sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Iniciamos a época natalícia, tradicionalmente uma época de paz, de amor, de partilha, de solidariedade, mas ao mesmo tempo de reflexão, principalmente de reflexão interior, é esta a altura de nos encontrarmos com nós próprios, olhar a nossa alma e fazer o balanço de um ano que está a acabar.
Será que agimos correctamente com a família? Com os amigos? Com os patrões? Com os colegas de trabalho? Com os vizinhos? Com os conterrâneos? Com todo o nosso próximo?
Numa altura em que estamos a sofrer as consequências da maior crise financeira dos últimos 80 anos, com milhões de desempregados a nível mundial, já pensamos que o mesmo nos pode acontecer a nós a qualquer momento? Já nos pusemos na terrível situação de ter de abandonar a nossa habitação para a entregar ao banco e ter de recorrer às instituições de solidariedade social para o pão-nosso de cada dia?
Este vai ser com certeza um Natal cheio de problemas para muitos, mas também vamos ver o consumismo, a opulência ostensiva e o luxo desmesurado a conviverem lado a lado, com a mais expressiva miséria. Este é o mundo que os homens criaram, as sociedades nunca foram nem são perfeitas, tem havido avanços e recuos, períodos de luz e de trevas, de religiosidade, agnosticismo e por vezes de fanatismo, de boas e más políticas, mas o Homem com H grande caminhará sempre com os olhos postos no futuro, movido pelo interesse inesgotável pelo conhecimento.
Depois deste preâmbulo que foge um pouco ao meu estilo habitual, e que talvez se deva ao facto de ter estado doente, pois fui apanhado por esse malvado vírus da gripe porcina que anda por aí a assustar muita e boa gente. Devo dizer-vos que foram oito dias de molho, com os miolos a arder em febre, não havia osso no corpo que me não doesse, com uma tosse que parecia que os pulmões me saíam pela boca e um fastio como nunca tinha tido em toda a minha vida! Não consegui sequer escrever a crónica para o último jornal, facto esse de que me penitencio perante os meus fiéis leitores.
Foi durante esses dias de doença, que navegando na net e procurando alguns blogues relacionados com o reino de Valdecacos, para me manter minimamente informado, reparei que o cronista Fernão Chaparuto foi algumas vezes citado e outras comentado mas nem sempre com a melhor das intenções.
Anda por aí um articulista de bairro que de vez em quando manda uns artigos para os jornais, que pouca gente lê porque nesta altura do campeonato já ninguém tem pachorra para um João Coito de província, que se julga o supra sumo da cultura só porque faz umas citações de autores que provavelmente nunca leu, ou se leu não entendeu, que assina o artigo no jornal e depois o envia para o blogue como anónimo, e como anónimo comenta o seu artigo e os dos outros, esquecendo-se que o estilo literário o denuncia.
Pois é!! Elogiar o próprio artigo sob o anonimato é obra! Não ter capacidade para modificar o estilo literário que o desmascara, é próprio de quem usou chapéu e distribuiu chapéus numa célebre campanha eleitoral, ouvindo de várias pessoas na esplanada do café Central, a celebre frase do Vasco Santana “chapéus há muitos seu…”
O Fernão Chaparuto há já muitos anos cronista do reino de Valdecacos, existe e existirá sempre nesse reino de fantasia, acompanhado de todas as outras personagens, que foi criando e apaparicando como um pai faz com os seus filhos.
O Sr. articulista não sairá do anonimato através das minhas crónicas, nem pela força dum trovão, dum relâmpago ou dum(a) faísca.
A vitória dos rosas na alcaideria de Valdecacos (aqui o povo também votou por instinto), não caiu bem nas autoridades político-religiosas do reino. O arcipreste da capital Dom Papalves, do alto do púlpito e em final de missa disse para quem o quis ouvir, que quem quisesse soutiens para homens, deveria ir procura-los à sede da alcaideria rosa do reino. Tudo isto julgo eu, por causa da legalização das uniões entre pessoas do mesmo sexo. Ora que eu saiba os gays não usam soutien pelo facto de o serem, e as lésbicas não deixam de o usar idem aspas. Por outro lado relata-nos a história, alguns belos romances e recentes noticias na televisão, que é mais provável encontrar soutiens numa sacristia do que numa alcaideria. A César o que é de César…



Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 04 de Dezembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Tal como era esperado, o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum venceu o sétimo acto eleitoral consecutivo, para o governo do reino de Valdecacos. Ao longo deste quarto de século, a composição do governo já teve quase todos os resultados possíveis, desde o 4-3 ao 6-1, só faltava mesmo o 5-2 deste ano. É claro que a famosa e perseguida meta dos 7-0 com que Dom Xico Mirandum ameaçava a Marquesa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo, terá que ficar para outra encarnação.
Se em relação ao último governo, os rosas conquistaram um vereador aos laranjas, a vitória não deixa de pertencer a estes últimos e principalmente a Dom Xico Mirandum. O grande derrotado destas eleições foi o Visconde de Vila do Pêlo, Dom Tetantero, cuja filha não conseguiu ser eleita para dar inicio a uma promissora carreira política. A ver vamos as consequências que isto poderá ter em futuros actos eleitorais e no comportamento que os malteses adoptarão.
O Marquês de Piscaneto Dom Zé Generoso, fez o que lhe competia e demonstrou mais uma vez que o povo da capital do reino no que toca à sua alcaideria, não cede a pressões venham elas donde vierem, aguenta firme os ataques à esquerda e à direita, demonstrando ao resto do reino que nem tudo está à venda, que há consciências que valem mais que todo o dinheiro do orçamento do governo, e não são umas centenas de euros ou as costumeiras paletes de cimento e tijolos, que vergam o povo da capital do reino de Valdecacos.
O Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, que várias vezes se afirmou como o principal estratega do assalto à alcaideria da capital do reino, não teve qualquer prurido moral em envolver na luta política local instituições que se devem manter fora das querelas partidárias (escuteiros), deu um grande passo atrás na difícil escalada para o poder que o atrai, mas cuja desmesurada ambição, o leva a tomar atitudes em que o discernimento peca por defeito e lhe podem comprometer irremediavelmente o futuro político que tanto almeja.
Pelo que se consta, o Visconde de Valverde Dom Vitindo Corocócó, ao não abdicar do quarto lugar da lista do governo que era pretendido pelo Marquês de Calavinhos, quer desde o inicio marcar posição, para os tempos conturbados que se avizinham.
Não posso deixar de referir a vitória dos laranjas em S. João de Corveira, numa alcaideria que há décadas pertencia aos cubanos de Rio Bom, que concorriam com o símbolo do partido da rosa. A bela e jovem candidata feminina apresentada pelos rosas, não teve a força suficiente para contrapor ao poder das famílias de Rio Bom, cuja saída da cena política lhes permitiu passarem o poder de partido sem perderem a face, retribuindo politicamente ao Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum no seu último mandato, os evidentes benefícios com que a sua alcaideria foi distinguida ao longo dos anos.
A eleição para as cortes do reino de Valdecacos, também teve uma retumbante vitória laranja, permitindo ao já crónico e provecto presidente Dom Juanito de la Bisabuela, continuar a ter um papel primordial nas próximas eleições para a comissão política laranja, que irá designar o sucessor do Barão de Ferreiros.
Apesar do empenhamento demonstrado na campanha, o Marquês do Pereiro Dom Alfonso de la Niña, foi outro dos derrotados das eleições, não conseguindo aumentar o número de deputados apesar de ser já a terceira vez que concorre. Talvez esteja na altura de começar a pensar em dar o lugar a outro. Quem já deu o lugar a outro, foi o Barão do Tanque Mansinho Dom Jota Chitunda e o Marquês do Colmeais Dom Filipe Pratumba, ambos históricos do partido, que agora reformados e sem preocupações poderão passear descansadamente entre a travessa do Fala Só e o Nicho, na companhia do também histórico alcaide Dom Lapalino Del Sardon. Não faltarão com certeza temas de conversa e motivos para crítica mordaz! Que tal a formação de um novo partido ou movimento independente para concorrerem nas próximas eleições? Ou então uma lista alternativa à Marquesa da Fradizela?


PS: Foi tal a quantidade de materiais de construção, ofertados pelo chefe do governo Dom Xico Mirandum nos três meses que antecederam as eleições, que por todas as aldeias do reino se viam paletes e paletes de tijolos telhas e cimento. O Marquês do Pereiro perante esta situação disse nalguns comícios da campanha eleitoral, que cada reino tem o Xico que merece. O reino da Flavia tem o Xico das Cassetes. O reino de Valdecacos tem o Xico das Paletes.




Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 29 de Outubro de 2010

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O REINO DE VALDECACOS

A campanha eleitoral para as Cortes do Condado Portucalense chegou ao fim, estou a escrever no dia chamado de reflexão. Os partidos, os seus líderes, os seus barões, condes, marqueses e duques apresentaram ao povo os seus programas, as suas ideias, a sua visão para o futuro do Condado Portucalense.
Comícios, arruadas, bandeiras, sacos, bonés, brochuras, tempos de antena, debates, blogs e sites na internet, radiodifusão, programas humorísticos (gato fedorento), vocês vejam a parafernália de meios usados pelos políticos para fazerem passar a sua mensagem e cativar votos.
Em democracia o voto é a arma do povo, que de quatro em quatro anos aprova ou condena os políticos e as políticas, os governos e os partidos. Há trinta e cinco anos que isto se passa no Condado Portucalense, o povo na sua imensa sabedoria tem sabido distinguir o trigo do joio e no espectro partidário que tem assento parlamentar nas cortes de Lisboa, os rosas e os laranjas têm merecido sucessivamente a confiança do eleitorado, alternando no poder e na oposição de acordo com os resultados eleitorais.
O povo do Condado Portucalense, apesar dos casos, escândalos e controvérsias, que a par dos boatos que sempre aparecem em todas as campanhas eleitorais, acaba por dar o poder a quem lhe merece mais confiança, quem demonstrou trabalho, quem melhorou as condições de vida dos mais necessitados, quem apresenta propostas mais fidedignas, correctas, justas e exequíveis, ou seja, que tenham hipóteses de ser realizadas. Talvez por isso os partidos que ocupam os extremos do leque político-partidário à esquerda e à direita, tenham poucas hipóteses de chegar ao poder.
É interessante verificar as transferências de votos entre os principais partidos, ver as leituras que os sociólogos fazem disso, as explicações que têm para a reviravolta no poder. È nisto que está a essência da democracia, do poder do voto, do voto esclarecido, do eleitor que ouve os debates, que vai à internet, que lê os jornais, que filtra as noticias e a publicidade e que depois vota em consciência. Os partidos gastam milhões em campanhas? É verdade. A Coca-Cola, a Nike, a Benetton, e outras não fazem o mesmo? Não gastam balúrdios em campanhas apesar de já serem conhecidas em todo o lado?
Este é o mundo mediatizado e globalizado que temos e não há como fugir disso.
Quando Roma dominava o mundo e a Pax Romana foi instituída, houve durante séculos um período de paz e prosperidade em toda a Europa, sob o poder das legiões e da Dura Lex. Todos se submeteram a este poder, excepto um pequeno povoado lá para os lados da Gália, que se manteve sempre independente e nunca se vergou ao poder das legiões e de César. Tinham um rei chamado Abracurcix, dois famosos guerreiros chamados Asterix e Obelix e um druida chamado Panoramix. Quem é que ainda não ouviu falar destes celebres personagens que tantas e tantas vezes derrotaram e humilharam os romanos? Todos sabemos que o segredo deles era a famosa poção mágica.
O reino de Valdecacos tem algo a ver com este povoado da Gália! O nosso rei Xico Mirandix, o seu primeiro-ministro Milkes Varredorix, e o druida Juanito de La Bisabuelix, não lutam contra o poder de Roma, mas contra a chegada da democracia ao reino. Há trinta e cinco anos que distribuem a poção a quem lhes interessa (apenas um bocadinho que o caldeirão está sempre com eles), para que a democracia não entre no reino de Valdecacos. Quando alguém ou alguns começam a ter ideias novas ou a falar em subversivas ideias democráticas, acorrem imediatamente com uma garrafinha extra da poça mágica e são poucos os que resistem ao chamamento do mágico elixir. Oh se são!!
O governo rosa financiou e executou a nova estrada para o reino de Mirandum? O povo de Valdecacos vota laranja!
O governo rosa dá medicamentos gratuitos aos mais pobres e reformados? O povo de Valdecacos vota laranja!
O governo rosa fez o maior aumento das pensões sociais e de reforma aos mais necessitados desde o 25 de Abril? O povo de Valdecacos vota laranja!
O governo rosa instituiu um cheque dentista para os mais necessitados? Os desdentados de Valdecacos votam laranja!
O governo rosa financiou a construção da nova cooperativa de olivicultores de que toda a gente se orgulha? Os olivicultores de Valdecacos votam laranja!
O governo rosa estabeleceu acordos que permitiram a reabertura do hospital encerrado há anos? Os doentes de Valdecacos votam laranja!
A grande maioria do povo de Valdecacos é rica? Não, antes pelo contrário, estamos no fundo da tabela! Então além de pobre é mal agradecida? Também não! Mas o consumo regular de pequenas porções da poção mágica, incapacita o povo para perceber o poder do voto, que ao longo dos anos confia àqueles que detêm o caldeirão, e que são capazes de tudo para continuar na sua posse.


PS: A morte de Dom Godofredo Tinto, Visconde dos Possacos, decano dos historiadores do reino e personagem maior destas crónicas, das quais era leitor assíduo e interessado, foi um rude golpe para a família, para os amigos e para o reino de Valdecacos. Espero que lá no céu continue a ler o “Tribuna”, a sorrir com as suas crónicas e a ser fonte de inspiração para as mesmas. Ao céu não chega com certeza o “Negócios” de dom Pires Zás-Trás! Dizem que a sua reportagem sobre a apresentação das candidaturas rosa e laranja foi um primor de isenção e independência! Felizmente só é entendido por meia dúzia dos que estão no poder, pois para decifra-lo é necessário fazer a tal neurocirurgia de que falei na última crónica (tirar metade do cérebro).



Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 29 de Setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O REINO DE VALDECACOS

A rentrée politica está aí, com a proximidade das eleições, festas comícios e cartazes nascem como cogumelos em dias de chuva, inundando as rotundas e encruzilhadas do reino de caras e slogans, mais ou menos bonitas e simpáticas as primeiras e mais ou menos objectivos e conseguidos os segundos.
No partido da bola ao centro, aqui no reino de Valdecacos, temos a inovadora candidatura de Dom Tião Cidade das Neves, Marquês de Puralina, militante centrista de há longos anos e seguidor de vários líderes, com provas dadas nos congressos, algumas com direito a transmissão televisiva. Se a votação que conseguir no reino de Valdecacos for proporcional ao tamanho do cartaz, teremos com certeza um Valdecacos melhorado! O tom azul-bebé do cartaz combina na perfeição com o azul dos olhos do candidato, julgo mesmo que o eleitorado feminino não resistirá a tão charmoso apelo, pelo que poderemos vir a ter uma bela surpresa na votação de Dom Tião. Se as coisas não correrem bem, poderá a breve trecho vir a ser convidado para a lista de deputados laranja às Cortes do condado Portucalense, tal como aconteceu com passados candidatos centristas. Quem sabe por altura do centésimo aniversário de Dona Manuela Azeda o Leite, que já não faltará muito!
O cartaz do partido da rosa, com uma conseguida fotografia da Marquesa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo, apela à mudança de um rumo que já leva 30 anos, mas cuja inércia seguramente muito maior que a motivação, será difícil de inverter. Depois do Marquês das Rias Bajas, Dom Mário Alvarez, que há anos atrás nomeado pelo governo do condado Portucalense para coordenar a saúde de todos o reinos do Alto Tâmega e Marão, ter perdido as eleições em Valdecacos, temos agora a Marquesa da Fradizela, coordenadora da educação nos mesmos reinos, em risco de as perder também. Por que é que pessoas que se destacam a nível regional, e que por conhecido mérito são nomeados pelo governo central, perdem as eleições no reino de Valdecacos? Por que é que nenhum candidato laranja do reino de Valdecacos foi nomeado para algum cargo cujo poder ultrapasse as fronteiras do reino? Depois de muito pensar nesta situação, foi por um mero acaso que vim a descobrir o segredo que leva sistematicamente às vitórias o partido laranja no reino de Valdecacos.
Há cerca de 25 anos, num dia chuvoso e cinzento de Novembro, fui com um amigo a um reino distante comprar uma arma de caça e cartuchos para a dita e também para tiro desportivo. O armeiro, pessoa simpática já com perto de setenta anos, dono duma casa conceituada e com muito negócio, mostrou várias armas e tipos de cartuchos, vendeu o que quis e não o que o meu amigo tencionava comprar, e no fim celebramos o negócio na sua adega, com salpicão, vinho verde e broa de milho. Já com a língua solta pelo verde e por duas garrafas de “Casa do Arco Reserva tinto”, tiradas duma caixa que tínhamos levado para lhe oferecer, o velho armeiro virou-se para mim e confidenciou-me: - sabe meu caro amigo, sempre tive boas armas e bons cartuchos e durante muitos anos pouco ou nada conseguia vender. Os caçadores e atiradores são das raças mais estuporadas que há! Têm a mania que sabem de tudo acerca do “metier” e não sabem nada, mas o que é certo é que eu praticamente não vendia. Até que há cerca de 15 anos, tive um problema gravíssimo de saúde. Apareceu-me um tumor na cabeça e depois de percorrer vários médicos e hospitais, onde se recusaram a tratar-me por me considerarem um caso perdido, consegui que um famoso neurocirurgião no reino de Inglaterra, tivesse a coragem a arte e o engenho para me operar, tirando-me metade do cérebro. Pois a partir daí eu não falho um negócio e os caçadores e eu entendemo-nos às mil maravilhas!
Não encontro melhor explicação para o excelente entendimento entre os políticos laranja e o eleitorado rural do reino de Valdecacos. Não é preciso pensar muito para descobrir os políticos que fizeram operação idêntica!
Por fim o cartaz do partido laranja do reino de Valdecacos, mostra um Dom Xico engravatado ao seu melhor estilo, optando em termos de slogan por uma tirada de arte culinária, tão em voga nos tempos que correm. Já tínhamos o chispe com todos, o bacalhau com todos e o cozido com todos, e agora temos o Mirandum com todos!
Há um ano e meio, na primeira cónica escrita no Tribuna de Valdecacos, dissertava sobre a tentativa de silenciamento do cronista Fernão Chaparuto, orquestrada pelo Dom Milkes Varredor Marquês de Calavinhos, durante o jantar de natal dos escuteiros pago com subsídio do governo. Tive uma resposta algo abespinhada dum senhor Escudeiro C.A., referindo que o subsídio apenas tinha contemplado o bacalhau, mas que tinham levado de casa as batatas os rabos e as couves. Consta-se que no assalto laranja à alcaideria rosa da capital do reino de Valdecacos, desta vez não utilizam um cavaleiro, vai apenas um escudeiro! Será coincidência? Será que vamos ter os lobitos em próximos acampamentos á volta da fogueira, a bater palmas e a cantar “quero cheirar teu bacalhau Dom Milkes!! Quero cheirar teu bacalhau!” Ou será que o povo da capital do reino vai responder a cantar no dia das eleições “ O bacalhau quer alho!”

Errata: onde se lê “tinham levado de casa as batatas os rabos e as couves” deverá ler-se “as batatas as rabas e as couves”.



Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 01 de Setembro de 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O REINO DE VALDECACOS

No condado Portucalense, durante o longo consulado salazarento, todas as forças políticas partidárias foram proibidas, as liberdades individuais foram completamente coarctadas, o direito de reunião e manifestação não existiam, foi criada a censura que passava a pente fino tudo que era escrito, publicado, radiodifundido ou televisionado, e foi ainda criada uma polícia política, a tristemente celebre PIDE, para investigar, prender, torturar ou deportar aqueles raros que apesar de tudo ainda ousavam criticar o regime. A única força política legal, que apoiava o poder chamava-se UN (união nacional), e os seus membros iam desde os ideologicamente fervorosos adeptos dos regimes de direita e fascistas, que vingaram nalguns reinos da Europa nos anos 30 e 40 do século passado, até àqueles que sabiam que a posse do cartão de membro da UN lhes dava acesso privilegiado ao emprego na função pública e nas forças de segurança, assim como a certos privilégios para si e para os seus, na obtenção de casas, férias, subsídios, bolsas de estudo, etc.etc.etc… Organizações como a FNAT (federação nacional para a alegria no trabalho), MP (mocidade portuguesa) e outras serviram durante mais de 40 anos de fachada para este tipo de políticas.
Se algum grupo ou organização, teve a determinação e coragem para lutar contra o regime fascista durante todo este período, foi com certeza o PCP (partido comunista português), que teve um papel único, pleno de gente sacrificada com a clandestinidade, o exílio, a deportação, a prisão e alguns até com a própria vida. Tudo isto foi demasiado importante na história recente da luta pela instauração dum regime democrático no condado Portucalense, para poder vir a ser posto em causa por uma jardinice sem pés nem cabeça!
Aqui no reino de Valdecacos, logo após o 25 de Abril, com medo do general Otelo, de outros revolucionários sulistas e de que alguém se lembrasse de fazer do Campo da Cruz um outro Campo Pequeno, os membros e simpatizantes da UN, depressa trocaram os cartões pelos do partido laranja, de maneira que no verão de 74 já só havia democratas no reino de Valdecacos, os que haviam sido oposição ao antigo regime (poucos) e os que mudaram de cartão (muitos). Assim nasceu a democracia no reino de Valdecacos! As pessoas do poder mudaram de cartão mas não mudaram de mentalidade. Não gostam de partidos, nunca gostaram, até ao seu próprio partido entre eles não o designam por partido laranja, mas por UC (união comensal), só mudaram o nacional para comensal, porque todos aprenderam a comer do FEF (fundo de equilíbrio financeiro), que é o bolo que todos os anos o poder do Terreiro do Paço envia para o reino de Valdecacos.
Se alguém no condado Portucalense, nos tempos do Salazar se manifestasse contra o poder, era apertado pela PIDE poderia ir parar ao Aljube, a Caxias ou ao Tarrafal. Aqui no reino de Valdecacos, 35 anos depois do 25 de Abril, se alguém pertence ou quer fazer uma lista contra o poder laranja, ameaçam-lhe o emprego ou prometem-lhe o emprego à mulher e aos filhos se desistirem, violentam consciências, obrigam-nos inclusive a mudar de cartão!!! O Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum não conseguiu trazer o ensino superior para o reino de Valdecacos, mas conseguiu que o alcaide de Canaveses mudasse de rosa para laranja. Também não conseguiu uma nova ligação ao reino de Vila Mouca, porque andava distraído a convencer o alcaide de Santiago a mudar de rosa para laranja. Em 30 anos não viu que os reinos da Flávia e de Mirandum nos estavam a comer as papas na cabeça, porque o importante era que o alcaide de Lebução mudasse de rosa para laranja. A desertificação que nos atrofia e nos mata, a nós mais que aos reinos vizinhos, passa completamente ao lado do Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, cuja principal função em vez de governar que é para isso que é pago, é correr o reino de lás a lés, pressionando e manipulando alguns incautos, para que não tenham a veleidade de fazer parte de qualquer lista que não seja a UC.
A agricultura do reino e as suas organizações passam por uma crise gravíssima, havendo mesmo o risco de falência de algumas estruturas, mas tudo isso tem passado ao largo dos governantes do reino de Valdecacos, cujas atenções estão focadas na mudança do alcaide de Água Revés de rosa para laranja.
Cabem todos na União Comensal. Viva a União Comensal!! Viva Viva Viva!
Acabo com uma frase do professor Medina Carreira: “ De quem anda a viver da política para tratar da sua vida, não se pode esperar coisa nenhuma. A causa pública exige entrega e desinteresse”.

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 4 de Agosto de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Cá estamos nós de novo em pleno verão, navegando o tormentoso e encapelado mar da crise, cujo fim uns dizem que está para breve e outros insistem que ainda não está à vista. À vista e oficialmente confirmada está a sétima candidatura do Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum ao governo do reino de Valdecacos, que por imperativo de ordem legal será o último mandato, tornando-o por isso diferente e provavelmente complicado de gerir. Se na primeira metade do próximo mandato, as politicas irão decorrer com aquela normalidade a que estamos habituados, nos últimos dois anos iremos assistir às movimentações dos candidatos à sucessão, tanto dos que o acompanham no elenco do governo, como dos que cá fora aguardam ansiosamente esse momento. Poderemos vir a assistir ao espectáculo triste e deprimente de um líder em fim de carreira, que pensa que manda e já não manda, porque os “cabos eleitorais” e os executores intermédios do poder, com a esperteza saloia que os caracteriza, irão bajular e oferecer os préstimos àqueles que em sua opinião terão mais hipóteses de assumir a próxima liderança.
Estou-me a lembrar dos últimos anos do longo consulado do Barão de Santa Comba Dom António Salazar, após a fatídica queda da cadeira! Apesar de já completamente afastado do poder, o homem das botas continuava a presidir ao conselho de ministros que ficticiamente com ele reunia na residência de São Bento! Será que iremos assistir a algo parecido aqui no reino de Valdecacos? Dom Xico Mirandum vai com certeza ter um último mandato difícil, sempre que se sentar vai ter que inspeccionar cuidadosamente a cadeira, pois poderá estar sabotada! Como diria o governador do reino do Marão Dom Alexandrino Flávia “cuidado Xiquinho!! Abre-me bem esses olhos!!”
È evidente que muita água passará debaixo das pontes antes de ser escolhido o sucessor de Dom Xico Mirandum pela comissão política laranja, mas que vai ser um espectáculo digno de se ver, lá isso vai! Dos históricos aos jovens turcos, dos alinhados aos contestatários, todos se julgam no direito de ser, todos se irão movimentar e procurar apoios, mas se a história se repetir poderá aparecer um jovem licenciado duma qualquer aldeia das mais recônditas do reino, para desespero da nomenclatura laranja.
Parafraseando o abade local, que diz que na terra dele é preciso por os nomes aos bois, aqui vão alguns candidatos e candidatos a candidatos!
O visconde de Argemil Dom Gualteriano Peixeira, não vai perder a oportunidade de mais uma vez movimentar as suas hostes. O visconde de Valverde Dom Vitinho Corócócó, há trinta anos que sonha com isso. O visconde dos Cossacos e Marquês de Tirapicos Dom Pernache da Lousa, sempre se afirmou com um perfil adequado para o cargo. O Duque de Vassal Dom Mangusto Perdigão das Neves, tem curriculum e tem linhagem, poderá vir a ser uma solução de recurso. O filho Del Rei Dom João VI, outsider perdedor nos últimos trinta anos quer dar a volta à situação. O homem da Fundação Oriente Dom Staneloy Ho, perito em engenharia financeira, é apontado por alguns como um possível salvador da pátria! Já com o cognome de “Excelência”, poderá vir terminar aqui a sua carreira, rodeado de salamaleques. O genro do Marquês de Vila do Pêlo Dom Tetantero, que além do fortíssimo apoio do sogro, deu agora um importante passo para poder vir a ter uma candidatura ganhadora, que foi abandonar a sua residência no reino de Valdecacos e ir morar para o reino da Flávia. (È convicção geral que residir fora do reino aumenta as chances para uma candidatura ganhadora. Porque será?) O irmão de Dom Caím Conde do Cutelo Melhor, ao contrário do que muita gente pensa, não é ainda uma carta fora do baralho, contando com o apoio incondicional e com a ratonice do presidente das Cortes Dom Juanito de la Bisabuela. O Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor, que fez parte do último elenco governativo e provavelmente fará parte do próximo, tem tanta vontade de ser, que não dá ponto sem nó no trabalho que desenvolve em prol da sua candidatura. Por fim não nos podemos esquecer que o Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, poderá pensar e com alguma razão, que nenhum dos candidatos a candidatos tem as qualidades necessárias para continuar o trabalho por ele executado ao longo por mais de três décadas, e que o reino de Valdecacos necessitará duma candidatura jovem e feminina para conduzir o seu destino, declarando-lhe o seu apoio num autêntico golpe palaciano que deixará toda a gente de boca aberta!

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 7 de Julho de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

O REINO DE VALDECACOS

O calor chegou de repente ao reino de Valdecacos, hoje quando saí de casa de manhã cedo, a temperatura ultrapassava os 30º centígrados, as jovens e algumas menos jovens mulheres do reino já saem à rua de t-shirt cavada e saia curta, tornando um pouco mais atractivas as desérticas esplanadas da capital de Valdecacos.
Em ano de eleições, a temperatura politica também tem subido exponencialmente, e na grande maioria dos dias ultrapassa mesmo a ambiental, tornando o ar praticamente irrespirável.
As eleições europeias estão à porta, estou a escrever no final da primeira semana de campanha, com todas as candidaturas a desdobrarem-se no contacto com a populaça, procurando cativar o maior número possível de votos e fazer destes resultados uma espécie de trampolim para os actos eleitorais que se seguem.
Os rosas foram buscar para encabeçar a lista de candidatos o Visconde de Coimbra Dom Vital Palreira, do ramo inteligente da família Palreira, há longos anos radicada na região centro do condado Portucalense. Professor universitário, constitucionalista famoso, oriundo da área política do PCP de onde se afastou já há bastantes anos, encontra-se a meu ver algo enferrujado em termos campanhisticos, tendo cometido algumas gafes, foi vítima de alguma violência verbal e física na manifestação da CGTP, e vendo os laranjas aproximarem-se perigosamente nas sondagens, disse à boca cheia aquilo que toda a gente vem comentando à boca pequena, o que é a promiscuidade entre figuras gradas do partido laranja e o caso BPN. Se as crianças até aos seis anos pudessem votar, Dom Vital Palreira ganhava de certeza, pois quando aparece na televisão a ganapada diz logo que é o “Avô Cantigas”.
Contra a opinião da maioria dos membros da comissão política nacional que apostavam no Gandanoia, a presidente dos laranjas Dona Manuela Azeda o Leite impôs o líder do seu grupo parlamentar, o Visconde de Paranhos Dom Paulo Tonel. Cavalgando a onda de descontentamento provocada pela crise mundial que nos afecta, aproveitando todas as oportunidades para massacrar o governo, não parece preocupado com as bocas sobre a necessidade de maior ou menor ingestão de farinha maizena.
As candidaturas comunista e bloquista são mais do mesmo. Ambos os cabeças de lista são já repetentes, os discursos de Dona Hilda Mete Medo e Dom Miguel Tortas são o repositório das ideias que os ainda deputados comunista e da esquerda radical defendem no parlamento europeu, e que bem esmiuçadas e no fundo reflectem um pensamento anti-europeísta que sempre norteou a esquerda conservadora e monolítica assim como a esquerda radical do condado Portucalense.
Os azuis da bola ao centro, embora em último lugar nas sondagens, apesar do contínuo rodopio pelas feiras e romarias de Dom Paulo Tortas, tem como cabeça de lista o dinâmico Marquês de Famalicão Dom Nuno Guedelho, que tem tido um papel determinante na comissão parlamentar de inquérito ao caso BPN.
Aqui há dias li um artigo numa revista de referência, que as despesas burocráticas, ou seja de funcionamento da comissão europeia, desde há quatro anos presidida pelo nosso ilustre Barão do Lila Dom Furão Barroso, custa aos contribuintes europeus a módica quantia de trezentos milhões de euros por dia! Leram bem? Isto não tem nada a ver com subsídios ou fundos de desenvolvimento, são apenas custos com os ordenados de deputados, comissários, assessores, tradutores, funcionários, instalações, água, electricidade, papel higiénico, etc…etc…etc. Trezentos milhões de euros por dia!!!
Apesar dos lancinantes apelos ao voto, as eleições europeias têm-se caracterizado por elevadíssimas taxas de abstenção. Nas últimas eleições europeias em 2004 em todo o condado Portucalense a abstenção foi de 61.2%. No distrito de Vila Real foi de 66.26%. No reino de Valdecacos a abstenção foi de 71.35%. Tivemos no entanto duas notáveis excepções, que mostram que há gente que se preocupa com o futuro da Europa e que tem uma noção de participação cívica completamente diferente do que se passa no resto do reino e do país. Estou a referir-me à alcaideria de Barrentos que acorreu em massa às urnas e teve uma abstenção de apenas 22.39%, e da alcaideria de Tirapicos cuja abstenção foi apenas de 37.92%. Todos estes números foram tirados do STAPE, onde podem ser vistos por todos na internet, servindo para mostrar que aqui no reino de Valdecacos há pelo menos duas alcaiderias, que apesar de pequenas e habitadas essencialmente por gente muito idosa, mostraram ao reino e a todo o país que aqui há quem se preocupe com o futuro e a construção da União Europeia. Escusado será dizer qual foi o partido que ganhou em ambas as alcaiderias, com mais de 80% de votos numa e 94% noutra, embora a nível nacional o mesmo partido tenha perdido com apenas 33.26%. Palavras para quê? Que tipo de comentários se podem fazer perante uma situação destas?



PS: Chegou de mansinho e partiu sem barulho. Tratou da boca e dos dentes a muitos de nós. Foi o primeiro dentista do reino na verdadeira acepção da palavra. Era um homem bom, amigo do seu amigo, excelente parceiro em noites de boémia. De seu nome completo José Manuel. Todos o conhecíamos por Massano. Que Deus o acompanhe.

Publicado no jornal "Tribuna Valpacense", em 09 de Junho de 2009
Até Breve

domingo, 31 de maio de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Alguém ainda se lembra do restaurante “O Pomar” e do complexo em que estava integrado com piscina, court de ténis, etc.? Ainda se lembram do chefe Pimenta que trouxe inovação e qualidade à cozinha do reino de Valdecacos, do seu famoso cabritinho assado, do suculento bife à Pomar servido na tábua, dos tenros tornedós de vitela? Ainda se lembram da quantidade de pessoas que durante a semana, mas principalmente aos sábados e domingos, vinham de fora, dos reinos vizinhos, mas também do litoral comer aqui? O que é que aconteceu? Porque é que o Pomar continua fechado e a degradar-se? Quem é que empurrou o chefe Pimenta para o reino da Porca? Porque é que ele saiu de cá? Prometeram-lhe alguma coisa? Ou não? E se prometeram cumpriram?
Lembram-se do restaurante do “Hotel”? Quanto tempo funcionou? Era um sítio simpático, com um certo requinte, comida saborosa, cozinha regional, pratos típicos. Um completo desastre financeiro e familiar para quem o explorou! Está fechado e recomenda-se!
Lembram-se do restaurante “Toronto”? Familiar, boa amesendação, cozinha portuguesa e internacional, ou não fossem os donos emigrantes ligados à restauração. Não conseguiu angariar fama além fronteiras, mas ia dando conta do recado a nível local. Vá-se lá saber porque mala-pata, fechou e recomenda-se!
E o “Central”? Que além de café também foi restaurante, salão de jogos e jogatina, de pregos no pão e pasteis ao domingo. Está fechado e não se recomenda, por causa de uma história explosiva que misturava meninas com roupa a menos e álcool a mais, noitadas, barulho e residência paroquial.
Lembram-se da discoteca “EN 213”? Quantos de nós na nossa juventude lá pularam até de madrugada ao som dos Led Zepplin? Está fechada e recomenda-se!
Lembram-se da discoteca “Guedes”? Que abriu cheia de inovações e modernices, com dois bares e grande capacidade. Aos fins-de-semana vinha gente de reinos vizinhos para se divertirem no reino de Valdecacos, o estacionamento nas imediações tornava-se complicado. Agora abre apenas duas ou três vezes por ano, para arejar e sem grande sucesso.
Lembram-se da “Garagem Valpacense”? Do Visconde de Godim Dom António Tinteiro, oriundo do reino da Régua, casou com uma das filhas de Dom Gregório de Valdecacos, domo da melhor hospedaria do reino. Fiat, Renault, Austin, Morris, Citroen, Volvo, tudo lá tinha assistência. Está fechada e transformada num depósito de gás!!
Lembram-se da garagem “213” um pouco mais abaixo na saída para o reino de Mirandum? Dois jovens irmãos da terra do Visconde de Valverde Dom Vitinho Córócoco, investiram dinheiro ganho com sacrifício no reino de França. Está fechada e vende-se. Eles tiveram que ir embora novamente para governarem a vida ao contrário do conterrâneo.
Lembram-se da garagem do Barão do Largo da Freiras Dom Tó Rural? Eram médicos, engenheiros, presidentes da junta e outros, bombeiros, camaristas, tudo lá era cliente! Está fechada vende-se ou aluga-se.
Aqui há dias, alguém me contou que os detentores dos cem melhores ordenados ou vencimentos do reino de Valdecacos, sejam eles do tribunal, da câmara, finanças, centro de saúde, escolas primárias e secundárias, hospital, bancos etc, estão aqui das nove às cinco nos dias da semana, desaparecendo à sexta, para regressarem à segunda com má cara. Ainda se admiram que tudo feche?


Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 12 de Maio de 2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Vejo-as praticamente todos os dias da semana, excepto aos sábados e domingos. Aqui na capital do reino serão uma dúzia de valquírias, talvez mais, talvez menos, que ao princípio da manhã e da tarde se juntam no passeio de fronte das instalações onde frequentam os chamados cursos da C.E.E.
A designação da União Europeia já há muito que mudou, mas os cursos que desde há mais de vinte e cinco anos têm sido ministrados nalgumas localidades do reino, continuam a ser os cursos da C.E.E. Fizeram-se cursos para tudo ao longo destes anos, e na grande maioria das vezes completamente desinseridos da realidade sociocultural e económica do reino de Valdecacos.
Já alguém fez um balanço ao dinheiro que tem sido (mal) gasto com esta pseudo formação? Já alguém fez contas à taxa de inserção dos formandos no mercado de trabalho? Já alguém contabilizou as microempresas, criadas por formandos com conhecimentos adquiridos nesses cursos? Já alguém se debruçou sobre quem anda a lucrar com isto? Já alguém contabilizou num reino desertificado como o nosso, o que significa retirar vinte ou trinta pessoas do mercado de trabalho? Já alguém reparou que andam por aí algumas que são autênticas papa-cursos? Que estão em todos!! Que devem ser as alunas com maior taxa de formação de toda a União Europeia?! E para quê?
O Barão de Ferreiros Dom Xico Mirandum, com os conhecimentos experiência adquiridos nos últimos vinte e cinco anos, prepara calmamente o último acto eleitoral, em que será candidato ao governo do reino de Valdecacos. Não se me afigura que vá haver grandes mudanças no elenco do governo e nas alcaiderias do reino. A excepção é como não poderia deixar de ser a alcaideria da capital, onde é sempre difícil encontrar alguém que se queira sacrificar, numa luta eleitoral complicada perante um eleitorado mais esclarecido. É evidente que a troco de promessas e algumas pressões sempre aparecerá um candidato, mas a história tem revelado que ir atrás da popularidade fácil não é o melhor caminho, muito menos ir buscar candidatos a áreas políticas que nada têm a ver com o poder laranja que nos governa desde a revolução de Abril.
Estou-me a lembrar das eleições ganhas pelo ex-alcaide Dom Lapalino Del Sardon contra o Visconde da Girândola Dom Luís Marujo e contra o Visconde de Valverde Dom Lelo Carolo. O mesmo se passou nas eleições ganhas pelo Marquês de Piscaneto Dom Zé Generoso quando derrotou o irmão de Dom Caim Conde do Cutelo Melhor, e também o Visconde do Caneco Dom Desventurado Zé. Vamos ver desta vez qual é o coelho que o mágico vai tirar da cartola!
A famosa lei das quotas aprovada nas cortes do condado Portucalense, procura trazer mulheres à política, situação com a qual estou completamente de acordo, embora e infelizmente, no nosso reino o poder macho continue a ser completamente dominante. Talvez por isso a inovadora candidatura protagonizada há quatro anos pela Marquesa da Fradizela Dona Suprema Bonçalo, tenho sido algo penalizada.
Se em relação aos cursos da C.E.E falei em valquírias, agora por causa das quotas e da “entourage” feminina que rodeia o chefe do governo Dom Xico Mirandum, vou referir-me às balzaquianas. A Marquesa de Campo D’égua Dona Carmensita Tramas deverá subir na hierarquia do governo, indo ocupar provavelmente o terceiro posto logo a seguir ao Visconde de Celeirós Dom Toninho Castanheiros. Quem tem sido nomeada para vários cargos na sociedade civil por indicação de Dom Xico Mirandum é a Viscondessa de Fornos, Dona São Descalça. Nos últimos tempos sempre que é preciso indicar um nome para dar a cara por qualquer organismo ou evento, Dom Xico Mirandum sentencia: - a Dona São Descalça! Dizem o “mentideros” locais, que com todo este apoio é caso para se dizer que a Viscondessa de Fornos Dona São Descalça está bem calçada.


Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 14 de Abril de 2009

terça-feira, 31 de março de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Quem iria imaginar que quase 50 anos depois do Barão de Santa Comba Dão ter dito a celebre frase “Angola: para a frente e em força”, dando reposta aos acontecimentos que em 1961 davam inicio à guerra de libertação, que mais tarde se estenderia a outros territórios africanos, a frase voltasse a ter significado embora num contexto totalmente diferente! São às dezenas senão mesmo às centenas, os habitantes do reino de Valdecacos que procuram de novo nas savanas africanas de Cabinda ao Cunene, com o seu trabalho o seu esforço, a sua capacidade criativa, vencer na vida, ganhar sustento para si e para os seus, ajudando ao mesmo tempo ao desenvolvimento daquelas terras e daquelas gentes.
Electricistas, torneiros, agricultores, engenheiros, mecânicos, economistas, que por aqui viam a vida andar para trás, partiram com o espírito de aventura que nos caracteriza, aliciados por histórias de negócios e ordenados que aqui não passam de uma miragem. Oxalá tenham sorte e consigam realizar os sonhos que os levaram a partir…
Embora muitos fiquem por referir, não posso deixar de enviar um forte abraço através do (www.chaparuto.blogspot.com), ao Dom Hugo, filho do Marquês da Fronteira Dom Corleone de la Mancha, assim como ao Dom Paulo, filho do Visconde de Montenegro Dom João Pandego, ao Dom Carlitos, filho do Visconde de Santa Maria Dom Assediado (responsável pela carta de chamada de muita desta gente), ao Marquês de Alta Voltagem Dom Toni de França, ao Barão de Riberalves Dom Comprido Nunes, ao primo do Marquês dos Colmeais Dom Filipe Pratumba (da família dos Pratumbas, com grande influência nas terras que vão do Cuíto ao Cuando-Cubando). Não posso deixar de referir um homem também ligado ao reino de Valdecacos e que já há alguns anos ocupa posição privilegiada na sociedade angolana, trata-se dum exímio negociante e um dos maiores especialistas mundiais em bebidas espirituosas, que durante vários anos esteve à frente da direcção técnica da vinícola de Valdecacos. Trata-se como já deveis ter percebido do Conde do Bangassumo Dom A.J.Péréré.
Também se chegou a constar que o Visconde do Caneco Dom Desventurado Zé, estaria de malas aviadas para partir, (tal como o emigrante da rotunda), mas depois dum aturado estudo de mercado, reconheceu que o negócio do azeite é mais certo que o do óleo de dem-dem.
Foi com pompa e circunstância que decorreu a curta visita do presidente do reino de Angola, Dom Zédu para os amigos, ao condado Portucalense. Numa altura em que os países desenvolvidos estão com as suas economias em recessão, Angola cresce quase dez por cento ao ano, tornando-se num mercado apetecível para os nossos produtos, para as nossas empresas, e sobretudo para dar trabalho a milhares de jovens com alguma diferenciação técnica. Sem falsos paternalismos ou mentalidades neo-coloniais, mas com parcerias justas e mutuas vantagens, teremos de novo um longo e profícuo caminho pela frente, do qual o reino de Valdecacos poderá vir a beneficiar. Já lá temos excelentes embaixadores!
Gostei de ver a primeira-dama de Angola! Jovem, bonita, elegante, requintadamente vestida! Tem seguramente menos de metade da idade do Zédu. Se fosse cá, dir-se-ia que “burro velho gosta de pasto tenro”! Como lá não há burros e o pasto se chama capim, poderemos concluir que “leão velho gosta de gazela nova”.


P.S: O que é que pode levar um jovem de dezassete anos a pegar numa arma, entrar numa escola que já frequentou e assassinar friamente dezasseis pessoas? Não foi no Iraque nem do Darfur nem no Afeganistão ou no Paquistão! Foi aqui ao lado no reino da Alemanha! Tal como dizia um cartaz afixado na escola após o trágico acontecimento, também eu me pergunto: “onde estavas tu Deus para permitires que uma coisa destas aconteça”?


Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense", em 17 de Março de 2009

terça-feira, 3 de março de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Em tempos que já lá vão, quando numa crónica vos tentei explicar as origens do reino de Valdecacos e a raiz etimológica da palavra, que resultou da junção dos nomes Balde e Cacos, que foram os dois povos que inicialmente povoaram estas terras, obriguei os três historiadores oficiais do reino a efectuarem um desenfreado trabalho de pesquisa nos catrapázios da Torre do Tombo. O Barão do Tanque Novo Dom Jota Xitunda, com os óculos na ponta do nariz, por entre espirros provocados pela poeira acumulada nos velhos livros, nem queria acreditar que no meio dos Celtas, Suevos, Vandalos, Iberos, e Lusitanos, lá estavam os Baldes e os Cacos. Conferenciou durante várias tardes com o Morgado de São Francisco Dom Catalone El Bone à acerca do assunto e ainda chamaram à liça o decano dos historiadores Dom Godofredo Tinto, Marquês dos Possacos, que trouxe alguns alfarrábios encontrados no sótão do Solar dos Pimenteis, onde encontraram várias citações que corroboram esta teoria.
Vem tudo isto a propósito da situação a que chegou este desditoso reino! O que existe agora, tem tão pouco a ver com o que existia quando no século passado comecei a escrever estas crónicas, que estou a pensar seriamente em enviar um requerimento às Cortes do reino de Valdecacos, para que numa próxima assembleia e com a pompa e circunstâncias exigidas, em acto solene e perante as forças vivas da terra, o nome de Valdecacos seja substituído por Vendessapos. Evidentemente que há uma explicação para isto! Mesmo aqueles que não são barras na língua de Camões, sabem que a junção da palavra vende com a palavra sapos resulta em Vendessapos. Ora por todo o reino, de acordo com o gabinete de estatística do governo de Dom Xico Mirandum, existem 13486 placas com a palavra “VENDE-SE”, isto no dia 31 de Dezembro do ano da graça de 2008 que agora já devem ser bem mais.
Por outro lado, devido à forte emigração que ultimamente se tem sentido, a inauguração do monumento ao emigrante parece que incentivou as pessoas a seguirem-lhe o exemplo, levou quase todos o jovens e menos jovens mas ainda com alguma capacidade de trabalho e discernimento, a fugirem a sete pés para bem longe desta malfadada terra. Os poucos que ficaram quase todos com braços e pernas fininhos, pouco aptos para o trabalho, mas com a barriga muito proeminente, não sabemos se gorda se inchada, parecem batráquios, que o povo designa por sapos, que passam a vida a coaxar lamúrias, arrastando-se de charco em charco, à espera de algum subsídio. Quanto mais alto coaxam mais probabilidades têm de obter o subsídio. Imaginai agora o barulho que dia e noite se ouve ali para os lados do jardim…
Antigamente na capital do reino só havia um sapo cocas, agora são às centenas, mas ao contrário do sapo ADSL não vivem a assapar, mas rastejam em peregrinação entre o jardim e o gabinete do chefe do governo, subindo e descendo as escadas aos saltinhos coaxando por subsídios. Não quero terminar esta crónica sem prestar homenagem à memória dum bom homem prematuramente desaparecido. Trata-se do Visconde das Lagoas Dom Hélder Tormento, oficial de justiça do Rei, amigo da noite e da boémia, que em madrugadas de tertúlia quando a conversa puxava ao sentimento motivado pelas agruras da vida e pela incompreensão dos conterrâneos tratava o terra por Valdessapos.
A inspiração para esta crónica devo-lha a ele. Que descanse em paz.



PS: Os rigores do inverno que este ano se tem feito sentir, têm quota-parte de responsabilidade na mortandade que nos últimos meses grassa no reino. Os velhos e alguns novos caem como tordos! Em ano de eleições, os detentores do poder não falham um funeral, onde se apresentam com caras circunspectas, distribuindo e recebendo cumprimentos como se a campanha eleitoral já estivesse em marcha. É preciso assegurar o voto dos vivos que o dos mortos é certo…



Até Breve
Publicado no jornal"Tribuna Valpacense" em 17 de Fevereiro de 2009

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Os seres humanos deslocam-se de sul para norte, de leste para oeste, de reino para reino, em busca de pão e de um futuro melhor.
O sítio onde nascem não passa duma fatalidade e quando crescem e começam a tomar consciência do que os rodeia, verificam que só a alguns deles parece permitido o direito a viver. Alguns conformam-se, inclinam-se perante poderes e conceitos enraizados há milénios, continuam submissos humildes e resignados, desde que nascem até que morrem, olhando pacientemente a vida que levam os ricos e poderosos e que para eles será sempre algo de inatingível…
Outros porém não se resignam com esta facilidade, quando entendem que a terra em que nasceram e lhes ensinaram a amar, é mãe apenas para uma pequena minoria e madrasta para os restantes. Por isso partem, emigram, atravessam rios montanhas e oceanos, vão de continente em continente, em busca do seu pão. Gente pobre e inculta, mas corajosa e determinada, sujeitou-se a todas as vicissitudes, trabalhando de sol a sol, comendo o pão que o diabo amassou, para um dia poder saborear os frutos do conforto e da qualidade de vida, que outros homens colhem às mãos cheias sem esforço de maior.
O condado Portucalense e todos os seus reinos, Valdecacos inclusive, viram o fenómeno da emigração levar os seus filhos, e ao contrário do que vi escrito por um velho cronista deste reino, a propósito do recém inaugurado monumento ao emigrante a palavra por ele utilizada de povoamento, relacionada com a emigração, é completamente despropositada! Despovoamento é a palavra correcta.
Houve várias fases e diversos destinos do problema da emigração que assolou o reino de Valdecacos. Em fins do sec. XIX e princípios do sec. XX, o reino do Brasil foi a principal meta. Nos anos trinta e quarenta do século passado foi a emigração organizada pelo Estado Novo para as ex. colónias de Angola e Moçambique, com a implementação dos colonatos da Cela e do Limpopo respectivamente. Mas foi essencialmente nos fins da década de cinquenta e nas décadas de sessenta setenta que se deu a grande emigração “a salto” para o reino da França sobretudo, mas também para a Alemanha, Suíça, Luxemburgo, e.t.c.
Na principal rotunda do reino de Valdecacos (assim classificada por Dom Pires Zás Trás, que também sugere seja chamada rotunda do emigrante) foi inaugurado um monumento escultórico de homenagem ao emigrante, composto por um homem que com determinação parte em busca duma vida melhor, trilhando os longos e sinuosos caminhos da emigração (representados pelas vigas de ferro), e uma mulher com duas crianças, que aguardam ansiosamente e com imensa saudade o seu regresso. Esta é a leitura que eu faço do conjunto e julgo que não andarei longo daquilo que o artista nos quis transmitir.
Como todas as obras de arte, esta também tem suscitado as mais diversas opiniões, acerca do conteúdo, da forma, e da localização. Este deve ser com certeza o centésimo monumento ao emigrante que é inaugurado, só no norte do país, já não falo no centro nem no sul. Se é que a minha opinião vos interessa para alguma coisa, devo dizer-vos que o monumento no seu todo em termos de obra de arte me agrada. Já o mesmo não digo em relação à localização que não me parece a mais adequada em termos de espaço e enquadramento para aquele tipo de escultura.
O reino de Valdecacos já tem um monumento ao emigrante!!! Tal como outras obras, estradas, pavilhões, e.t.c., concebidas e planeadas no já longo consulado de Dom Xico Mirandum, chegou com vinte anos de atraso, imitando nem sempre da melhor maneira aquilo que há muito se faz noutros reinos, não há uma ideia nova, um rasgo de inteligência, algo que nos diferencie no bom sentido.
As individualidades do costume juntaram-se para assistir à cerimónia de inauguração, que foi presidida pelo Governador Civil do reino do Marão, Dom Tótó São Martinho. Os presidentes dos governos do reino da Flávia e de Monte Triste também marcaram presença. A falta do Visconde de Valverde Dom Vitinho Córócócó e da Marquesa de Campo D’egua Dona Carmensita Tramas, quase passou despercebida. Pelo contrário o Marquês de Calavinhos Dom Milkes Varredor está em todas e sempre em bicos de pés… Alguns alcaides e deputados às cortes marcaram presença, na esperança dum lanchesito que afinal não aconteceu. Em lugar destacado estiveram o Visconde da Noruega Dom Abilio Morcão (grande abastecedor da despensa dos emigrantes nos tempos das divisas fortes), e Dom Correo Arrepiado (provavelmente em representação da Confraria, que toma conta dos ex-emigrantes, quando gastos, cansados e decrépitos, não têm quem lhes chegue uma malga de caldo). Surpreendeu-me ver o Marquês do Pereiro dom Alfonso de La Niña, homem pouco dado a este tipo de manifestações e com discurso social que não se coaduna com os milhares de euros gastos numa obra de arte, em tempos de crise como o que vivemos! Talvez quisesse agradecer a preferência que os emigrantes vêm demonstrando ao longo dos anos em consultá-lo no mês de Agosto.


P.S: Já por duas ou três vezes pela calada da noite, alguém colocou uma mala ao lado da figura do emigrante. Mistério!! Vários significados quiseram atribuir ao facto. Imensas conjecturas se fizeram. Afinal tratou-se apenas duma singela homenagem ao presidente das cortes do reino de Valdecacos, Dom Juanito de La Bisabuela, que em tempos que já lá vão, algumas vezes teve de emigrar de noite com a mala na mão.

Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 20 de Janeiro de 2009

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O REINO DE VALDECACOS

Como se a crise financeira que abalou e abala o mundo não bastasse, com o mercado bolsista a perder biliões, empresas em grandes dificuldades com o consequente espectro do desemprego e com este, todos os problemas de ordem social que o acompanham, insegurança, assaltos, fome, miséria, e por aí fora. Como se tudo isto não chegasse, somos todos os dias brindados com escândalos que atingem pessoas e instituições que nós considerávamos acima de qualquer suspeita.
O Marquês de Wall Street Dom Bernardo Madoff, ex-presidente do Nasdaq, a bolsa onde se agrupam as maiores empresas tecnológicas da América e do mundo inteiro, considerado um guru da alta finança mundial, não passava afinal duma dona Branca com o colarinho da mesma cor, conseguiu angariar dinheiro em todo o mundo e deixou um buraco de 50 000 milhões de dólares.
No Condado Portucalense, instituições respeitáveis como o BCP, cujos administradores pagos a peso de ouro (entre 2002 e 2008 a administração recebeu em média entre ordenado e prémios cerca de 160 milhões de euros por ano), como se isso não bastasse e apesar de toda a respeitabilidade que mostram ao povo, quando entram e saem das reuniões com aquele ar majestoso e imperturbável, para se sentarem no banco de trás de um BMW série 7 ou num Mercedes classe S, quando aparecem em chás de caridade normalmente transmitidos pela televisão, acompanhados por anafadas esposas embrulhadas em visons e a tresandar a chanel nº 5, quando ao domingo cumprem a obrigação da missa na primeira fila, quase sempre em catedral e em cerimonia dita por bispo ou cardeal, apesar de tudo isso, digo eu, gravíssimas irregularidades foram detectadas, havendo investigações em curso por parte do banco central, da judiciária e do ministério publico. Tudo isto porquê? O que leva pessoas que já não conseguem gastar aquilo que têm de podres de ricas que são, a comportar-se desta maneira?
O homem forte do BPN está preso! Deixou o banco num estado tal, que teve de ser nacionalizado para evitar males maiores. Ex-secretário de estado de um dos governos do Barão de Boliqueime Dom Regressado Silva, envolveu nos negócios alguns companheiros da política, o mais mediático dos quais é o Visconde de Coimbra Dom Dias Matreiro, cujo enriquecimento exponencial desde que saiu da política, deixou os portugueses com a boca aberta de espanto! A sua proximidade com o actual presidente do condado Portucalense, pelo qual foi convidado para conselheiro de estado, tem provocado imensas especulações e levou mesmo à emissão de alguns comunicados e desmentidos. O “cavaquismo” período histórico do condado Portucalense, que decorreu entre 1985 e 1995, tem vindo à baila ultimamente e nem sempre pelas melhores razões, motivado por comportamentos que alguns dos actores principais da época têm tido.
Salvo as devidas distâncias, não resisto em encontrar um certo paralelismo entre o que escrevi acima e o que se passa no reino de Valdecacos. O povo (depositantes e pequenos accionistas) viu o seu património completamente desvalorizado e está de tanga. Os administradores (governantes) somam e seguem de vento em popa, rumo ao eldorado duma reforma sem sobressaltos.
Há trinta e quatro anos fez-se uma revolução no condado Portucalense, que acabou com uma ditadura obsoleta, que mantinha uma guerra sem solução à vista e nos isolava da comunidade internacional. Muita coisa melhorou desde então, a guerra acabou, a liberdade de expressão é uma realidade (embora por vezes ainda existam tiques censórios nalguns governantes). Quanto a privilégios, alguns acabaram é certo mas outros se foram instalando, então aqui no reino de Valdecacos em que o poder é mono color desde a revolução de 1974, algumas fortunas se fizeram, muitas vidas se arranjaram, muitos cargos se ocuparam, mas todos tinham um denominador comum, a cor laranja. Estes foram os que no reino de Valdecacos verdadeiramente lucraram com o 25 de Abril. Não consta que qualquer deles tivesse no passado desenvolvido qualquer actividade anti-fascista ou oposicionista, por pequena que fosse. Antes pelo contrário…


Até Breve
Publicado no jornal "Tribuna Valpacense" em 23 de dezembro de 2008