fosse trágica,
até daria vontade de rir, a mim quando me contaram olhei em redor a ver se
descobria alguma câmara de filmar da televisão, pois pensei que era o programa
dos apanhados mas infelizmente não, parece que é mesmo verdade!!
Maquiavélico! È o adjetivo
adequado para a maneira encontrada por Dom Xico Mirandum se tornar desejado
depois de se ter ido embora. Já o imagino a rir-se para os seus botões e a
pensar “eu vou-me embora mas ainda ides chorar por mim”.
Então e os rosas o que é que
fazem no meio de esta tragicomédia? E os centristas? E os laranjinhas? O que
pensa a Condessa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo? E o Visconde de Puralina
Dom Tião Cidade das Neves? E o histórico alcaide de Valdecacos Dom Lapalino Del
Sardon? E o seu filho Dom Maugénio Del Sardon? E o Marquês de Piscaneto Dom Zé
Generoso? E o Duque de Manteigas Dom Joselito de La Estrela e Benfica? E o
Barão do Tanque Mansinho Dom Zé Carioca? E o Presidente da Fundação Oriente Dom
Staneloy Ho? O que é que toda esta gente tem a dizer sobre esta solução que tem
um significado de “evolução na continuidade” da passagem de testemunho do
Salazar para Marcelo Caetano. Será que também teremos que esperar quatro ou
cinco anos para termos o nosso 25 de Abril?
Consta-se que o Marquês do
Pereiro Dom Alfonso de La Niña tem vindo a ser contactado e pressionado para
encabeçar uma candidatura abrangente, que defronte o poder instituído. A ver
vamos!
PS: “O preço a pagar pela tua não
participação na política, é seres governado por quem é inferior”. (Platão
428-347 A.C.).
Até Breve
Publicado no jornal Tribuna Valpacense em 07 de Dezembro de 2012